Theresa Catharina de Góes Campos

 

CAMPANHA DA PREFEITURA E ACERTO GRAMATICAL

Tereza Halliday – Artesã de Textos

 

Não quero usar os adesivos que a Prefeitura distribuiu como encarte nos jornais porque não “amo Recife”, eu amo o Recife. Assim como os cariocas amam o Rio de Janeiro e não “Rio de Janeiro”. Não digo que vou a Rio de Janeiro nem que gosto de Rio de Janeiro. Meus amigos cariocas iriam estranhar e corrigir. Assim também, nascida no Recife, moradora do Recife, só posso me referir ao Recife e não a Recife. Aprendi, nos primeiros anos de escolaridade, que nomes próprios de cidades, formados de substantivos comuns, são precedidos do artigo definido: o Recife, o Rio de Janeiro, o Cabo (África do Sul), o Cabo (Pernambuco), o Porto, o Havre, o Cairo  - estes dois últimos significam “porto”, em francês e árabe, respectivamente.

 

Em dois de seus frevos, o compositor Antônio Maria assim se expressa: “Sou do Recife com orgulho e com saudade” e “Ai que saudade tenho do meu Recife”. Jornalista sazonado, ele também aprendeu assim.  Já o CAERF declara em sua fachada: “Clube da Aeronáutica de Recife”. Seria bom retificar para “do Recife”,  mesmo que alguns recifenses não estejam nem aí. Para só citar duas fontes modernas, vejam o Manual de Redação do jornal O Estado de São Paulo e o site aulabrasil.blogspot.com.br. Também nas gramáticas tradicionais de respeitáveis autores. A regrinha está lá. O sociólogo e antropólogo Gilberto Freyre insistia na grafia “o Recife”. Muita gente, hoje, que nem sabe quem foi ele, argumentaria “o que é que tem?” Estamos na era do “tudo pode”, na farra do “tanto faz”, que vai estropiando nosso idioma. Depois da morte do pronome demonstrativo “Este(a)” e da ascensão do “Pode vim”, até entre portadores de diploma universitário, que importa o artigo definido antes dos nomes de certas cidades? Para mim e muitos outros, importa, sim.

 

 Encontrei uma só gramática, entre as muitas pesquisadas, que alega ser uso opcional “Recife” ou “o Recife”. Uma curiosidade, sem grande valor metodológico enquanto pesquisa: certo garimpeiro do Google descobriu que 70 por cento  dizem ou escrevem “o Recife”. Os outros 30 por cento omitem o artigo e ignoram o uso considerado apropriado pelos 70 por cento restantes e pela esmagadora maioria das gramáticas. Mas, se editores de livros e acadêmicos podem mexer nas regras de ortografia, de tempos em tempos, os 30 por cento acima podem reivindicar uma mexida nas regras gramaticais e ir “para Rio” e “para Recife”, sem errar na direção nem na redação.

 

A antiga povoação de Santo Antônio dos Arrecifes  está comemorando, neste mês de março 2013, 476 anos como Cidade DO Recife.  O governo municipal apresenta-se, em seu logotipo e no site oficial, como Prefeitura DO Recife. No site, convida a conhecer O Recife. Por que então mandou imprimir adesivos sem o artigo definido costumeiro e legitimado por usuários e gramáticas? A prefeitura aumentaria o potencial de marketing de sua campanha distribuindo novos adesivos com a grafia “Amo o Recife”. Quem sabe, assim, ajudasse a incrementar o amor de que a cidade tanto precisa?   (Diário de Pernambuco, 11/3/2013).



De: Theresa Catharina de Goes Campos
Data: 11 de março de 2013 10:06
Assunto: Muito obrigada, estimada colunista do Recife, por artigo perfeito, na forma e no conteúdo!
Para: terezahalliday

Cara Tereza Lúcia:
Muito obrigada, estimada colunista do Recife, por artigo perfeito, na forma e no conteúdo!

Bênçãos divinas para você e os seus.

Carinhosamente,
Therezita

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De: Tereza Lúcia Halliday
Data: 12 de março de 2013 21:12
Assunto: Res: Muito obrigada, estimada colunista do Recife, por artigo perfeito, na forma e no conteúdo!
Para: Theresa Catharina de Goes Campos

Therezita:

Amizade à parte, sua opinião sobre meu texto é muito valiosa para mim.
Grande abraço, Tereza Lúcia.

 

 

Jornalismo com ética e solidariedade.