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								Reflexões Homiléticas para Julho de 2012 
								Pe. Tomaz Hughes, SVD 
								 
								E-mail: 
								thughes@netpar.com.br- - - 
								 
								FESTA DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO (01.07.12) 
								 
								Mt 16, 13-19 
								 
								"Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo" 
								 
								 
								Hoje a Igreja celebra a festa de dois grandes 
								apóstolos, Pedro e 
								Paulo, este grande evangelizador dos pagãos ou 
								gentios, e aquele do 
								seu próprio povo. Como evangelho do dia, 
								escolheu-se a história do 
								caminho de Cesareia de Felipe. O relato mais 
								antigo está no Evangelho 
								de Marcos, Cap. 8 vv 27-38, o qual se tornou o 
								pivô de todo o 
								Evangelho. A estrutura de Mateus é diferente; 
								mas, o relato tem a 
								mesma finalidade, ou seja, ajudar os ouvintes e 
								leitores a clarificar 
								quem é Jesus e o que significa ser discípulo ou 
								discípula d'Ele. 
								 
								A pedagogia do relato é interessante. Primeiro, 
								Jesus faz uma pergunta 
								bastante inócua: "Quem dizem os homens que é o 
								Filho do Homem?" Assim, vem muita resposta, 
								pois, responder essa pergunta não compromete, 
								pois é o "diz que". Mas, a segunda pergunta traz 
								a facada: "E vocês, quem dizem que eu sou?" 
								Agora não vêm muitas respostas, pois quem 
								responde em nome pessoal, e não dos outros, se 
								compromete! Somente Pedro se arrisca e proclama 
								a verdade sobre Jesus: "Tu és o Messias, o Filho 
								do Deus vivo". Aparentemente Pedro acertou, e 
								realmente, em Mateus, Jesus confirma a verdade 
								do que proclamou! Afirmou que foi através de uma 
								revelação do Pai que Pedro fez a sua profissão 
								de fé. Mas, para que entendamos bem o trecho, é 
								necessário que continuemos a leitura pelo menos 
								até v. 25. Pois, o assunto é mais complicado do 
								que possa parecer. 
								 
								Pois, após afirmar que Pedro tinha falado a 
								verdade, Jesus logo 
								explica o que significa ser o Messias (ou, em 
								grego, o Cristo). Não 
								era ser glorioso, triunfante e poderoso, 
								conforme os critérios deste 
								mundo. Muito pelo contrário; era ser fiel à sua 
								vocação como Servo de 
								Javé, era ser preso, torturado e assassinado, 
								era dar a vida em favor 
								de muitos. Jesus confirmou que Ele era o 
								Messias, mas não da maneira 
								que Pedro esperava e queria. Ele, conforme as 
								expectativas do povo do 
								seu tempo, queria um Messias forte e dominador, 
								não um que pudesse ir, 
								e levar os seus seguidores também, até a Cruz! 
								Por isso, Pedro reluta 
								com Jesus, pedindo que nada disso acontecesse. 
								Como recompensa, ganha uma das frases mais duras 
								da Bíblia: "Afasta-se de mim, Satanás, você é 
								uma pedra de tropeço para mim, pois não pensas 
								as coisas de Deus, mas dos homens!" (v. 23). 
								Pedro, cuja proclamação de fé mereceu ser 
								chamada a pedra fundamental da Igreja (v. 18), é 
								agora chamado de 
								Satanás - o Tentador por excelência - e "pedra 
								de tropeço" para Jesus! 
								Pedro usava o título certo, mas tinha a 
								compreensão errada! Usando os 
								nossos termos de hoje, de uma forma um tanto 
								anacrônica, podemos dizer 
								que ele tinha ortodoxia, mas não, ortopraxis! 
								 
								Assim, Jesus usa o equívoco de Pedro para 
								explicar o que significa ser 
								seguidor d'Ele: "Se alguém quer me seguir, 
								renuncie a se mesmo, tome a 
								sua cruz, e siga-me" (v. 24). Ter fé em Jesus 
								não é em primeiro lugar 
								um exercício intelectual ou teológico, mas uma 
								prática; o seguimento 
								d'Ele na construção do seu projeto, até às 
								últimas consequências. 
								 
