Theresa Catharina de Góes Campos

  De: Tereza Lúcia Halliday
Data: 11 de abril de 2011 00:30
Assunto: Artigo quinzenal
 

CALÇADAS DO RECIFE

 

Tereza Halliday – Artesã de Textos

 

O título acima poderia ser de ensaio do historiador Leonardo Dantas Silva, amante amantíssimo da ex-Veneza Brasileira. Ou de comentário da colunista Luce Pereira, outra apaixonada pela cidade, usando seu olho crítico e sua verve a serviço de uma urbe melhor. Nesta página, revela meu caso de amor mal resolvido com a capital pernambucana. Parodiando o frevo de Antonio Maria, sou do Recife sem orgulho e com saudade do que ele poderia ser. Sou do Recife com vontade de chorar pelo que ele não é.   

 

A cidade dos meus laços  me envergonha e me sacaneia com seus desmantelos crônicos. Um deles, as calçadas antipedestre. Caminhante contumaz,  tenho experiência de primeira mão - ou primeiro pé. Enfrento de tudo: mossas, montículos e monturos, tocos, buracos, serviços mal-acabados de esgoto e telefonia - obstáculos afrontosos a pessoas de mobilidade normal, idosos, cegos, cadeirantes. Uma covardia.  Em todos os bairros, calçadas geradoras de entorses, fraturas, ferimentos e atropelamentos. Até mesmo “prédios classe A”, descuram do ladrilho ou cimento, ou rebaixam/elevam o piso da calçada em benefício de suas entradas de garagem, sem faixa amarela nem alerta algum.

 

Perigo, muito perigo nas calçadas destrambelhadas do Recife. Até no galho de árvore e na tábua provisória colocados misericordiosamente em ponto de altíssimo risco, cercado ou seguido de outros riscos. Basta conversar com pacientes nas salas de urgência de ortopedia e traumatologia dos atendimentos público e privado. “Foi na calçada”. E se segue a descrição do inditoso momento de susto e dor seguido de incapacitação, por várias semanas ou para sempre. A lei responsabiliza os donos dos imóveis pela qualidade das calçadas. Mas não há controle do cumprimento da Lei. Então a municipalidade se torna cúmplice e criminosa no mal que as calçadas intransitáveis causam aos seus usuários. Assim como todos temos parentes e conhecidos vitimas de assalto, também em toda família há vitimas das calçadas do Recife.

 

Por que as calçadas de Paris são ótimas para os turistas e dão aquela sensação de liberdade e segurança? Porque são feitas para os respeitados moradores da cidade. O turista apenas se beneficia de algo normal da vida urbana local. No caso da cidade onde pago IPTU e pecados alheios, as calçadas são um indicador de que ninguém se importa com ninguém. Em matéria de qualidade de calçadas, com raras e honrosas exceções, é respeito zero, precaução zero, empatia zero, responsabilidade zero. Carecemos de longo trabalho educativo e corretivo até galgarmos um pequeno índice de civilidade e segurança.

Diário de Pernambuco, 11/04/2011, p. A11).

Tereza Lúcia Halliday, Ph.D.
Artesã de Textos

De: Tereza Lúcia Halliday
Data: 6 de junho de 2011 18:30
Assunto:saber que você caiu e até fraturou o pulso
Para: Theresa Catharina de Goes Campos


Therezita,

(...)

Minha fratura de pulso inspirou a matéria CALÇADAS DO RECIFE, publicada dias após o acidente, mas sem chamar a atenção para o meu caso pessoal, por tratar-se de um grave problema público.

Carinhosamente,
Tereza Lúcia

 

Jornalismo com ética e solidariedade.