Theresa Catharina de Góes Campos

  ESPAÇO MÍNIMO POR QUÊ?

Ainda que eu reconheça a competência de quem escreve e realiza obras de arte com simplicidade e precisão, trabalhando eficientemente para burilar o que faz, descartando o que não lhe interessa, outros há... que pensam e agem com objetivos diversos: amam brincar literariamente com muitas palavras, sem esquecer de aperfeiçoar as frases e utilizar um rico vocabulário, descartando menos, organizando mais, num jogo artístico de sons e rimas, pontuações intencionais; ou criando obras artísticas em que se esmeram nos traços, cores e aprofundam os temas escolhidos, buscando a originalidade e reagindo contra limitações e regras que inibem a criatividade.
 
Os artigos de autores que obedecem à formatação exigida pelos jornais dos quais são colunistas, para uso do espaço mínimo a eles reservados, refletem o poder de quem transmite essas ordens de caráter autoritário. Quem obedece demonstra disciplina, mostra competência, concordo. Sabemos, porém, que a sua bagagem cultural abrange uma vasta experiência, literária e humana. No entanto, sem o mínimo de liberdade para dispor com flexibilidade do espaço que precisariam ocupar no meio de comunicação, perdem a oportunidade de cumprir um aspecto fundamental de sua missão como escribas: enriquecer o leitor, fazê-lo crescer pela leitura; argumentar até com repetição e redundâncias, se necessário for, visando levá-lo a refletir com pensamento crítico, ampliar seu horizonte de compreensão, conscientizá-lo em profundidade.

Textos jornalísticos e literários, como os editoriais e crônicas, não podem ser confundidos com manuais técnicos, em sua linguagem uniformizada. São gêneros diferentes, também, de notícias e reportagens, com os seus princípios de objetividade e clareza na apresentação das informações básicas.

Obedecer às regras gramaticais, sim. Mas vestir uma camisa de força por determinação dos meios de comunicação, dominados por interesses comerciais e financeiros, seria ético?

E a beleza, a estética do estilo, os sinais da individualidade criadora e filosófica, não deveriam ser incentivados?

Artistas como Van Gogh e Mozart criaram obras de características pessoais marcantes, apesar de ignoradas ou desaprovadas pelos críticos de sua época. Quem se lembra hoje dos que desmereceram, negaram elogios àquelas pinturas inovadoras e às composições musicais que encantam ouvidos e nossas almas?
 
Voltando às imposições dos jornais a seus colunistas, não lhes concedendo um espaço maior para exercerem seu ofício e sua arte...Esses impressos são os mesmos que, todos os dias, concedem o máximo de espaço a matérias e fotos desmerecedoras de qualquer atenção: verdadeiro lixo intelectual e moral, um veneno para impedir a formação da cidadania; superficialidades mil, calúnias e mentiras disfarçadas como informações; além de inúmeras, injustificáveis omissões...Para encontrarmos nas páginas dos periódicos algo valioso, precisamos garimpar e continuar garimpando com tenacidade incansável!

Que autoridade moral teriam, esses editores, para se omitirem ainda mais, censurando dessa forma, negligenciando e limitando as colaborações inteligentes de seus colunistas?

Melhor recordar o exemplo clássico de Antígona, a heroína que ignorou ordens injustas, e por conseguinte, sem ética. Porque ordens desse tipo devem ser transgredidas...se o rebelde está consciente e disposto a pagar o preço alto por sua escolha.

Theresa Catharina de Góes Campos
Brasília-DF, 1º de fevereiro de 2011

De: REYNALDO FERREIRA
Data: 2 de fevereiro de 2011 06:55
Assunto: RE: Espaço mínimo por quê?
Para: theresa.files


Parabéns, Theresa Catharina.Mais uma vez e como sempre você está coberta de razão. Forte abraço, Reynaldo
 

 

Jornalismo com ética e solidariedade.