Theresa Catharina de Góes Campos

 
QUESTÕES ÉTICAS NAS DECISÕES INTERNACIONAIS

O progresso tecnológico foi estudado por Lenílson Naveira e Silva, sobretudo ao pesquisar dados referentes a computadores, na América Latina e nos países industrializados. Depois, ele mostrou o contraste da Telemática com o subdesenvolvimento: os seres humanos vítimas da fome e da subnutrição crônicas, o analfabetismo. Enfatizou também que os financiamentos de programas orientados para a paz e o desenvolvimento, a cargo das Nações Unidas (ONU), são muito inferiores aos gastos com despesas bélicas.
"Assim, os povos de muitas nações do Terceiro Mundo vão morrendo lentamente de fome enquanto as nações industrializadas se preparam, com prioridade máxima, para o extermínio brutal e instantâneo de toda a Humanidade, no holocausto nuclear”. (...)

O autor ressaltou os efeitos conflitantes da tecnologia, os resultados benéficos ou negativos, todos envolvendo decisões que deveriam ser tomadas segundo princípios éticos, e não, os lucros financeiros e ambições de poder. Ainda que as ações sejam oficialmente uma responsabilidade de poucos indivíduos, seus efeitos envolverão toda a humanidade.

“Com o atual estágio tecnológico, os políticos das nações industrializadas detêm em suas nações o poder de acabar com todas as formas de miséria do mundo, ou de, simplesmente, exterminar a Humanidade”.
O que esperam para agir com ética e solidariedade, os responsáveis pelas decisões de efeito internacional ?
A escolha não parece complexa, mas fácil.

Entretanto, o descontrole, a desorganização observada na área de informática invade o campo dos valores culturais, agravando as consequências duradouras para este planeta.

“O mundo enfrenta nos últimos anos o problema da informatização desordenada, cuja conseqüência mais séria parece ser uma desorganização dos valores básicos da cultura. Cria-se um tipo de Sociedade Salada de Frutas. Nela, tudo parece certo e aceitável. Tudo é "uma questão de assumir". Não há mais consenso sobre vaIores e princípios. Os frutos sociais mais preocupantes dessa informatização selvagem e primária são o conflito social e a desagregação familiar". (...)
O homem passa a isolar-se, como remédio para sentir-se menos mal.
As pessoas pensam que têm consciência de seus problemas porque sabem o que desejam, mas raramente chegam a compreender por que elas querem certas coisas – quando na realidade estão sendo manipuladas por uma informatização desordenada desumanizante.
"A cada dia temos menos tempo para tomar a melhor decisão - seja ela uma decisão econômica, seja de política internacional. A Inglaterra na Segunda Guerra gastou 7 dias para identificar o local exato de onde partiam as bombas V-2 que tanto estrago e perigo levaram a Londres e a pontos estratégicos do país. Só então pôde bombardear aquelas bases. Há meses, na imprensa se lia que o Presidente Reagan tinha apenas 17 minutos para tomar decisões cruciais no caso de um conflito com a União Soviética. Não seria difícil de imaginar que, daqui a uma década, o Presidente dos Estados Unidos talvez tenha apenas alguns segundos. E daqui a duas décadas? Talvez não lhe reste tempo algum para decidir sobre o destino da Humanidade. "

A União Soviética não existe mais. Contudo, os países ainda se colocam em campos opostos, com políticas divergentes e agindo belicosamente, conforme interesses contrários, lutando entre si. Além dos prejuízos materiais, as perdas em vidas humanas, bem como as pessoas incapacitadas física e psicologicamente clamam por uma mudança urgente, um novo direcionamento das ações, que objetive, de forma pacífica, solucionar as questões internaciuonais. Como se manter paciente? Por que continuar exigindo que os povos aceitem essas situações intoleráveis, esses riscos pessoais e materiais ? Afinal, não há como justificar essas políticas injustas, que negam a solidariedade e a ninguém beneficiam realmente, nem mesmo aos que se consideram vencedores.

