Theresa Catharina de Góes Campos

  De: Tereza Lúcia Halliday
Data: 7 de novembro de 2011 01:24
Assunto: Artigo quinzenal - DP 7/11/2011 p.A-11


REDES SOCIAIS – ESGOTO DE ÓDIOS?

Tereza Halliday – Artesã de Textos

Mais uma vez a Internet é usada como latrina de ódios. “Nordestino de m...! Que povinho inútil! (...) Soltar uma bomba no Nordeste, para que matasse todos os nordestinos e quem antecipou a prova”. Desta vez, o “vômito” veio do Rio Grande do Sul, em destemperada reação ao vazamento de questões do ENEM, no Ceará, depois noticiado como originário do centro de produção das provas, em Minas Gerais. Anteriormente, uma moça de São Paulo, também acometida de incontinência verbal, pregou a morte dos nordestinos, por afogamento, nas inundações.

Todos nós temos orgulho de pertencer a alguma categoria, o que nos impele a sentimentos, nem sempre secretos, de ser mais ou melhores do que os pertencentes às outras categorias. Os que denigrem ou desejam a morte aos nordestinos – ou a qualquer outra categoria - sofrem desse complexo universal de superioridade, que inviabiliza a paz interior e a paz mundial. Deploravelmente, alguns nordestinos também odeiam sulistas, não sei se já o expressaram de maneira vil pela Internet. Podemos sentir todas as emoções com as quais fomos geneticamente criados ou culturalmente alimentados - entre elas, amor e ódio. Mas não podemos manifestar emoções destrutivas, por palavras e atos, sem nos desumanizar no processo. Enquanto é altamente produtivo expressar amor, a expressão do ódio (exceto terapeuticamente dando murro em saco de treinar box), faz mal a todo mundo, inclusive àquele que odeia.

Nascida em um estado do Nordeste, não me abala que deem vazão a sentimentos envenenados contra os nordestinos. Dizem os mestres zen que insulto recusado, ou é devolvido pelo universo ao insultador, ou cai por terra - “dá xabu”, como fogo de artifício malogrado. Abala-me, sim, e muito, que seres humanos revelem tal montante de ódio por gente que eles nem conhecem. Simplesmente, a categoria à qual pertencem os odiados – nordestino, judeu, católico, árabe, umbandista, negro, petista, torcedor do time contrário - é insuportável para o odiador. A mim, não me importam as categorias, exceto uma: os Humanos. Inaceitável e hediondo é que muitos deles se desejem o mal e queiram ver seu semelhante sofrendo, humilhado ou morto.

Toda expressão de ódio é excrementosa e poluidora do espaço, geográfico ou virtual. As redes sociais merecem melhor uso. Elas estão aí como incremento à qualidade das relações humanas. São boas ao compartilhar alegrias e tristezas, encorajar, orientar, consolar, elogiar. Não as deixem transformar-se em fétido esgoto de emoções escatológicas.
(Diário de Pernambuco, 7/11/2011, p.A-11)

Tereza Lúcia Halliday, Ph.D.
Artesã de Textos
 

Jornalismo com ética e solidariedade.