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De: Sae Ikari
Data: 23 de julho de 2012 12:18
Assunto: O QUE É INTELIGÊNCIA ? - ISAAC ASIMOV
(1920~1992)
Mas afinal, o que é inteligência?
(por Isaac Asimov - 1920~1992)
Quando eu estava no exército, fiz um teste de
aptidão, solicitado a todos os soldados, e
consegui 160 pontos.
A média era 100.
Ninguém na base tinha visto uma nota dessas e
durante duas horas eu fui o assunto principal..
(Não significou nada – no dia seguinte eu ainda
era um soldado raso da KP – Kitchen Police)
Durante toda minha vida consegui notas como
essa, o que sempre me deu uma ideia de que eu
era realmente muito inteligente. E eu imaginava
que as outras pessoas também achavam isso.
Porém, na verdade, será que essas notas não
significam apenas que eu sou muito bom para
responder um tipo específico de perguntas
acadêmicas, consideradas pertinentes pelas
pessoas que formularam esses testes de
inteligência, e que provavelmente têm uma
habilidade intelectual parecida com a minha?
Por exemplo, eu conhecia um mecânico que jamais
conseguiria passar em um teste desses, acho que
não chegaria a fazer 80 pontos. Portanto, sempre
me considerei muito mais inteligente que ele.
Mas, quando acontecia alguma coisa com o meu
carro e eu precisava de alguém para dar um jeito
rápido, era ele que eu procurava. Observava como
ele investigava a situação enquanto fazia seus
pronunciamentos sábios e profundos, como se
fossem oráculos divinos.
No fim, ele sempre consertava meu carro.
Então imagine se esses testes de inteligência
fossem preparados pelo meu mecânico.
Ou por um carpinteiro, ou um fazendeiro, ou
qualquer outro que não fosse um acadêmico..
Em qualquer desses testes eu comprovaria minha
total ignorância e estupidez. Na verdade, seria
mesmo considerado um ignorante, um estúpido.
Em um mundo onde eu não pudesse me valer do meu
treinamento acadêmico ou do meu talento com as
palavras e tivesse que fazer algum trabalho com
as minhas mãos ou desembaraçar alguma coisa
complicada eu me daria muito mal. A minha
inteligência, portanto, não é algo absoluto mas
sim algo imposto como tal, por uma pequena
parcela da sociedade em que vivo.
Vamos considerar o meu mecânico, mais uma vez.
Ele adorava contar piadas.
Certa vez ele levantou sua cabeça por cima do
capô do meu carro e me perguntou:
“Doutor, um surdo-mudo entrou numa loja de
construção para comprar uns pregos. Ele colocou
dois dedos no balcão como se estivesse segurando
um prego invisível e com a outra mão, imitou
umas marteladas. O balconista trouxe então um
martelo. Ele balançou a cabeça de um lado para o
outro negativamente e apontou para os dedos no
balcão. Dessa vez o balconista trouxe vários
pregos, ele escolheu o tamanho que queria e foi
embora.
O cliente seguinte era um cego. Ele queria
comprar uma tesoura. Como o senhor acha que ele
fez?”
Eu levantei minha mão e “cortei o ar” com dois
dedos, como uma tesoura.
“Mas você é muito burro mesmo! Ele simplesmente
abriu a boca e usou a voz para pedir”
Enquanto meu mecânico gargalhava, ele ainda
falou:
“Tô fazendo essa pegadinha com todos os clientes
hoje.”
“E muitos caíram?” perguntei esperançoso.
“Alguns. Mas com você eu tinha certeza absoluta
que ia funcionar”.
“Ah é? Por quê?”
“Porque você tem muito estudo, doutor, sabia que
não seria muito esperto”
E algo dentro de mim dizia que ele tinha alguma
razão nisso tudo.
(tradução livre do original “What is
inteligence, anyway?”) |
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