"Para aqueles que ainda se sentem horrorizados com o extermínio de judeus na Alemanha Nazista, é bom lembrar que o poder destrutivo das armas nucleares armazenadas pelos Estados Unidos e a URSS poderia transformar a terra no maior forno aberto de Auschwitz, a uma temperatura de 17 milhões de graus centígrados.
Daí porque o grande problema do mundo e das nações atuais não parece se reduzir a uma questão de tecnologia ou de ideologia, mas, fundamentalmente, a um problema de Ética. Não estaria, portanto, na hora de criarmos uma nova cadeira de Ética da Sobrevivência, visando a mudar os princípios que hoje impedem que a Humanidade possa usufruir todos os benefícios que a tecnologia lhe pode dar”?
Mais que uma disciplina, precisamos de uma grande mudança de rumo, um processo de conscientização individual e coletivo, capaz de provocar o já tardio posicionamento em defesa da vida. Uma voz forte, representando todas as outras vozes de indivíduos esclarecidos, rejeitando a omissão diante da fome e do analfabetismo, recusando a violência entre populações e nações.
A tecnologia, guiada por decisões éticas, deveria ser um instrumento para resgatar os povos mantidos em situação de miséria, sem acesso à saúde e à educação.

“Na sociedade da informação, as novas colunas do desenvolvimento deixam de ser o uso intensivo de matérias-primas e da energia, para apoiar-se muito mais nas telecomunicações e no processamento de dados. De agora em diante, os computadores passarão a substituir o trabalho rotineiro intelectual, delegando ao homem mais tempo para o planejamento e, principalmente, para as tarefas criativas". (...)

O desenvolvimento como realidade para todos os países é possível. Depende de vontade política. Não só dos governantes, mas, primordialmente, do exercício de cidadania por parte de todos nós. Fujamos da alienação, cultivemos a reflexão crítica, que nos levará a participar e exercer a nossa influência por meio dos instrumentos a nosso dispor, em nosso contexto, sem desanimar nem interromper nossos esforços.

"O próprio conceito de fronteira física de um país começa a dar lugar à fronteira digital que são os pontos de entrada e saída de dados a alta velocidade nas nações, influenciando suas culturas, economias, comércio e até mesmo a segurança nacional, surgindo a alfândega de informação (gateway). Haverá maior inteligência social e conseqüentemente maior participação da sociedade nas decisões de interesse comunitário. "
Em todas as áreas, o cidadão consciente deverá interpretar as transformações que ocorrem à sua volta, enxergando os problemas sociais, porém, ao mesmo tempo, se determinando a estudar e aplicar as soluções possíveis. Uma visão humanística, ética e solidária para uma decisão em que se pensou no objetivo principal: as pessoas ( e não os lucros, nem o poder).

"A diversão e mesmo a realização humanas estarão muito relacionados ao consumo indiscriminado de informação, através da televisão, do videodisco, do videocassete, etc. As pessoas passarão mais tempo nessas atividades do que propriamente em atividades de relacionamento com seus semelhantes. Isto intensificará a desagregação da família e da sociedade, até que se tenha essa consciência e se passe a controlá-Ia de forma harmônica, pois a informação é um bem cultural que não se destrói pelo uso e se constitui num dos principais fatores de transformação dos homens. "

Observa-se, portanto, que a presença dos meios de comunicação de massa, assim como da tecnologia, revela-se atuante em todas as áreas. Porque a informação dá início, mantém o interesse e influencia as realizações individuais, coletivas e governamentais. Não há como negar isso.
" As próprias dimensões de espaço e tempo serão afetadas, pois com os modernos meios telemáticos, que utilizam a voz e o vídeo, poderemos virtualmente estar presentes em qualquer lugar, a qualquer momento, sem a necessidade do transporte físico. Será a teleconferência ou a videoconferência. "

Já nos encontramos em patamares tecnológicos mais avançados, no entanto, os dilemas permanecem, os conflitos também desafiam negociações e acordos. Quando os debates não resultam em ações visando à resolução, uma situação-limite, explosiva e transnacional ameaça crescer, multiplicando as tensões, tornando-se bem mais séria do que no início, o que preocupa as lideranças.
" As pessoas passarão, assim, a formar grupos e relacionar-se por interesses comuns. E serão totalmente transparentes às fronteiras e distâncias, aos países e às culturas nacionais a que pertençam, comunicando-se por meio de suas línguas naturais, com tradução simultânea, feita por meio de computadores. Reforça-se, assim, a tendência da aldeia global.

