Theresa Catharina de Góes Campos

  REFLEXÕES DE DUAS JORNALISTAS EM TORNO DE ARTIGO SOBRE POLÍTICA

De: Theresa Catharina de Goes Campos
Data: 26 de junho de 2012 23:54
Assunto: REFLEXÕES DE DUAS JORNALISTAS EM TORNO DE ARTIGO SOBRE POLÍTICA
Para: terezahalliday


Tereza Lúcia:

Fiquei mais tranquila, sabendo que você compreendeu ( como de hábito, inclusive por ser uma pessoa de valores humanistas, porém, com personalidade objetiva e bastante realista, pragmática ) a minha posição, às vezes ingrata, mas sempre pautada pelo idealismo das metas e dos valores que escolhi para me conduzirem na vida. Aliás, se não os abrigasse no meu coração, no meu íntimo e à flor da pele, tenho certeza de que eu já teria "naufragado" neste oceano bravio do mundo... Portanto, com certeza é uma questão essencial porque determina a minha sobrevivência.
(...)
Muito obrigada por sua generosa e regular colaboração a meus sites, me enviando os seus excelentes artigos.

Abraços cordiais de
Therezita

De: Tereza Lúcia Halliday
Data: 26 de junho de 2012 21:26
Assunto: Resposta: Houve uma certa coincidência de pensamento, ref. Fw: Artigo quinzenal (R5) 18/6/2012
Para: Theresa Catharina de Goes Campos

Beleza de reflexão, Therezita!
Inspiradora e reveladora de seus valores mais caros.

Em recente artigo, eu explicitei "Razões para não falar de política", no meu espaço quinzenal no Diário de Pernambuco. Todavia, fiz uma exceção quando percebi o lado ridículo e lamentável do episódio, ao acompanhar na imprensa a contenda reportada em meu artigo de 18/6/2012, que você teve a generosidade de disseminar, ao vê-lo pelo ângulo educativo. Muito grata.

Infelizmente o conceito de "política" (no sentido mais nobre, citado por você) é hoje tão distorcido quanto o significado do sinal amarelo nos semáforos: a maioria dos motoristas o interpreta como "Acelere e passe", quando ele quer dizer "Diminua a velocidade e pare". Política virou profissão rendosa e interesseira. Como os motoristas que querem levar vantagem nos semáforos e na rua.

Mas não concordo que todos os políticos são "farinha do mesmo saco". Sempre há as raras e honrosas exceções.

O Diário de Pernambuco prestigiou meu texto "Os Políticos e a Boneca", dando-lhe uma ilustração: Dois homens engravatados puxando a boneca, cada um por um braço.

De forma alguma espero que você publique todos os meus textos.
Seria muita pretensão e falta de entendimento do que é a liberdade de escolha de material por uma jornalista conscienciosa como você.

Que bom que a gente se entende!

Abração,
Tereza Lúcia


From: Theresa Catharina de Goes Campos
To: terezahalliday
Sent: Tuesday, June 26, 2012 12:25 AM
Subject: Houve uma certa coincidência de pensamento, ref. Fw: Artigo quinzenal (R5) 18/6/2012


Caríssima Tereza Lúcia:

Gostei demais de receber a sua mensagem, tão amiga e compreensiva. Foi ótimo, você me ter escrito sobre o assunto.

Acredite: houve uma certa coincidência de pensamento, com relação ao seu artigo sobre um tema bastante inserido na realidade atual, lamentavelmente. Suas palavras são sinceras, verdadeiras, ao mesmo tempo que ousadas e, por isso, corajosas.

Recebi desde a primeira vez que me enviou, não vou mentir . E assim eu logo pude encaminhar para inúmeras pessoas, já divulgando e disseminando uma conscientização melhor sobre as nossas autoridades e candidatos a autoridades.

Perdoe-me, contudo, a demora na publicação. Na primeira leitura, ou melhor, desde a primeira linha, identifiquei o seu estilo de humor, às vezes cáustico, sarcástico na ironia refinada que, ao mesmo tempo, recorre também à sabedoria popular, enfim, uma linguagem única, que você usa com maestria.

Entretanto, o meu idealismo (que não morreu, apesar dos sonhos desfeitos...) provocou uma reação imediata: fiquei chocada e não consegui aceitar o seu texto, recebê-lo de braços abertos, como eu deveria. Por isso decidi "não decidir antes de refletir mais"...
Daí eu ter ficado indecisa, sobre colocar o seu excelente editorial . Precisei de tempo, acredite!

Talvez porque carregue comigo, entre as palavras importantes de minha vida, a herança etimológica de "política", no conceito clássico dos gregos, assim definida nos dicionários : "arte ou ciência de promover o bem comum". Quanta diferença com o que vemos: o que se diz não é o que se pensa e o que se faz. O Brasil segue "aos trancos e barrancos", sem escola, sem saúde, nem segurança (nas ruas e em nossos lares!), sem respeito à Constituição. As promessas são armadilhas !

