Reflexões
Homiléticas para Outubro
de 2012
Pe. Tomaz
Hughes, SVD
E-mail:
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VIGÉSIMO SÉTIMO DOMINGO
COMUM (07.10.12)
Mc 10,
2-16
“O que Deus uniu, o
homem não deve separar”
Continuando a caminhada
d’Ele rumo a Jerusalém,
onde o poder central
religioso-político vai
condená-Lo à morte, no
intuito de acabar não
somente com a pessoa
d’Ele, mas, com o seu
ensinamento d’Ele,
Jesus, no texto de hoje,
entra primeiro em
controvérsia com os
fariseus, os guardiães
da prática fiel da Lei.
Esses, que gozavam de
prestígio diante da
população mais simples,
se auto-outorgavam o
direito de serem os
únicos intérpretes
autênticos da vontade de
Deus. Por isso, entram
em conflito com Jesus,
não na busca de conhecer
melhor a vontade do Pai,
mas, como ressalta o
texto “para tentá-lo”
(v. 2). O campo de
batalha escolhido era o
debate sobre o divórcio.
O texto de referência
para eles era Dt 24,
1-4, onde não se trata
da legitimidade do
divórcio, mas, dos
critérios para que possa
acontecer.
O
evangelho de Mateus, no
Capítulo 19, deixa mais
claro do que Marcos o
sentido do debate (Mt
19, 1-9). O pano de
fundo eram os critérios
necessários para que um
homem pudesse divorciar
a sua mulher (nem se
cogitava a mulher
pudesse divorciar o
marido, pois a mulher
era considerada “objeto”
que pertencia ao
homem!). No tempo de
Jesus havia duas
tendências, simbolizadas
pelas escolas rabínicas
dos grandes fariseus
Hillel e Shammai. Uma
escola, mais laxista
(Hillel), ensinava que
se podia divorciar a
mulher por qualquer
motivo, mesmo dos mais
banais. A escola mais
rigorosa - do Shammai -
só permitia o divórcio
por motivos muito
sérios. Por isso, em
Mateus a pergunta se
define melhor: “é
permitido divorciar a
mulher por qualquer
motivo que seja?” (Mt
19, 4).
Em ambos
os evangelhos, Jesus se
recusa a entrar no
debate de casuística que
cercava a questão e se
limitava a reafirmar o
projeto do Pai para o
casamento: “Portanto, o
que Deus uniu, o homem
não deve separar”. Aqui,
Jesus reafirma com toda
firmeza o ideal do
casamento cristão - uma
união permanente,
baseada no amor, e
fortalecida pela graça
do sacramento. Seria
inútil buscar nesse
trecho uma teologia mais
desenvolvida do
casamento, muito menos
orientações pastorais
para os problemas
práticos de casamentos
malsucedidos, pois, isso
não foi a intenção do
autor. Marcos
simplesmente reafirma o
princípio de que “o que
Deus uniu, o homem não
deve separar”. Deixa em
aberto a questão de
quando é que Deus
realmente uniu o casal!
Será que, só porque
passaram por uma
cerimônia validamente
celebrada na igreja, um
casal é necessariamente
unido por Deus? Os
problemas reais são
muito mais complexos,
angustiantes e difíceis
de serem solucionados.
O trecho
continua com a questão
das crianças. A questão
aqui não é a criança
como símbolo da
inocência; mas, de
dependência. As crianças
e os que se assemelham
com elas vivem essa
situação de dependência,
de “sem-poder”. Quem
quer entrar no Reino de
Deus terá que abrogar-se
de todo poder dominador,
tornando-se como
criança.
Negando de
aceitar a situação em
que a mulher era simples
objeto de posse do homem
e assim passível de ser
divorciada, e propondo o
fraco e dependente como
modelo, em uma sociedade
que valorizava o
prepotente, Jesus mostra
que os valores do Reino
de Deus estão na
contra-mão dos valores
da sociedade do seu
tempo - e de hoje.
Propõe uma igualdade de
dignidade entre homem e
mulher, uma fidelidade e
compromisso permanentes,
e a busca de uma vida de
serviço e não de
dominação! Realmente,
uma proposta no
contra-fluxo da
sociedade pós-moderna
que nega o permanente,
perpetua o machismo e
admira o poderoso e
dominador! O texto de
hoje nos convida para
que, entremos “com
Jesus, na contra-mão” e
para que criemos uma
sociedade baseada em
outros valores do que os
hoje em vigor, às vezes
até no seio das próprias
igrejas.