								Hoje, enquanto celebramos os nossos dois grandes 
								missionários, a 
								pergunta de Jesus ressoa forte - a segunda 
								pergunta. Para nós, quem é 
								Jesus? Não para o catecismo, não para o papa ou 
								o bispo, mas para cada 
								de nós, pessoalmente? No fundo, a resposta se 
								dá, não com palavras, 
								mas pela maneira em que vivemos e nos 
								comprometemos com o projeto de 
								Jesus - Ele que veio para que todos tivessem a 
								vida e a vida 
								plenamente! (Jo 10, 10). Cuidemos para que não 
								caiamos na tentação do 
								equívoco de Pedro, a de usar termos corretos, 
								mas com a compreensão 
								errada! 
								 
								 
								Décimo Quarto Domingo Comum (08.07.12) 
								 
								Mc 6, 1-6 
								 
								"Jesus não pode fazer milagres em Nazaré" 
								 
								 
								O texto de hoje encerra o segundo bloco da 
								primeira parte 
								do Evangelho de Marcos - que trata da cegueira 
								dos familiares de 
								Jesus. O primeiro bloco (1,14-3, 6) mostrou a 
								cegueira das 
								autoridades, e o próximo bloco mostrará a 
								cegueira dos discípulos. 
								Assim, Marcos gradativamente aumenta a tensão 
								entre o que Jesus é e a 
								incompreensão dos que o conhecem: autoridades, 
								familiares e 
								discípulos. Tudo para poder lançar como questão 
								fundamental do seu 
								Evangelho a pergunta: "E vocês, quem dizem que 
								eu sou?" (Mc 8, 29). 
								 
								De uma maneira indireta, Marcos aqui toca em um 
								dos 
								problemas fundamentais dos cristãos - o 
								escândalo da encarnação. 
								Frequentemente não temos tanta dificuldade em 
								assumir a realidade da 
								divindade de Jesus, mas sim, a sua humanidade! 
								Até hoje, quantas 
								hipóteses esdrúxulas sobre onde Jesus teria 
								passado os primeiros 
								trinta anos da sua vida, quando a realidade é 
								que Ele os passou como 
								qualquer outro rapaz da sua geração - em uma 
								família e comunidade do 
								interior, trabalhando com as mãos e partilhando 
								a dura sorte do seu 
								povo, com uma fé profunda na presença de Javé no 
								seu meio - uma fé 
								alimentada pelas Escrituras. Mas, frequentemente 
								relutamos para não 
								enxergar a opção real de Deus pelos 
								marginalizados através da 
								realidade da encarnação! 
								 
								Os seus próprios parentes também não queriam 
								aceitar a 
								pessoa e a missão de Jesus. Marcos não esconde a 
								dureza das críticas: 
								"Esse homem não é o carpinteiro, o filho de 
								Maria?" (v. 3). Se fosse 
								um fariseu, ou um "doutor", ele teria sido 
								aceito! Quanta coisa 
								semelhante hoje - quando preferimos acreditar 
								nas palavras e retórica 
								dos "doutores" e desprezamos a sabedoria popular 
								dos que lutam no meio 
								do povo para um mundo mais justo! 
								 
								Marcos retoma aqui o tema da primeira parte do 
								Evangelho - 
								que o caminho para conhecer Jesus não é através 
								de uma corrida atrás 
								de milagres. Pois, os Nazarenos conheciam bem os 
								milagres de Jesus: "E 
								esses milagres que são realizados pelas mãos 
								d'Ele?" (v. 2). Aqui 
								tocamos no cerne da questão: em Marcos, Jesus 
								nunca faz um milagre 
								para despertar a fé em alguém. Pelo contrário, é 
								a fé das pessoas que 
								causa os milagres da parte de Jesus. Por isso, é 
								importante notar o 
								verbo que Marcos usa: "E Jesus não pôde fazer 
								milagres em Nazaré!" (v. 
								5). Não foi que não quisesse, nem que não 
								fizesse milagres, mas que 
								Ele não pudesse fazer! Por quê? Por causa da 
								falta da fé deles! 
								 
								O texto nos desafia para que nos questionemos 
								sobre o 
								Jesus em quem acreditamos! Conseguimos vê-Lo nos 
								pequenos e humildes e nas pequenas ações em 
								favor do Reino? Ou O buscamos em ditos 
								"milagres" e coisas estrondosas, que muitas 
								vezes podem mascarar uma relutância em assumir o 
								caminho da Cruz? Marcos quer suscitar uma 
								desconfiança na sua comunidade - se nem as 
								autoridades e nem os 
								parentes de Jesus o compreenderam, será que nós 
								O compreendemos? 
								Devagarzinho chegaremos ao Capítulo 8, o pivô de 
								Marcos, onde seremos 
								convidados a responder a pergunta fundamental da 
								nossa fé: quem é 
								Jesus para mim, para nós, hoje? 
								 