O tempo de reflexão que me concedi me fez "descer das nuvens"... compreender a importância do artigo que você escreveu e, mais uma vez, gentilmente, teve a bondade de me ceder para eu publicar nos meus sites. MUITO OBRIGADA! Por favor, tenha paciência com a sua "editora", talvez não tão "moderna", nem tão rápida nas decisões, porque lenta nas reflexões...

Espero que este incidente não interrompa a nossa comunicação, nem que por isso eu desmereça, com tal episódio, a sua colaboração, que tanto prezo.

Aproveito para esclarecer meu procedimento, exemplificando...(...)
Sou bem rigorosa quando avalio os filmes de acordo com princípios éticos e morais, se têm algo positivo, denúncia, conscientização, ou se promovem a violência, os vícios, disseminam calúnias, distorções históricas... Procuro identificar algum elemento, no conteúdo e/ou na forma, que justifique a divulgação da obra nos espaços pelos quais sou responsável.
Meus sites não são dedicados primordialmente à cultura...quando tiver tempo, e paciência, por favor, leia os textos que escrevi para os Expedientes, tentando explicar o que pretendo. Penso que muitos devem rir, ao tentar ler , mas alguns, vão compreender. Espero que você esteja entre estes...

http://www.arteculturanews.com/index%20-%20expediente.htm

http://www.noticiasculturais.com/index-expediente.htm

http://www.theresacatharinacampos.com/expediente.htm


Abraços carinhosos de
Therezita


De: Tereza Lúcia Halliday
Data: 25 de junho de 2012 21:57
Assunto: Fw: Artigo quinzenal (R5) 18/6/2012
Para: Theresa Catharina de Goes Campos


Querida Therezita:

Tão acostumada com o privilégio de ter meus textos divulgados por você, fiquei em dúvida se não recebeu este ou se recebeu, mas o considerou impróprio para a linha dos seus sites, por não ser assunto cultural.
Em todo caso quero partilhá-lo com você pessoalmente, sem nenhuma implicação de que seja disseminado.
Com carinho e gratidão,
Tereza Lúcia.

OS POLÍTICOS E A BONECA

Tereza Halliday – Artesã de Textos
terezahalliday

Coquetel de testosterona com adrenalina só dá coisa boa se for para o amor. Em escalamento de time de pelada na praia, ou em disputa eleitoral , dá bôlôlô, segundo gíria antiga. “Uns hôme véio barbado, mas sem sabiduria”, diria seu Zequiel, acendedor de fogueira de São João na minha infância. Aquilo é que era fogueira bonita! Não esse fogaréu de contendas buscando fazer churrasco do opositor, dentro ou fora do partido. Um bando de afilhados de Zangado, anão de Branca de Neve, aspirantes a Dunga, Mestre ou Feliz.

Recente disputa entre pré-candidatos e candidatos a eleição municipal, fez-me lembrar deste poema de Olavo Bilac, decorado no curso primário (hoje, ensino fundamental): “Deixando a bola e a peteca / com que ainda há pouco brincavam,/ Por causa de uma boneca / duas meninas brigavam./ Dizia a primeira: “É minha” / “É minha!”, a outra gritava./ E nenhuma se continha / Nem a boneca largava. / Quem mais sofria, coitada / era a boneca: já tinha / Toda a roupa estraçalhada / e amarrotada a carinha. / Tanto puxaram por ela / que a pobre rasgou-se ao meio / Perdendo a estopa amarela / que lhe formava o recheio. / E ao fim de tanta fadiga / deixando a bola e a peteca / Ambas, por causa da briga / ficaram sem a boneca.”

Se algum leitor logo perceber em quem caem as carapuças e, se a contenda em questão não for do partido de sua preferência, tire o cavalinho da chuva, porque seu partido de estimação também é capaz de fazer a mesmíssima coisa. Às vezes, apenas com um gingado mais habilidoso nos golpes de capoeira. No final, quem mais sofre não é a boneca, é o eleitor. E acabam n os empurrando goela abaixo as tais alianças de jacaré com cobra d´água, em nome da governabilidade. Taí um aspecto civilizado da política!

Quando vejo candidato a plantonista quadrienal da gestão do município, estado ou país, na briga pelo cobiçado cargo, lembro deste comentário de um líder estudantil dos meus tempos de colégio, primo do governador de então: “A coisa melhor do mundo é ser governo!”. Apesar dos abacaxis e pepinos, das olheiras, do envelhecimento visível ao fim do mandato, governo deve ser mesmo coisa muito boa. Quem não é, quer ser. Quem é, quer continuar sendo. Felizmente existem eleições permitindo seguir o conselho de Eça de Queiroz: mudar os políticos e as fraldas com frequência – pela mesma razão.
(Diário de Pernambuco, 18/06/2012).

 

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