Theresa Catharina de Góes Campos

  FRATERNIDADE NÃO ESTÁ NO DNA

Tereza Halliday – Artesã de Textos

Palavra bonita, esta: irmão. Em todas as línguas soa bem. Tão boa que
transcende a designação dos laços de sangue e define outras relações
afetivas profundas, como Irmã de Alma e Amigo-Irmão. Quem tem, sabe a
bênção que é.

No território linguístico brasileiro, “irmão” tornou-se também
pronome de tratamento entre membros de certas igrejas evangélicas.
Subentende-se “Irmão em Cristo”. Mas não aplicariam o termo aos
católicos, que também têm Jesus como Messias e Salvador da Humanidade.
Uma amiga de igreja protestante comentou: “eles não chamam de irmãos
nem mesmo os batistas, os presbiterianos...” E deu uma risada. Irmão é
somente o afiliado a determinadas igrejas evangélicas das quais os
empregadores do termo fazem parte. Reconhecemos, contristadas, a
intolerância religiosa, às vezes, disfarçada, mas ainda vigente em
todas as partes do mundo, onde grupos - dentro e fora do cristianismo
- estão convictos de ser melhores do que os outros e se antagonizam
por isto. Tal qual torcedores de time de futebol.

Especialista em História das Religiões explicou-me que o emprego da
palavra “Irmão” entre pessoas da mesma fé, advém dos primórdios da
Igreja Católica, com a formação de organizações chamadas Irmandades e
Fraternidades. Persiste como título e pronome de tratamento dado a
freiras e frades de certas comunidades religiosas que vivem em
conventos. A palavra estendeu-se a outras irmandades, fora da Igreja,
como os maçons, que se tratam por “Irmãos”. Na onda de anglicização do
português, muitos jovens preferem usar o termo em inglês “brother”,
para expressar sua fraternidade em música, protestos, “galeras”.
Todavia, parece que fraternidade não está em nosso DNA.
Precisa ser ensinada pelo exemplo e aprendida nas primeiras interações
da criança. Do mesmo modo como se semeia ódio e aversão, desde o
berço, a determinados cohabitantes do planeta, demonizando quem não
for “como nós”, podemos semear nas crianças simpatia e empatia por seu
semelhante, mesmo quando há divergências e dissemelhanças. Num ataque
de fantasia, que não me ocorre com frequência, imaginei um mundo onde
todas as pessoas se tratassem por “irmão” e “irmã”, sentindo este elo
genuinamente dentro de si, sem se importar qual a religião do outro,
nem mesmo se o outro tem ou não uma fé. Pura fantasia, meu irmão!
(Diário de Pernambuco, 7/10/2013).

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"Se avexe não, amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada.
(Accioly Neto)
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Avexar-se - forma popular nordestina de vexar-se: apressar-se. afligir-se.

 

Jornalismo com ética e solidariedade.