								 
								 
								DÉCIMO QUINTO DOMINGO COMUM (15.07.12) 
								 
								Mc 6, 7-13 
								 
								"Dava-lhes poder sobre os espíritos maus" 
								 
								 
								Esses versículos dão início ao terceiro e último 
								bloco da 
								primeira parte do Evangelho de Marcos(6, 6b-8, 
								21) que podemos 
								intitular "a cegueira dos discípulos". É a 
								continuidade dos primeiros 
								dois blocos que tratavam da cegueira das 
								autoridades e dos parentes de 
								Jesus. O nosso texto trata da missão dos 
								discípulos. Vale a pena 
								examinar mais de perto as frases que Marcos usa. 
								 
								O primeiro elemento é que a missão de Jesus, o 
								de 
								construir o Reino de Deus, continua na missão 
								dos discípulos. A base 
								da missão é o compromisso com Jesus e o seu 
								projeto. Em nossos termos 
								hoje, cumpre lembrar que a origem da missão está 
								no nosso batismo. 
								Todos somos Discípulos-Missionários. Se somos 
								clero, religiosos ou 
								leigos é secundário. A missão comum vem do 
								batismo comum de todos nós. A maneira de 
								vivenciarmos a missão pode ser diferente e 
								variar; mas, a missão é fundamentalmente igual. 
								 
								Ele os enviou dois a dois. Uma maneira bonita de 
								mostrar 
								que a missão cristã é comunitária! Não existe um 
								cristianismo 
								individualista. A nossa fé tem consequências 
								profundas comunitárias. 
								Um alerta para que não caiamos na tentação de 
								criarmos uma religião 
								individualista e intimista, tão comum no nosso 
								mundo de 
								competitividade e pós-modernidade. 
								 
								Jesus dava-lhes poder sobre os espíritos 
								imundos! Claro, 
								aqui se expressa uma realidade importante nos 
								termos da cosmovisão da 
								época. "Espíritos imundos" significam tudo que 
								pudesse se opor ao 
								Reino. Tudo cujos valores fossem diferentes do 
								Reino. Infelizmente, 
								ainda hoje muitos interpretam essas palavras ao 
								pé da letra, e criam 
								uma religião que sataniza e demoniza quase tudo, 
								uma religião de 
								exorcismos e diabos - mas sempre no nível 
								intimista e individual. 
								Devemos nos perguntar - quais os espíritos 
								imundos em nós, nas nossas 
								comunidades, na nossa sociedade, que precisam 
								ser expulsos? Não é 
								difícil achá-los: tudo que se opõe à vida, à 
								dignidade humana, à 
								justiça e à solidariedade. Onde se vive o 
								Evangelho, não há lugar para 
								o espírito de individualismo, de 
								competitividade, de exclusão, que é 
								característica da nossa sociedade neoliberal, 
								nossa sociedade de 
								morte! O cristão não pode compactuar com tal 
								sociedade e com as suas 
								estruturas. As nossas celebrações não são para 
								nos refugiarmos nelas, 
								mas para nos fortalecermos na luta pelo mundo 
								novo, pela utopia de 
								Jesus! Por isso, em primeiro lugar, os 
								discípulos tinham que se 
								libertar do espírito de acúmulo - não levar 
								coisas, como sinal da 
								chegada do Reino. 
								 
								Mas, Jesus os adverte que nem todos iriam 
								acolher a sua 
								mensagem - pois a mensagem de Jesus 
								necessariamente entra em conflito 
								com o espírito do egoísmo, enraizado na 
								sociedade. Vale para os nossos 
								tempos - uma Igreja comprometida com os valores 
								do Evangelho será uma 
								Igreja rejeitada pelos poderes desse mundo. 
								Quando somos bem aceitos 
								por todos, é porque não questionamos, porque 
								perdemos a nossa voz 
								profética! A Igreja verdadeira suscita mártires 
								(literalmente, 
								testemunhas) e não acomodados! 
								 
								O nosso texto nos convida a um exame de 
								consciência sobre 
								a "missionariedade" da nossa vida. A minha vida, 
								a da minha 
								comunidade, se resumem na vivência interna das 
								estruturas da Igreja, 
								ou me leva a ser testemunha no meio da 
								sociedade, profetizando e 
								demonstrando a chegada do Reino, não tanto pelas 
								palavras, mas pelos 
								valores que vivencio? Uma Igreja que não seja 
								missionária (que não 
								significa ser prosélita) é uma Igreja morta. 
								Lembremo-nos que, pelo 
								batismo, somos todos discípulos-missionários, 
								continuadores da missão 
								de Jesus! 
								 