FESTA DA
NOSSA SENHORA APARECIDA
(12.10.12)
Jo 2,
1-12
“Façam
tudo o que ele lhes
disser”
A
primeira parte do Quarto
Evangelho é comumente
chamada “O Livro dos
Sinais”, pois, o
evangelista relata uma
série de sete sinais
que, passo por passo,
revelam quem é Jesus, e
qual é a missão d’Ele
(embora algumas bíblias
traduzam o termo grego
por “milagre”, a
tradução mais correta é:
“Sinal”). O
primeiro desses sinais
aconteceu no contexto
das bodas de Caná, o
nosso texto de hoje.
Como quase todo o
Evangelho de João, o
relato está carregado de
simbolismos, onde
pessoas, números e
eventos funcionam
simbolicamente, para nos
levar além da superfície
das coisas, em uma
caminhada de descoberta
sobre a pessoa de Jesus.
Um dos
temas centrais do quarto
evangelho é o da “hora”
de Jesus. A “hora” não
se refere à cronometria,
mas à hora de
glorificação de Jesus,
por sua morte e
ressurreição. Em
resposta ao pedido feito
por Maria (note que João
nunca se refere a Ela
pelo nome, mas pelo
título “mulher”), usando
de uma maneira um tanto
estranha este termo para
a mãe d’Ele, João quer
indicar que Jesus
rejeita uma esfera
meramente humana de ação
para Maria, para
reservar para Ela um
papel muito mais rico,
ou seja, o da mãe dos
seus discípulos. Maria
somente vai aparecer
mais uma vez neste
evangelho - ao pé da
cruz, onde Ela e o
Discípulo Amado assumem
um relacionamento de
Filho e Mãe. Devemos
lembrar que o Discípulo
Amado simboliza a
comunidade dos
discípulos/as do Senhor.
Não
devemos reduzir a ação
da Maria no texto à de
uma incomparável
intercessora. Embora
seja comum esta
interpretação na devoção
popular, não se sustenta
do ponto de vista
exegético. É melhor ver
Maria aqui como
discípula exemplar, pois
embora a resposta de
Jesus indique um
distanciamento entre a
sua expectativa e a
visão d’Ele, Ela
continua com confiança
n’Ele e leva outros a
acreditar nele: “Façam
tudo o que Ele lhes
disser”.
O
simbolismo da água
tornada vinho é também
importante. Não era
qualquer água - era a
água da purificação dos
judeus. Com essa
história, João quer
mostrar que doravante os
ritos judaicos de
purificação estão
superados, pois a
verdadeira purificação
vem através de Jesus.
Podemos entender isso
como a mudança de uma
prática religiosa
baseada no medo do
pecado, uma prática que
excluía muita gente
considerada impura, para
uma nova relação entre
Deus e a humanidade, a
partir de Jesus. Assim,
em Caná Jesus começa a
substituir as práticas
do judaísmo do Templo, o
que vai continuar ao
longo do Evangelho de
João.
A quantia do
vinho chama a atenção -
600 litros! O vinho em
abundância era símbolo
dos tempos messiânicos,
e na tradição rabínica,
a chegada do Messias
seria marcada por uma
colheita abundante de
uvas. Assim João quer
dizer que a expectativa
messiânica se realiza em
Jesus. E as talhas
transbordantes
simbolizam a graça
abundante que Jesus
traz.
A figura
do mestre-sala é também
simbólica, bem como a
dos serventes. Aquele
que devia saber a origem
do vinho da festa, não o
sabia, enquanto estes,
sabiam. Assim, o
mestre-sala representa
os chefes do Templo que
não sabiam a origem de
Jesus enquanto os servos
representam os
discípulos que
acreditaram n’Ele.
Fazendo
comparação entre o vinho
antigo e o novo, João
quer reconhecer que a
Antiga Aliança era boa,
mas a Nova a superou. Os
ritos e práticas
judaicos, ligados à
purificação e ao
sacrifício, não têm mais
sentido, pois uma nova
era de relacionamento
entre a humanidade e
Deus começou em Jesus.
O ponto
culminante do relato
está em v. 11: “Foi em
Caná que Jesus começou
os seus sinais, e os
seus discípulo
acreditaram n’Ele”. A fé
deles não é intelectual
ou teórica, mas o
seguimento concreto do
Mestre, na formação de
novos relacionamentos de
amor. Passo por passo, o
autor vai revelando
Jesus através de sinais
para que nós, os
leitores, possamos
“acreditar que Jesus é o
Messias, o Filho de
Deus. E para que,
acreditando, tenhamos a
vida em seu nome” (Jo
20, 31).