E, ainda que a tendência dos nacionalismos seja forte, será dada ênfase prioritária à atuação das organizações internacionais, tais como a ONU e outras". (...)

Percebemos, sem dificuldade, o quanto estamos envolvidos, queiramos ou não.

Onde quer que nós tentemos nos esconder, as consequências das sucessivas omissões dos responsáveis diretos nos alcançarão. Somos indivíduos inseridos na comunidade - tanto a mais próxima quanto as outras, nos espaços físicos mais distantes. Nem as dimensões do tempo estão realmente longe de nós, que recebemos e incorporamos a experiência das suas contribuições ao nosso processo de tomada de decisões.

“O ser humano tem necessidades psicológicas de crer num futuro melhor do que o presente - embora muitas vezes estejamos apenas agüentando o presente, na esperança de que o simples passar do tempo possa modificar as circunstâncias.

Mas, antes de mudar o mundo e as circunstâncias, é preciso mudar o homem por dentro, em seus sentimentos, princípios e valores éticos.”
Ao falarmos em mudança de atitudes e posições temos que considerar, de imediato, e mais uma vez ressaltar, o papel dos meios de comunicação social, de poder inegável e que continuamente demonstram a sua força.
Neste pequeno estudo aplicamos também duas teorias: a teoria da gênese das decisões como enfoque da análise da política internacional, tendo o Estado como ator em uma determinada situação - de RICHARD C. SNYDER, K. W. BRUCK e BURTON SAPIN; e a teoria de JESSIE BERNARD, que utiliza os jogos de estratégia como base de uma moderna sociologia do conflito.

Esses jogos de guerra classificam-se em três tipos: unilaterais, bilaterais e multilaterais.

Os unilaterais não são considerados realmente jogos, pois não há um oponente de fato ou uma situação real de conflito; realizam-se sob dois conjuntos diferentes de circunstâncias.

No primeiro, um jogador, uma das partes ou uma equipe tenta alcançar determinada meta num período mínimo de tempo, ou empregando o menor número de forças.

Um exemplo poderia ser a simulação de operação de reabastecimento, quando não há oposição do adversário. É analítico por natureza e trata, essencialmente, de um método de tentativas para atingir a melhor linha de ação ou para testar os procedimentos existentes (contra uma natureza completamente imparcial).

No segundo tipo de jogo unilateral, uma das partes é confrontada por forças empregadas pelo grupo de controle. Este último enfrentará, por sua vez, a equipe jogadora, com situações organizadas especificamente para se atingir o propósito do jogo, e para revelar, aos jogadores, as fraquezas e omissões dos seus planos e táticas ( quando uma das partes joga contra um grupo de controle que não estará tentando vencer) .

Os jogos bilaterais são os mais comuns: duas forças, duas nações ou duas coligações opõem-se uma a outra numa batalha, numa campanha ou em uma guerra simulada.

No momento em que identificamos mais de dois interesses em conflito, temos os jogos chamados de multilaterais, comuns nos negócios ou em política, embora não tão frequentes em jogos militares.
São os jogos de n partes, onde n representa um número maior que 2. Como exemplos, temos os executados pelos japoneses, antes da Segunda Guerra Mundial. Equipes de jogadores representam nacionalidades e interesses diversos, como Rússia, EUA, Inglaterra, China, Japão, etc.
Em qualquer situação que vá se delineando, o propósito deste artigo é reafirmar a necessidade de compreendermos cada um, e todos esses processos de decisões internacionais, como a configuração de um conjunto de questões éticas.

Nessa perspectiva das situações, as soluções não poderão ser , sob nenhum aspecto, ou por qualquer justificativa, antiéticas.
Porque qualquer solução de problemas, qualquer negociação e acordo, deverá ser um procedimento fundamentado em princípios éticos para todas as partes envolvidas.

Theresa Catharina de Góes Campos
São Paulo-SP, 24 de fevereiro de 2012
 

Jornalismo com ética e solidariedade.