								 
								 
								DÉCIMO SEXTO DOMINGO COMUM (22.07.12) 
								 
								Mc 6, 30-34 
								 
								"Jesus teve compaixão" 
								 
								 
								 
								Até uma leitura superficial do texto de hoje faz 
								saltar 
								aos olhos um tema muito central - o da 
								"compaixão" de Jesus. Aliás, os 
								evangelhos todos - e especialmente Lucas - 
								enfatizam este aspecto da 
								personalidade e da missão de Jesus. Ele 
								demonstrou a quem o 
								encontrasse a verdadeira natureza de Deus: de 
								ter compaixão para todos 
								os que sofrem. 
								 
								Os versículos de hoje demonstram este traço de 
								Jesus no seu relacionamento com os discípulos e 
								com as multidões. 
								 
								Com os discípulos, Ele ressalta a necessidade de 
								descanso 
								depois das tarefas apostólicas. Quando voltam 
								empolgados com os 
								resultados da missão, a primeira reação do 
								Mestre é convidá-los para 
								uma retirada, para que possam refazer as forças. 
								Jesus tem critérios 
								que não correspondem com o grande critério da 
								nossa sociedade - o da 
								eficácia! Para Ele, os apóstolos não eram 
								máquinas, mas pessoas 
								humanas que necessitavam de serem tratadas como 
								tal. O trabalho - 
								mesmo o trabalho missionário - não é o absoluto. 
								Jesus reconhece a 
								necessidade de um equilíbrio entre todos os 
								aspectos da vivência 
								humana. Aqui há uma lição para muitos cristãos 
								engajados hoje - embora 
								devamos nos dedicar ao máximo pelo apostolado, 
								não devemos descuidar 
								das nossas vidas particulares, do cultivo de 
								valores espirituais, da 
								saúde e do relacionamento afetivo com os outros. 
								Caso contrário, 
								estaremos esgotados em pouco tempo, meras 
								máquinas ou funcionários do sagrado, que não 
								mostram ao mundo o rosto compassivo do Pai. 
								 
								Mais ainda, o texto ressalta a compaixão de 
								Jesus para com 
								o povo sofrido. Era tão procurado pelo povo, 
								rejeitado e desprezado 
								pelos chefes político-religiosos de então, que 
								nem tinha tempo para 
								comer. Quando Ele se retirava, o povo ia atrás 
								d' Ele. O que atraía 
								tanta gente? Com certeza não foi em primeiro 
								lugar a doutrina, nem os 
								milagres, mas o fato de irradiar compaixão, de 
								demonstrar de uma 
								maneira concreta o amor compassivo de Deus. 
								Jesus não teve "pena" do 
								povo, não teve "dó" dos sofridos. Teve 
								"compaixão", literalmente, 
								sofria junto, e tinha uma empatia pelos 
								sofredores, que se 
								transformava numa solidariedade afetiva e 
								efetiva. 
								 
								Este traço da personalidade de Jesus desafia as 
								Igrejas e os seus 
								ministros hoje, para que não sejam burocratas do 
								sagrado, mas 
								irradiadores da compaixão do Pai. Infelizmente a 
								frieza humana 
								frequentemente marca as nossas atitudes, 
								pregações e cuidado pastoral. 
								Em um mundo que exclui, que marginaliza e que só 
								valoriza quem consome 
								e produz, o texto de hoje nos desafia para que 
								nos assemelhemos cada 
								vez mais a Jesus, irradiando compaixão diante 
								das multidões, hoje, 
								como dois mil anos atrás, semelhantes a "ovelhas 
								sem pastor". 
								 
								 
								 
								DÉCIMO SÉTIMO DOMINGO COMUM (29.07.12) 
								 
								Jo 6, 1-15 
								 
								"Pegou os pães, agradeceu a Deus e os 
								distribuiu" 
								 
								 
								 
								A liturgia de hoje interrompe as leituras do 
								Evangelho de 
								Marcos e insere um trecho tirado do capítulo 
								sexto de João - o que 
								comumente chamamos o milagre da "Multiplicação 
								dos Pães". Logo, vale 
								lembrar que este é o único milagre contado pelos 
								quatro evangelhos, 
								tanto pela tradição sinótica como da Comunidade 
								do Discípulo Amado. 
								Isso mostra claramente que, para as primeiras 
								comunidades cristãs de 
								diversas tradições, a história hoje relatada 
								possuía um grande valor e 
								uma mensagem muito importante. 
								 