VIGÉSIMO OITAVO DOMINGO
COMUM (14.10.12)
Mc 10,
17-30
“Como é difícil entrar
no Reino de Deus”
O nosso
texto inicia-se com a
frase: “Quando Jesus
saiu de novo a
caminhar”. Mais uma vez,
estamos na caminhada com
Jesus, na caminhada que
é uma aprendizagem para
o discipulado, uma
caminhada que o leva
cada vez mais perto a
Jerusalém, lugar da
crise definitiva da sua
vida. Ao longo dessa
caminhada, Jesus luta
com a incompreensão dos
seus discípulos, até dos
mais chegados a Ele,
pois a mentalidade deles
era formada pela
ideologia dominante, e
assim tinham a maior
dificuldade em apreciar
a reviravolta de valores
que Jesus e a sua
mensagem significavam.
Nos domingos anteriores,
vimos essa tensão no
trato das questões do
poder, do divórcio, das
crianças. No nosso texto
de hoje, Jesus põe em
cheque o ensinamento
comum sobre a riqueza e
a pobreza.
A cena é
muito conhecida - um
homem pede orientação
sobre como entrar na
vida eterna. Em um
primeiro momento, Jesus
coloca diante dele a
exigência conhecida por
todo judeu piedoso e
ensinada pelas escolas
rabínicas - o
cumprimento dos
mandamentos. Mas o homem
- sem dúvida um
praticante piedoso da
Lei - sente que isso não
é o suficiente, antes, é
o mínimo. Assim, Jesus
põe diante dele as
exigências do Reino - o
seguimento d’Ele, o
despojamento dos bens, a
partilha e a
solidariedade. Isso o
homem é incapaz de
aceitar. Estava amarrado
aos seus bens, pois era
muito rico (v. 22). Fez
a sua opção - optou por
uma vida “regular” que
não exigisse partilha
nem despojamento, e como
consequência foi embora
“muito abatido” - pois
tinha colocado bens
secundários acima do bem
maior.
Porém, o
centro do relato está no
debate entre Jesus e os
discípulos d’Ele. O
Mestre afirma que “é
mais fácil passar um
camelo pelo buraco de
uma agulha, do que um
rico entrar no Reino de
Deus!” (v. 25). Muitas
vezes gastamos tanta
energia em debater o que
significa “o buraco da
agulha” (quase sempre
tentando diminuir o seu
impacto!) e deixamos de
lado o aspecto mais
importante - a reação
dos discípulos! Eles
ficaram “muito
espantados” quando
ouviram isso e se
perguntaram “então quem
pode ser salvo?”. Por
que ficaram espantados?
O que houve de espantoso
na colocação de Jesus?
Aqui está o âmago da
questão.
O espanto
dos discípulos - também
todos judeus praticantes
e piedosos - era causado
pelo fato de que, na
ideologia religiosa
vigente, a riqueza era
considerada sinal da
bênção de Deus, e a
pobreza como sinal da
maldição (uma ideia
presente em certas
seitas hoje e que às
vezes infiltra certas
pregações sobre o dízimo
na própria Igreja
Católica!). Para eles,
quem não iria se salvar
era o pobre, pois o rico
era abençoado. Aqui é
bom lembrar que se trata
de “entrar no Reino de
Deus”, o que não é
sinônimo de salvação
eterna. A salvação
depende da gratuidade e
misericórdia de Deus, e
diante de tal mistério
só cabe à gente
calar-se. Mas, o Reino
de Deus deve ser uma
experiência já existente
entre nós, mesmo que não
em plenitude, e que
significa experimentar
na vida os valores do
Reino. O rico
dificilmente entra nesta
dinâmica porque
normalmente é
auto-suficiente,
atrelado a um sistema
classista e injusto, e
com grande dificuldade
tanto de repartir como
de sentir a sua
dependência de Deus.
A
proposta de Jesus
desafia as ideologias
que veem a riqueza como
sinal da bênção de Deus.
A proposta d’Ele não é a
riqueza, mas a partilha;
não é a acumulação, mas
a solidariedade e a
justiça, para que todos
possam ter o suficiente.
