Theresa Catharina de Góes Campos

   
RAZÕES PARA NÃO TRATAR DE POLÍTICA
 
Tereza Halliday – Artesã de Textos
 
 
Alguns leitores incitam-me a agitar os hormônios da indignação: “Por que você não escreve sobre política?” Porque política (a) tem influência sobre minha vida, mas não me inspira; (b) é o mesmo ramerrão desde quando atingi a idade de votar; (c) a profissão de político é a que mais ocupa espaço na mídia - seguida da de jogador de futebol; (d) há jornalistas competentíssimos escrevendo sobre política, área onde me falta competência. Poderia  acrescentar e, f, g...  Além disso, eu seria uma “sem noção” se acreditasse que os políticos de plantão por quatro ou oito anos acatariam o que eu escrevesse sobre seus desacertos, por mais respeitáveis que este jornal e a artesã de textos sejam.
 
 Trabalhei como noticiarista, repórter e colunista do Diário de Pernambuco. Por algum tempo, cumpri pautas ditadas pelo chefe, levantei bandeiras,  fiz alertas. Minha única vitória em anos e anos de “escrevinhação” foi conseguir que instalassem pias nos supermercados. Hoje, sou apenas colaboradora não remunerada, nesta página de opinião - um privilégio. O superintendente Joezil Barros sugeriu “temas light, para uma segunda-feira”. E política nunca é leve, mesmo quando os ditos e feitos de alguns políticos nos fazem rir.  Certos políticos também são de fazer chorar.  Não sou masoquista para ficar de olho neles.
 
Minha abordagem a outros assuntos nem sempre light traz a marca de meu limitado ponto de vista. Quando leitores se irmanam com ele, este espaço lhes serve de terapia: “É isto mesmo que eu queria dizer!”, repetem nos e-mails. Quando discordam, alargam minha mente.  Não sou “líder de opinião”, como generosamente alguns me chamam. Meu chá de “semancol” é o caso de um jornalista nordestino que, ao fim da Segunda Guerra Mundial, com a Alemanha derrotada, escreveu na sua coluna provinciana: “ Desta tribuna, bem que avisamos ao sr. Adolf Hitler!”.  Meu direito de expressar opiniões políticas não implica no dever de expressá-las. O grande Millôr Fernandes dizia que, se todos só falassem do que entendem, haveria um salutar silêncio no mundo.
 
Com o tempo, percebi que sou mais para a poesia do que para a política. No meu quotidiano, o terra a terra da política só encontra um tiquinho de espaço. Boa parte do meu tempo é dedicada aos afetos, leituras e escrita. O resto é ocupado com os trique-triques do viver: recusar ofertas de telemarqueteiros, apagar e-mails irrelevantes, lavar pratos, recolher roupa do varal, prestar muita atenção às calçadas escangalhadas, para evitar uma segunda queda de sérias consequências.  Escrever sobre política não é a minha praia. Seria tubarão demais para o mar dos meus desvelos. E por falar em poesia, é com Cecília Meireles que eu fico, nestes versos: “Não acuso, nem perdoo./ Nada sei. De nada./Contemplo”.
(Diário de Pernambuco, 23/04/2012)
 

Jornalismo com ética e solidariedade.