Theresa Catharina de Góes Campos

  O CORAÇÃO E A RAZÃO VÃO AO CINEMA - HOJE, AMANHÃ E DEPOIS

(As mil e uma razões para que eu goste tanto de cinema...)

Para citar somente algumas, das mil e uma razões pelas quais eu gosto tanto de cinema, começo agora a lhe explicar, embora eu não tenha certeza se aquele que não valoriza o significado que os bons filmes podem ter em nossa vida, vai se interessar até mesmo em ler estas palavras.

Não faço separação entre o cinema e a vida, pois faz parte de minha existência, tornando mais rico o meu cotidiano, meu vocabulário, minha compreensão do mundo e das pessoas, sem limites de tempo e espaço, nem barreiras de idiomas ou sociopolítico-econômicas.

Sim, em meio a tantas divergências culturais, às inúmeras diferenças religiosas e mentalidades diversas, o cinema funciona como um instrumento que pode iniciar uma comunicação universal, a despeito das atitudes e palavras antagônicas ou desinteressadas com que enfrentamos os outros, em nosso dia a dia. A partir de um filme, uma conversa que jamais teria sido iniciada, por falta de motivação, é entabulada e se aprofunda, emociona, provoca o diálogo ao interromper o silêncio; ou substitui as palavras que antes eram esquecidas ou pronunciadas sem causar qualquer efeito ou talvez fossem ditas, mas não eram escutadas...

Amo os bons filmes porque me fazem uma pessoa melhor, mais amadurecida, mais sensível, mais consciente e mais solidária; menos limitada, mais universal; alarga meus horizontes, transporta-me a outros ambientes; remexe o meu íntimo, forçando a auto-análise às vezes tão dolorosa, apesar de fundamental para que o crescimento pessoal ocorra; coloca-me ao lado do próximo, mesmo quando eu procurei me afastar, por conveniência, eventual timidez, omissão, relutância, malícia, medo, desatenção ou insegurança...

O hábito do cinema inteligente nos liberta da acomodação, não só física, como intelectual e emocional. As lutas íntimas dos sentimentos e das emoções travam-se na tela e em nosso coração; as imagens da vida se entrelaçam às imagens da tela, compondo um painel filosófico difícil de ser obtido através da maioria das conversas repetitivas e medíocres tão comuns em nossa rotina.

Um bom filme dá um toque muito especial ao que seria um dia comum. Rompe a monotonia. Transforma os momentos disponíveis com a oportunidade da imagem que se apresenta para iniciar um diálogo com a nossa mente e o nosso coração e, assim, provocar um processo de metamorfose ( talvez duradouro...) de nossa pessoa.

Toda manifestação artística nasce da sensibilidade e visa a sensibilizar, o que, neste limiar do século XXI, significa a missão de vencer a frieza da tecnologia separada da mente e do coração do homem para fazer com que este sobreviva em condições íntimas, ecológicas e sociais dignas do ser humano. Sim, eis a missão sensibilizadora da arte!


É preciso, a todo custo, não perder a faculdade maravilhosa de sentir e amar... enquanto a ciência e a técnica vão continuar a conquistar novas fronteiras num ritmo alucinante, que não deixa de ser previsível.

O futuro da humanidade, porém, não está nos satélites, mísseis e computadores, nem mesmo nos laboratórios científicos mais sofisticados. O progresso tecnológico não pode garantir a sobrevivência de uma única pessoa, pois não pode oferecer, por si só, como produto, a esperança, capaz de tudo superar e até criar do nada ou nas condições e circunstâncias mais difíceis.

Os meios de comunicação social mostram a todas as classes sociais que, ainda quando as portas estão fechadas, é possível se espiar pelo “buraco-tela” das fechaduras e conhecer o conforto, as invenções, as novidades, que se multiplicam. Felizmente para a humanidade, o que se deve a todo homem vai ser cada dia mais difícil de ser negado ou escondido de sua mente e de seus olhos, por demais fatigados, após cada tentativa frustrada para aprender e partilhar, no cenário íntimo de uma profunda solidão espiritual.

Os cientistas, tecnocratas e comunicadores que puseram a nosso alcance as máquinas engenhosas são responsáveis também por nos cercarem dos mais sérios perigos. Quem não está guerreando atualmente, está se preparando para se defender ou para a eventualidade de um conflito armado, interno ou externo. O milagre do átomo também se chama a possibilidade de uma hecatombe nuclear universal.

A comunicação pela arte, entretanto, pode vir a ser sinônimo de esperança, na medida em que se fizer instrumento de solidariedade e de justa distribuição dos bens essenciais, que a todos pertencem, sem qualquer distinção de raça, credo ou cor.

No dia a dia que deve ser uma prática de comunicação, uma vivência que se expressa em atos de receber e dar , na decisão humanística de partilhar, a sensibilidade única do artista se torna tão vital quanto a informática. O espetáculo artístico, forma de comunicação até mesmo entre gerações que viveram em séculos diferentes, continuará a enriquecer os seres humanos.

