Theresa Catharina de Góes Campos

  MEMÓRIAS TECELÃS

Tecelãs, com prazos a cumprir,
trabalham as nossas memórias
como artesãs bem apressadas
de preciosas encomendas...

Nossas memórias não nos permitem
sossegar. São organizadas.Dizem
ter suas razões para nos deixarem
tantas vezes inquietos. Exigentes,
disciplinadas, como as lendárias,
mitológicas fiandeiras, não param.

Jamais confessionais, nem autorizadas,
são tridimensionais, sombrias, coloridas.
Sem amarras...sem acordos cordiais,
por isso têm decisões muito temidas,
que nos surpreendem, amedrontam.

O tempo, na realidade, não retrocede.
Já aconteceu, tornou-se lembrança,
que seja agora preciosa memória.

Com as lágrimas pranteadas,
no esmero e na paciência,
as memórias bordam cenas
descritivas nas estalactites
de grutas, ali eternizadas.

Nesses ateliês naturais partilhadas
nos olhares de seus admiradores,
ganham dinamismo nas formas
que, na verdade, ali estão detidas,
em seus contornos, estáticas.
Mas surpreendentes, oníricas,
coloridas e tridimensionais.

Convidam a um mergulho, parte
de uma aventura maior, em busca
do âmago daquela tantas vezes
sonhada, pressentida intimidade.

Tecidos idílicos, frágeis, etéreas
porcelanas, labirintos e filigranas,
estas nossas memórias fugidias
criam, astutamente, artimanhas;
e na dor e ternura se eternizam.

Essas artifices, hábeis artesãs,
tecem rabiscos, curvas e grutas,
portais e complexos arabescos
que abrem tantos descaminhos.
Diligentes artesãs de memórias
tocam nosso sensível coração
- já emocionado; nossas mãos
seguram com firmeza, para que
as visitemos, mais de uma vez,
nossas memórias cultivadas...
Não há como esquecê-las !

Theresa Catharina de Góes Campos
Brasília - DF, 13 de maio de 2013
 

Jornalismo com ética e solidariedade.