O texto deixa claro que
quem quer viver esta
proposta vai sofrer,
pois o mundo não vai
aceitá-la. Quem segue
Jesus na prática da
solidariedade, encontra
uma felicidade mais
duradoura, mas com
perseguição; porém, já
vive a certeza da
plenitude do Reino que
virá (v. 29-31).
VIGÉSIMO NONO DOMINGO
COMUM (21.10.12)
Mc 10,
35-45
“Quem de vocês quiser
ser o primeiro, deverá
tornar-se o servo de
todos.”
No
esquema do Evangelho de
Marcos, o texto de hoje
situa-se quase no fim da
caminhada de Jesus com
os seus discípulos para
Jerusalém, o lugar do
desfecho de toda a
missão d’Ele. Pela
terceira vez, Ele tem
dado aos seus mais
íntimos colaboradores o
anúncio sobre a sua
paixão e morte: “Eis que
estamos subindo para
Jerusalém, e o Filho do
Homem vai ser entregue
aos chefes dos
sacerdotes e aos
doutores da Lei. Eles o
condenarão à morte e o
entregarão aos pagãos.
Vão caçoar d’Ele, cuspir
n’Ele, vão torturá-lo e
matá-lo”. De novo, uma
colocação mais do que
clara sobre o que
significa ser o messias
de Deus que não surte
efeito - os discípulos,
cegados pela ideologia
dominante, não são
capazes de entender o
sentido da vida de
Jesus, e, por
conseguinte, o sentido
de ser discípulo d’Ele.
Como Pedro, depois do
primeiro anúncio, e
todos os Doze depois do
segundo, João e Tiago
conseguem resistir ao
ensinamento de Jesus,
numa tentativa de impor
a sua própria agenda!
Apesar de
ouvirem que Jesus veio
para dar a sua vida em
serviço de todos, os
irmãos pedem os
primeiros lugares quando
Jesus entrasse na sua
glória. O desejo de
dominar estava muito
enraizado neles. É tão
gritante o descompasso
entre o ensinamento de
Jesus e os desejos dos
dois irmãos, que,
Mateus, relatando a
mesma historia, suaviza
o texto de Marcos,
fazendo com que a mãe
deles fizesse o pedido!
(Mt 10, 20). A queixa de
Deus no Antigo
Testamento de que o seu
povo era um povo de
“cabeça dura” se
atualiza nos Doze!
Mas, não
podemos pensar que eram
só os dois filhos de
Zebedeu que sentiram o
gosto pela dominação. É
interessante notar a
reação dos outros dez
diante do pedido feito:
“Quando os outros dez
discípulos ouviram isso,
começaram a ficar com
raiva de Tiago e João”
(v. 41). Por que ficaram
com raiva? Não porque
achavam sem sentido o
pedido dos dois, mas
porque, no fundo, cada
um deles queria ter o
lugar de honra e poder!
O vírus de dominação é
mais do que contagioso!
Mais uma
vez, Jesus demonstra
paciência histórica com
os seus seguidores.
Contrasta o sistema de
organização da sociedade
com aquele que queria
para a comunidade dos
seus discípulos: “entre
vocês não deve ser
assim: quem de vocês
quiser ser grande, deve
tornar-se o servo de
vocês; e quem de vocês
quiser ser o primeiro,
deverá tornar-se o servo
de todos” (vv. 43-44). E
deixa bem claro o motivo
- não por causa de uma
humildade qualquer, mas
porque Ele nos deu o
exemplo: “porque o Filho
do Homem não veio para
ser servido. Ele veio
para servir e para dar a
sua vida como resgate em
favor de muitos” (v.
45). Ser discípulo de
Jesus é ter o mesmo
ideal, a mesma prática
que Ele!
O texto
torna-se muito atual
para os dias de hoje.
Infelizmente, o
contraste feito por
Jesus entre os seus
seguidores e o sistema
da sociedade secular nem
sempre se verifica.
Existe, nos últimos anos
de forma mais acentuada,
uma busca de status e do
poder dentro do seio das
igrejas, talvez
especialmente entre o
clero mais jovem. Mas,
ninguém pode se achar
imune diante desta
tentação, pois está bem
enraizada dentro de
todos nós. Somente uma
mística bem cultivada do
seguimento de Jesus,
fundamentada na Palavra
da Escritura, poderá nos
ajudar para que
realmente construamos
uma Igreja onde se
demonstre que “entre
vocês não deve ser
assim”.