Uma definição clara e precisa, que endosso plenamente, é expressa por Janetty Laís, pintora brasiliense, ao afirmar que a arte “capacita o ser humano a compreender a realidade e ajuda não só a suportá-la, como também a transformá-la, dando-lhe meios para tornar a vida mais humana.”

Nas artes – manifestações artísticas que nos tornam pessoas melhores, e não conhecem fronteiras ou limitações de tempo ou espaço, e sabem o caminho para atingir (muito além dos olhos e dos ouvidos tão limitados) o âmago dos corações, tornando-os AMIGOS e IRMÃOS, está o porvir do universo.

Como manifestação artística de amplos recursos, o cinema ocupa uma posição ímpar, devido à sua acessibilidade e interação com os outros meios de comunicação: os filmes se fazem cada vez mais presentes na televisão, no vídeo, na sala de aula, nos locais de trabalho e lazer, bibliotecas, paróquias religiosas e cineclubes os mais diversos.

Destaca-se ainda a produção cinematográfica como um trabalho não-individual, que congrega uma equipe diversificada mas visando a um objetivo comum e, depois, se constitui num produto que continuará reunindo muitas outras pessoas, em sua maioria estranhos e distantes no espaço físico, porém que se unem, através do filme, aos responsáveis pelos diversos aspectos da criação cinematográfica. A comunicação se processa, então, entre o grupo realizador e a platéia apreciadora, derrubando inúmeras barreiras, como as representadas pela distância,bem como pelo não-conhecimento prévio de uma realidade que se revela, numa combinação/integração criadora dos instrumentos diversos de comunicação.

Que Deus abençoe os produtores, diretores, escritores, músicos, artistas, intérpretes e técnicos, responsáveis por filmes que embelezam nossa vida, fazem-nos refletir criticamente, denunciar, protestar, ou sonhar, reavivar emoções e sentimentos. Que Deus os proteja e lhes dê forças para continuar ... ou que provoquem seguidores, continuamente, num fluxo humanístico que tem o potencial de fazer brotar outras fontes neste deserto em que se transformou, por culpa nossa, esta aldeia global em crise, com a sua população experimentando constantes ameaças de desaparecimento.

Se estranhos, tão diferentes e de procedências as mais diversas, podem se comunicar através do cinema, por que não acreditar, igualmente, na comunicação que podemos empreender na família, entre os amigos, na comunidade? Se a imagem, projetada na tela de um cinema, consegue conscientizar, revelar, comover, sensibilizar, por que não acreditar em nossa força pessoal de persuasão, em nossa capacidade de nos comunicarmos com os que estão bem próximos de nós?

As imagens (sonoras ou não) dos que não conhecemos reavivam em nosso íntimo a fé em nós mesmos e no próximo, derrubando o ceticismo onipresente, substituindo o pessimismo imobilizante, omisso e destruidor, pela magia criadora de sonhos e sentimentos, enfim, as imagens nos dão ESPERANÇA. E que presente de vida pode existir que seja maior, mais essencial, que a esperança? Esta esperança que se confunde com a própria capacidade de sobreviver, a todo custo, a despeito de tudo, apesar de todas as mágoas, dores e desilusões as mais dilacerantes? Digamos "sim " à esperança que nos reanima após cada uma de nossas quedas, transformando nosso desânimo profundo em resistência portadora de coragem latente...

Com um filme na memória, o cérebro em atividade e sentimentos no coração, continuo CAMINHANDO... E, caminhando, SINTO que estou VIVA, pois tenho VIDA em movimento, fluindo em luz e sombra, projetando um fotograma atrás do outro...

Theresa Catharina de Góes Campos
Brasília-DF, 13 de dezembro de 1988.

De: elizabeth barros
Data: 1 de março de 2012 17:12

Querida Tia Therezita, este texto é maravilhoso. Resume todo o seu
carinho pelo cinema e a importância dele em sua vida. Graças a Deus
que o cinema é uma arte que não pára de ser produzida e desenvolvida,
a cada dia temos um número enorme de produções e filmes maravilhosos
para assistirmos. E há também os filmes antigos para serem revistos. É
uma maravilha!!

Beijos, de sua sobrinha, Elizabeth.


De: Suzana Katzenstein
Data: 16 de julho de 2016

Bravoooo!!!!
Suzana


De: Milza Guidi
Data: 17 de julho de 2016

Texto maravilhoso, Theresa. Se não deixamos morrer a esperança, a vida se torna mais leve, mesmo que às vezes tenhamos que carregar pesados fardos. Um abraço.

Milza


De: Elizabeth Barros
Data: 10 de outubro de 2016

Lindo texto, tia, sempre que posso, releio.
O cinema é realmente uma maravilha em nossas vidas.
Graças a Deus temos acesso a essa arte.
Elizabeth

 

Jornalismo com ética e solidariedade.