Theresa Catharina de Góes Campos

   

http://www.hotxua.com.br/


De: Ana Falcão
Data: 23 de fevereiro de 2012 16:18
Assunto: Re: prioridade máxima) HOTXUÁ
Para: Theresa Catharina de Goes Campos


Querida Theresa Catharina,

Em primeiro lugar, agradeço-lhe os e-mails , quase sempre ligados às artes ou a informações úteis.

Sua poesia e os comentários sobre cinema nos remetem a reflexões , cumprindo a intenção de quem os envia.

Sobre "Hotxua", tivemos - Heloisa e eu - a oportunidade de vê-lo na terça de carnaval, no Espaço Itaú. Fomos levadas pela curiosidade de conhecer os kraôs, índios do Tocantins, vistos pelas lentes sensíveis de Letícia Sabatella e Gringo Cardia, com exuberante fotografia. Um filme alegre , no início, que revela a crença de que Hotxua os faz rir constantemente. Os rituais , os hábitos , enfim, o dia a dia deles mostram-nos a preservação da tradição, ligeiramente mesclada, como é natural, após o contato com os brancos. No final, um lamento sobre a ocupação das terras pelo plantio avançado de soja, a poluição, a construção da barragem de Estreito e consequente inundação de áreas, e outros aspectos negativos .

Meu interesse proveio também do conhecimento prévio dessa área de cerrado intacto. Eles habitam a divisa Tocantins-Maranhão. Com Ângela, estive na Chapada das Mesas, nos arredores de Carolina. Lá havia um ambientalista que lutava valentemente contra a construção dessa barragem, que inundaria, ou inundará, grande parte de Carolina, às margens do Rio Tocantins, o marcador da divisa. Soube que o IBAMA concedeu a licença. Conversamos com muitos nativos.Os jovens estavam sendo "aliciados" com a promessa de emprego, o que de fato ocorreu, conforme postal que recebi , posteriormente, de uma guia local. Também fomos a Filadélfia, já em Tocantins, onde ouvimos tristes histórias de um rico balseiro que se tornou prefeito. Tristes, no sentido de como lida com as pessoas e as crianças, principalmente.

Ângela e eu recordamos os passeios às belíssimas cachoeiras cujo acesso é possível somente por veículo 4por4 e orientadas por guia local. Lembramos das deliciosas refeições preparadas na casa da "Dona Raimunda" , com seus ingredientes disponíveis, dos doces caseiros, da fartura do caju.

Voltando ao documentário, penso que deve ser visto por todos que querem conhecer um pouco mais do Brasil e seria muito bom, se divulgado nas escolas.

Aguardamos sua chegada nos próximos dias. Até lá.
Abraços da amiga
Ana

P.S.: A propósito, o livro "Sete Noites", de Bernardo Cabral, repórter da Folha, conta o mistério do desaparecimento de um antropólogo americano que lá esteve para pesquisar os kraôs. Sua descrição da subida à torre da igreja nos dá a impressão de ser "ao vivo", tal o realismo. Lá estivemos para apreciar a belíssima vista do Rio Tocantins. Como é comum, ele mescla ficção, pesquisa e realidade, isto é, preenche com fatos romanceados o que não conseguiu apurar. Ana

 

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