Theresa Catharina de Góes Campos

  AOS DEZESSEIS ANOS, HOMENAGEM A MAMÃE*

Mamãe querida:

Eu a amarei cada vez mais.

Refleti hoje seriamente e compreendi: não, jamais esquecerei o que tem feito por mim. Isso porque não é possível que sejam olvidadas as palavras amigas, os conselhos, os exemplos que não morrem.

A fé em Deus, a maravilhosa essência de nossa religião católica, me foram incutidas e, de modo especial, cultivadas, desde a minha infância. Mais tarde, no auge da adolescência, a senhora foi a amiga constante e compreensiva que tentava esclarecer as minhas dúvidas, que me ajudava a desvendar o mistério da vida. O maior presente de 15 anos que recebi foi vencer o horror à existência, devido às dolorosas tragédias observadas à volta; o pessimismo com que eu olhava as dificuldades e os sofrimentos cotidianos. Se não fosse o seu auxílio, eu não saberia que a glória almejada é lutar; continuaria a ignorar que os homem vivem, não para serem felizes, mas com a finalidade de se aperfeiçoarem e, assim, alcançar o seu Criador.

Quando sinto paz e alegria, agradeço por sua compreensão materna e procuro em tudo o que vejo o reflexo da ternura que observei na senhora; e as flores, o mar, as árvores, o próprio chão, duro e áspero, ou coberto de grama, parecem me recordar a mão amorosa que me guia.

O meu coração, agora livre de idéias absurdas, busca entender as lições que me ensina; se o meu egoísmo é um pouco menor atualmente é porque encontro, na minha querida mamãezinha, doses cada vez maiores de caridade.

Ao perceber que a impaciência ou o desânimo me assaltam, me vem ao espírito a sua imagem incansável; procuro apreender todo o carinho que há em seus olhos, toda a doçura e suavidade de sua alma.

Muitas vezes, porém, me sinto triste. Eu não posso retribuir tanta dedicação como desejaria, eu não posso devolver um amor tão grande ! ...

A menos que, pouco a pouco, avançando e tropeçando sob a mansa vigilância de seu olhar, eu continue a amá-la cada dia mais.

Sua filha
Therezita

Theresa Catharina de Góes Campos
Recife - PE, 15 de outubro de 1961
(*Carta manuscrita, que escrevi na data do aniversário natalício de mamãe, encontrada em seus pertences após a sua morte, em 14 de junho de 2008.Theresa Catharina)
 
 

Jornalismo com ética e solidariedade.