Theresa Catharina de Góes Campos

  EDUCANDO PARA O REVIDE

Tereza Lúcia Halliday – Artesã de Textos

Milena e Sérgio nasceram no mesmo ano, já completaram três. Sempre os
encontro brincando juntos. Ontem, não responderam ao meu aceno. Ele,
amuado, ela choramingando e ouvindo esta exortação de sua babá: “Ele
deu em você, dê nele também. Não chegue em casa apanhada. Ele deu-lhe
uma, você dá duas nele”. Sim, ouvi exatamente isto! E lembrei do
resultado de uma pesquisa: crianças tendem a assimilar valores, gostos
alimentares e preferências musicais de suas babás. No caso da regra
comportamental repassada a Milena, não posso associá-la à classe
social da bem intencionada “orientadora”, pois conheço pais de classe
A que receberam de seus pais o mesmo conselho. E o repassam a seus
filhos, neste século iluminado por micro e macro telas de instrumentos
de comunicação, mas longe, bem longe, de ser o século das luzes.

Como construir relacionamentos saudáveis se a administração da
agressividade – característica humana que o pequeno Sérgio expressou
naturalmente – ainda passa pela “receita” da babá de Milena e de
tantos pais de alunos em escolas públicas e privadas? Alguns colégios
particulares implementam programas de cultivo da gentileza – como a
Escola Polichinelo. Religiosas ou não, algumas famílias rejeitam a
postura do “bateu, levou”, do olho por olho, dente por dente. É
possível que os pais de Milena discordem da babá. Mas sua linda filha,
à revelia deles, está sendo “educada” para rodar a baiana, subir nas
tamancas, armar um barraco, meter a mão na cara do agressor, tal qual
os exemplos femininos das telenovelas. E Sérgio, no colo de sua babá,
que o agarrou depois do tapa que deu na amiguinha, precisa, como todos
nós, aprender bem cedo a gerenciar a raiva.

No vuco-vuco de suas obrigações profissionais, os pais são forçados
a terceirizar suas obrigações de pais. Crianças, nascidas para
preencher anseios de ser mãe e ser pai, são plantadas no mundo sem o
adubo adequado a um crescimento dentro de costumes de civilidade e
paz. Ai de nós, cidadãos numa sociedade onde se ensina a pagar
violência com violência, apesar de tantos se dizerem cristãos!

Pessoas e organizações dedicadas a fomentar a paz vão ter que ralar
muito para fazer uma diferença e avançar em alguns centímetros na sua
bendita utopia de construir um mundo sem assaltos à dignidade humana.
Muito trabalho a fazer enquanto crianças de apenas três anos de idade
receberem instruções de convivência como a que Milena recebeu.
(Diário de Pernambuco, 01/08/2011, p.A-11).

Tereza Lúcia Halliday, Ph.D.
Artesã de Textos
www.terezahalliday.com

De: Berê Bahia
Data: 3 de agosto de 2011 11:02
Assunto: EDUCANDO PARA O REVIDE - Tereza Halliday
Para: Theresa Catharina de Goes Campos


Olá, Amiga,

Infelizmente está de volta "o dente por dente, olho por olho", e não é
só no caso das babás, vemos pais e educadores agirem pela mesma ótica
sem ética, é uma triste realidade.

Encaminhei o excelente texto a vários pais e educadores...
Abração, Berê


De: Tereza Lúcia Halliday
Data: 7 de agosto de 2011 19:54
Assunto: EDUCANDO PARA O REVIDE - Tereza Halliday
Para: Theresa Catharina de Goes Campos


Therezita:
Graças a você e sua generosa divulgação do meu artigo "Educando para o
Revide", a discussão do tema está se espalhando.
Grata. Um beijo, Tereza Lúcia.

 

Jornalismo com ética e solidariedade.