								Os quatro relatos seguem basicamente o mesmo fio 
								da meada, 
								com as divergências próprias a cada tradição e 
								teologia. O enfoque 
								mais "sacramental" ou "eucarístico" é do João, 
								mostrando mais uma vez 
								uma das características da comunidade do 
								Discípulo Amado: a de ter uma 
								teologia eucarística mais desenvolvida. 
								 
								Embora seja um dos relatos mais conhecidos dos 
								evangelhos, 
								vale a pena sublinhar um elemento que talvez 
								possa parecer estranho: 
								embora nós sempre nos refiramos ao milagre da 
								"multiplicação dos 
								pães", em nenhum dos quatro relatos usa-se o 
								verbo "multiplicar"! 
								Usam-se outros termos nos quatro evangelhos: 
								"pegar", "benzer" 
								"distribuir", "partilhar"! Não é o caso de 
								discutir aqui o que foi que 
								Jesus fez! Nem teríamos condições de descobrir. 
								O enfoque é outro. Se 
								os evangelistas tivessem colocado a ênfase sobre 
								o "multiplicar", ou 
								seja, sobre o estritamente milagroso, então a 
								história não teria 
								grandes conseqüências para nós hoje, pois nós 
								não temos o poder de 
								fazer milagres! Mas, colocando a ênfase sobre a 
								o "partilhar" e o 
								"distribuir", então os evangelistas nos desafiam 
								hoje! Pois, partilhar 
								e distribuir estão ao nosso alcance! 
								 
								No Brasil, com tanta gente assolada pela 
								injustiça e 
								miséria, não precisamos multiplicar nada! O 
								Brasil não precisa 
								multiplicar terras - somos um dos maiores países 
								do mundo! Nem precisa 
								multiplicar a renda - somos a oitava ou nona 
								potência econômica do 
								mundo! Não! O que precisamos é de uma partilha e 
								uma redistribuição 
								das terras e da renda. O que precisamos é uma 
								mudança de mentalidade, 
								de coração e das estruturas, e não milagres 
								paliativos. A história de 
								João e dos outros evangelistas insiste que a 
								solução para a carência 
								se acha na solidariedade, na partilha e na 
								redistribuição, a partir da 
								nossa fé no Deus da Vida. 
								 
								Outro elemento importante no relato joanino do 
								evento é a 
								atuação do menino que tinha cinco pães de cevada 
								e dois peixinhos - o 
								seu lanche. Mesmo sendo suficiente somente para 
								ele, ele dispõe dos 
								pães e peixes, através do André. Esse gesto de 
								partilha, abençoado por 
								Jesus, faz com que todos se fartem! O relato 
								ressalta que foram pães 
								de cevada - a comida do pobre. Também aqui há 
								uma releitura de um 
								evento na vida do profeta Eliseu, que também 
								"multiplicou" pães de 
								cevada (2Rs 4, 42-44). Sem a colaboração deste 
								rapaz simples, 
								oferecendo o pouco que tinha, Jesus não poderia 
								ter alimentado essas 
								pessoas. Assim, o texto nos desafia para 
								descobrirmos quais são os 
								"cinco pães de cevada" que cada um tem, e de 
								colocá-los a serviço da 
								comunidade. Quando todos partilham o pouco que 
								têm, sobrará! Quando 
								cada um que tem algo segura para si, falta para 
								muitos! 
								 
								Já mencionamos que João, colocando o relato no 
								capítulo 
								sexto, onde tem o discurso do Pão da Vida, 
								focaliza o aspecto 
								eucarístico. Participar da Eucaristia é 
								comprometermo-nos com o mundo 
								de solidariedade e partilha, onde os bens 
								materiais - mais do que 
								suficientes - serão distribuídos e partilhados, 
								criando assim, de uma 
								maneira real entre nós, o Reinado de Deus. Como 
								diz um canto de 
								comunhão, "Comungar é tornar-se um perigo, 
								viemos pra incomodar". A 
								mensagem da "multiplicação" dos pães incomoda, e 
								muito, pois aponta 
								para as consequências da nossa participação na 
								Eucaristia! 
								 
								- - - 
								 
								Tomaz Hughes, SVD 
								 
								e-mail: thughes@netpar.com.br 
								 
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								Pe. Tomaz Hughes, SVD 
								 
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