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								                              GONZAGA 
								– DE PAI PARA FILHO 
								
								                
								O 
								que mais impressiona em Gonzaga - De Pai Para 
								Filho, de Breno Silveira, que narra a 
								história do cantor e compositor Luís Gonzaga, é 
								a brilhante atuação de Júlio Andrade, no papel 
								de um dos dois protagonistas, o também cantor e 
								compositor Gonzaguinha, com quem o ator guarda 
								semelhança física extraordinária. 
								
								
								            O filme, orçado em R$ 12 milhões, 
								foi o escolhido para a sessão de abertura do 
								Festival do Rio deste ano. O argumento  tem como 
								fio condutor uma conversa gravada, entre pai 
								(Adelio Lima) e filho (Júlio Andrade), durante o 
								reencontro deles, depois de longo afastamento 
								mútuo, em Exu (Pernambuco), ao início dos anos 
								de 1980, no sítio do primeiro, amplamente 
								conhecido em sua região natal e no país, como o 
								Rei do Baião.  
								
								
								Naquela circunstância, o compositor de Asa 
								Branca, que conhecera o sucesso na década de 
								cinquenta, passava por dificuldades. Ele 
								amargava o ostracismo à causa do seu 
								posicionamento político, jamais negado, enquanto 
								o filho, promovido pela esquerda, mobilizava 
								multidões para os seus shows, ganhando até capa 
								de revista. O diálogo, conflituoso, entre duas 
								personalidades diferentes, ambas controversas, 
								 começa tenso pela cobrança de Gonzaguinha de 
								lhe haver faltado, da parte do pai, mais 
								presença e carinho nos tempos de sua infância:
								 
								
								-
								Sempre ausente, o 
								senhor só me mandava dinheiro!... 
								
								É 
								essa a oportunidade para que o sanfoneiro, que 
								estaria completando cem anos,  lembre ao filho, 
								até com bom humor em algumas passagens, como foi 
								a sua luta para se firmar no panorama artístico 
								nacional com a sua música de linha melódica e 
								rítmica essencialmente nordestina.  Ainda muito 
								jovem (Land Vieira) – 1929 -, Luís se apaixona 
								por uma vizinha, filha de um coronel. Ameaçado 
								 por ele de morte, tem de fugir de Exu, numa 
								madrugada, indo direto para Fortaleza (Ceará), 
								onde, para sobreviver e mandar dinheiro para a 
								família, se alista no exército, embora 
								contrariando o pai, Januário (Claudio 
								Jaborandy), que não o queria ver lutando como 
								soldado. 
								
								
								Passada a Revolução de 1930, da qual não 
								participou, Luís (Nivaldo Expedito de Carvalho) 
								foi para o Rio de Janeiro, onde começou a 
								batalhar a vida, no passeio público, tocando 
								acordeão com o violinista Xavier (Luciano 
								Quirino) que, casado com Dina (Silvia Buarque), 
								o leva a morar em sua casa, no Morro de São 
								Carlos. O roteiro de Patricia Andrade, de falhas 
								e de omissões, não esclarece como, tendo ele 
								desfeito a parceria,  continuou morando com 
								Xavier e a mulher e, mais tarde, levou o filho 
								(Giancarlo di Tomazzio) para o casal -  ele e 
								ela, padrinhos - criar, após a morte da mãe, 
								Odaléia (Nanda Costa),uma  dançarina de 
								gafieira, que conhecera  no Rio. 
								
								
								Ao longo do tempo, amaina o tom da prosa entre 
								pai e filho, que então tem lugar junto a um 
								juazeiro, em frente à fazenda que fora do 
								coronel, no qual ele gravara as letras iniciais 
								de seu nome e a da primeira namorada, que se 
								casou com homem rico da cidade, segundo lhe 
								informa a mãe, Santana (Cyria Coentro).  Todas 
								essas recordações de Luís continuam sendo por 
								ele ditas e gravadas pelo filho sob a pontuação 
								de suas  músicas e de outras, marcantes da 
								época, de Zequinha de Abreu,  de Noel Rosa,  de 
								Nelson Gonçalves, de Lamartine Babo e de um 
								aparentemente destoante tema original de 
								Gilberto Gil, que integram a trilha sonora de 
								Berna Ceppas. 
								
								A 
								direção de Breno Silveira, de bom manejo da 
								linguagem cinematográfica  – note-se a sábia 
								 movimentação de câmera na captação da cena da 
								mais acerba discussão, entre Gonzagão e 
								Gonzaguinha, tendo a intensidade da luz do sol 
								ao fundo que, depois, aos poucos, se atenua, 
								quando os ânimos se acalmam –, é voltada, 
								visando a bilheteria, para a enganosa retórica 
								do emocionalismo. 
								
								
								Se há deslizes na ambientação, na reconstituição 
								de época e na trilha sonora,  é na parte do 
								visual – produzida pela  esmerada fotografia  de 
								Adrian Tajildo  - e das interpretações, 
								preparadas por Sergio Penna, que se encontram os 
								melhores resultados obtidos por Silveira em seu 
								trabalho.  A  começar naturalmente pela 
								caracterização de Gonzaguinha, feita por Júlio 
								Andrade (Cão Sem Dono), que, além de ter 
								a identidade física, parece reproduzir, à 
								perfeição, até as radiações espirituais da 
								personagem. Não se pode também deixar de 
								destacar a participação de João Miguel (Xingu), 
								que, numa ponta, a do emissário na contratação 
								dos serviços de Luís como sanfoneiro de uma 
								festa, ilumina todo o filme. E quase o mesmo se 
								pode afirmar do estreante Nivaldo Expedito de 
								Carvalho (Chambinho), que recheia de calor e de 
								vibração a imponente figura de Luís Gonzaga na 
								fase áurea de sua carreira. 
								
								
								REYNALDO DOMINGOS FERREIRA 
								
								
								ROTEIRO, Brasília, Revista 
								
								
								
								
								www.roteirobrasilia.com.br 
								
								
								
								
								www.theresacatharinacampos.com 
								
								
								
								
								www.arteculturanews.com 
								
								
								
								
								www.noticiasculturais.com 
								  
								
								
								FICHA TÉCNICA 
								
								
								GONZAGA – DE PAI PARA FILHO 
								
								
								Brasil – 2011 
								
								
								Duração – 120 minutos 
								
								
								Direção – Breno Silveira 
								
								
								Roteiro – Patrícia Andrade 
								
								
								Produção – Breno Silveira, Márcia Braga, Eliana 
								Soárez 
								
								
								Fotografia – Adrian Taljido 
								
								
								Trilha Sonora – Berna Ceppas 
								
								
								Elenco – Adelio Lima, Land Vieira e Nivaldo 
								Expedito de Carvalho (Luís Gonzaga), Júlio 
								Andrade, Giancarlo di Tomazzio e Alison Santos 
								 (Gonzaguinha), Nanda Costa (Odaléia), Luciano 
								Quirino (Xavier), Silvia Buarque (Dina), Claudio 
								Jaborandy (Januário), Santana (Cyria Coentro), 
								João Miguel (Emissário), Ana Roberto Gualda 
								(Helena)  | 
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