TRIGÉSIMO DOMINGO COMUM
(28.10.12)
Mc 10,
46-52
“E seguia Jesus pelo
caminho”
Estamos
no fim da caminhada de
Jesus, de Cesaréia de
Felipe até a sua morte e
ressurreição em
Jerusalém. No texto de
hoje, Marcos encerra o
bloco todo da caminhada
com o último milagre de
Jesus que ele relata - a
cura do cego Bartimeu.
O texto
começa com um senso de
urgência - chegaram a
Jericó e logo saíram.
Parece que Jesus têm
pressa para caminhar até
Jerusalém. E lá está o
cego Bartimeu. Onde?
Sentado à beira do
caminho! Enquanto Jesus
está “a caminho” com os
discípulos d’Ele, o cego
está à beira do caminho!
Simboliza todos os que
não conseguem caminhar
no discipulado, e estão
parados, à beira do
caminho do seguimento de
Jesus.
Este texto
está bem carregado de
sentido. Logo que
Bartimeu ouve que é
Jesus que passa, ele
grita fortemente! “Filho
de Davi, tem piedade de
mim!” É de novo um dos
temas centrais da Bíblia
- o grito do pobre e
sofrido! Desde o grito
do sangue de Abel,
passando pelo grito do
Êxodo, de Jó, dos pobres
nos Salmos, de Bartimeu,
de Jesus na Cruz, dos
martirizados do
Apocalipse, o tema do
grito do sofrido
perpassa toda a
Escritura, com a
garantia de que Deus
ouve esse grito. Mas, a
reação dos transeuntes é
típica - mandam que
Bartimeu se cale! O
poder dominante sempre
quer abafar o grito do
excluído! Isso não mudou
até os dias de hoje! Até
nas Igrejas existe quem
não queira ouvir o
grito, e faz de tudo
para abafar qualquer
iniciativa popular. Mas,
Deus ouve!
Com um
fino toque de ironia, o
texto mostra como, por
causa da atitude de
Jesus, os mesmos que o
mandaram calar, agora
têm que convidá-lo para
falar com Jesus. Porém,
para isso, Bartimeu tem
que lançar fora o manto
- a única coisa que ele
possuía, a sua única
segurança. É a sua
roupa, o seu cobertor à
noite, o que ele usa
para recolher as
esmolas. Ele o joga
fora, embora seja cego,
e não tem certeza que
vai ser curado. Como os
primeiros discípulos no
lago (Mc 1, 18.20), ele
aprende que não é
possível seguir Jesus
sem deixar algo, sem
arriscar a segurança
humana para experimentar
a mão de Deus.
É bom
notar que Jesus não
parte imediatamente para
a ação. Ele respeita a
liberdade do cego e
pergunta “o que quer que
eu faça por você?” (v.
51). Pois, Jesus não
obriga ninguém a se
libertar - há quem
prefira ficar sentado à
beira do caminho, no seu
comodismo e não opte
pela libertação. Mas,
Bartimeu quer ver de
novo - diferente do cego
de Jo 9 - cego de
nascença - ele via
anteriormente e tinha
perdido a visão. Aqui
ele simboliza a
comunidade marcana pelo
ano 70, que tinha
perdido a clareza da fé,
e que precisava o toque
de Jesus para que
voltasse a ver
claramente.
Curado,
Bartimeu recebe licença
para ir, para seguir a
sua vida. Mas, ele faz
uma outra opção: “no
mesmo instante o cego
começou a ver de novo e
seguia Jesus pelo
caminho” (v. 52). Ele
usava para Jesus um
titulo não muito
adequado “filho de
Davi”, pois em Mc 12,
35-37, Jesus fez muitas
restrições a este título
messiânico, mas ele tem
a prática
certa - segue
Jesus pelo caminho.
Aqui Marcos faz
contraste com a figura
de Pedro, que tinha o
título certo “Tu és
o Messias” (Mc 8, 29),
mas a prática errada!
Não quis que Jesus
caminhasse para a morte!
Assim, aqui, o modelo de
discípulo não é Pedro;
mas, Bartimeu! Pois,
mais importante do que
os títulos e expressões
teológicas, sem negar a
sua importância
relativa, é a prática do
seguimento de Jesus! Um
alerta para todos nós,
para que a nossa prática
seja coerente com a
nossa fé, no seguimento
de Jesus, em favor do
Reino de Deus!
- - -
Pe.
Tomaz Hughes, SVD
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