Theresa Catharina de Góes Campos

 
MOTOQUEIROS – POBRES MACHOS
 
Tereza Halliday – Artesã de Textos

Vias seguras para os cidadãos motociclistas foi um dos enfoques do meu artigo “Cidadania derrapa nas ruas” (DP, 3/6/2013, nesta página). A ele seguiram-se numerosos e-mails de leitores expressando ojeriza, raiva e ódio pelos motoqueiros, por seu comportamento inconsequente, ilegal, sem respeito pela própria vida nem a dos outros. Uma vítima de acidente de carro, provocado por motoqueiro aloprado, chegou a advogar a extinção da classe.

            Como pedestre e condutora de automóvel, tenho medo deles todos porque não dá para distinguir de longe quem é motoqueiro responsável e quem é banda-voou. Frequentemente me põem em situações de alto risco - quase colisão ou atropelamento. Certa vez, um conhecido meu, motociclista prudente, ia de carona com um amigo dirigindo e pediu parada: “Ou eu dirijo sua moto com você na garupa, ou vou de ônibus. Nos últimos dez minutos, como carona,  eu vi a morte três vezes”.  É esse risco altíssimo de morte, ou de amputação de pernas, com estatísticas pavorosas entre motoqueiros, que me leva a deplorá-los como pobres machos, imprudentes, impertinentes, inconsequentes, com as sempre honrosas exceções.  Quando os vejo soltos no trânsito pintando e bordando, imagino as mães, esposas, namoradas, filhos pequenos a chorar a perda daquele ente querido, crente que era invulnerável. Perda afetiva, econômica, social. Dor pelo resto da vida.  

Seja de panturrilhas avantajadas ou cambitos, braços magrelos ou bíceps de academia, barbadões ou barba rala, calçados como a lei requer, ou descalços, ou de sandálias japonesas, são eles uns pobres machos, cheios de testosterona e adrenalina sem controle e vazios de autopreservação e empatia.  Empatia, aquela qualidade de colocar-se no lugar do outro e imaginar como a mãe, a namorada, a esposa, os filhos se sentiriam se eles morressem ou causassem a morte de alguém. Ou ficassem mutilados, como tantos de seus colegas de motociclagem, portando um toco de perna, prótese ou usando permanentemente cadeira de rodas.  Não conseguem imaginar a dor dos outros nem acreditam que a moto os torna frágeis, em vez de poderosos. Pressa, audácia, atrevimento, imprudência e, às vezes, também impudência, tornam esses motoqueiros mais dignos de pena do que de ódio, como o expresso por revoltados  remetentes de e-mails sobre meu artigo acima citado.

Quando passam por mim produzindo seus “zuums” e “vruums”, tirando fino, atrevidos e desmiolados - com as sempre honrosas exceções - não consigo ter raiva. Penso nas mães deles, candidatas à maior dor do mundo: perder um filho ou vê-lo estropiado. E adapto a Oração de Jabez (I Crônicas 4, 9-10) para esses pobres machos: “Que os preserves do mal para que não  sobrevenha aflição às pessoas que os amam”.                                                              (Diário de Pernambuco, 15/7/2013)

 
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"Se avexe não, amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada.
(Accioly Neto)
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Avexar-se - forma popular nordestina de vexar-se: apressar-se. afligir-se.
 

Jornalismo com ética e solidariedade.