Theresa Catharina de Góes Campos

 
O Papel da Juventude na Sociedade Atual


Todos sabem que o futuro do mundo está nas mãos da juventude de agora; e muitos compreendem a necessidade de um presente bem vivido. Poucos, porém, são aqueles que ajudam ou se dispõem a orientar a mocidade. Considerando que os jovens trazem consigo a semente, um porvir escondido, precisam também de cuidados especiais para germinar em toda a sua plenitude. Porque exercerão uma grande influência na sociedade.

As esperanças e ambições, os sonhos e anseios que impulsionam a juventude têm uma dinâmica: impedem, muitas vezes, que as atividades se realizem sem criatividade, afastam por completo uma possibilidade de estagnação. Os bons hábitos, ensinados pelos pais e educadores, vão se estabilizando e sendo postos em prática no ambiente de cada um dos jovens. Sempre visando a seu futuro, ainda uma incógnita, já procuram caminhos, trabalham e se esforçam continuamente; com essa preocupação de vencer, com essa pressa construtiva, contribuem para que seja cada vez maior o progresso mundial. À medida que recebem ensinamentos preciosos, no lar e na escola, vêem que lhes são apresentadas ocasiões para aplicá-los. Que admirável ação impulsionadora exercem quando buscam a verdade, analisam seus erros e procuram atingir a perfeição! Tentam, quem sabe?, igualar aqueles que admiram!

Seu natural otimismo, sua intensa vontade de viver, são contagiantes. Apesar disso, porém, interiormente, a juventude pede o estímulo dos mais velhos, esperando, também, que lhe apontem caminhos. Não esqueçamos, porém, os jovens que não puderam dar amor a seus semelhantes por motivo de abrigarem o ódio no seu coração! Ódio aos que lhes negaram uma pequena ajuda, um incentivo qualquer. Ódio aos que os humilharam por sua situação social inferior. Quantas inteligências não se desenvolveram por terem sido eles obrigados a passar, desde cedo, a maior parte de sua vida, carregando caixotes no cais, vendendo frutas ou verduras nos mercados, ausentes da escola! Quantos se perderam, nas ondas da delinquência, por não ter havido uma única pessoa que se preocupasse com a sua sorte, que os retirasse da miséria em que viviam, que os afastasse dos maus companheiros! Quantos, caindo, estenderam a mão para que os ajudassem a levantar-se e, em vez disso, foram pisados cruelmente, forçados a fracassar mais uma vez. Quem perdeu, além deles, com essa criminosa negligência? A sociedade, é claro. Seria desenvolvida pelas suas inteligências, enriquecida pelo seu trabalho honesto. Tudo que não se orienta para um determinado objetivo, que não é devidamente aproveitado: a energia, a vontade de ajudar, os sentimentos belos, o companheirismo, todo esse potencial faz falta à sociedade.

Os jovens devem compenetrar- se do seu papel, cônscios de sua grande responsabilidade. São sementes: sua missão é, ao se aperfeiçoarem, melhorar o mundo. Seus corações não devem jamais abrigar conceitos materialistas, nem ditatoriais e belicosos, que apregoam a violência. Nem concordar, também, com qualquer espécie de escravidão. Têm pela frente tarefas a realizar, horizontes velados que lhes acenam com promessas de sucesso. No afã de crescerem, estão sempre avançando, confiantes, os olhos a brilhar de desejos de vitória. Enquanto os mais velhos já se desiludiram de seus sonhos e trazem na alma o pessimismo, a mocidade empunha a sua maior arma, a Fé. Algumas vêzes vã, louca, imprudente, demasiada, mas sempre Fé, sempre entusiasmo, sempre Esperança. Afasta as probabilidades céticas e leva a termo empreendimentos para os quais muitas vezes não está ainda preparada, entretanto, devido à força arrebatadora de seu entusiasmo, tem êxito. Como no caso de muitas empresas, que tomaram verdadeiro impulso quando, corajosamente, resolveram por em prática as idéias renovadoras de seus jovens técnicos. Isso deu lugar, é verdade, a um choque, entre os “reacionários”, que se agarravam ao conformismo pessimista, e esses moços ousados, o que foi, porém, plenamente recompensado. A rotina e a mediocridade foram substituídas, caíram por terra...

As possibilidades que a juventude encerra são tão grandes que a União Soviética, por temê- la, derrama sobre ela chuvas de propaganda de idéias marxistas apregoando a eficiência do sistema comunista, enquanto lhe dedica atenção e verbas especiais. Melhoramentos como universidades, centros de pesquisas, são criados com o único objetivo de despertar as simpatias dos moços para o regime vigente e para o estudo da Ciência, o que está contribuindo para que a Rússia atinja metas espaciais realmente estupendas. O Estado paga para que estudem um equivalente de 6.000 a 10.000 cruzeiros mensais. O que amedronta a U.R.S.S. é a tremenda capacidade de reação da mocidade, a sua coragem impetuosa, aliada à curiosidade, sempre crescente, em relação ao modo de vida dos povos fora da Cortina de Ferro. Ficou mesmo provado em 1956, na Hungria, quão perigosa ela pode ser ao arriscar sua vida, para ser livre. As perspectivas de um viver de nível cada vez mais baixo, apesar dessa chamada geral para as escolas, a tragédia da falta de habitações, dos quartos para mais de uma família, o terror constante imposto pela M.V.D., foram a fagulha que fez explodir a Revolução Húngara. Um jovem de 23 anos, estudante de Química, definiu assim a causa da corajosa revolução, posteriormente afogada em sangue pelos tanques russos: “Nós sentíamos que nos encontrávamos em um túnel escuro e não podíamos ver o futuro. Não víamos qualquer saída”.

Os jovens, portanto, são também os mais incansáveis salvaguardores da liberdade, tanto nos países satélites como em todos os lugares do mundo livre. Ao contrário dos que já viveram muito, eles, tendo pela frente uma vida inteira, pensam logo na possibilidade de, se não reagirem, viver num regime que, além de lhes ser francamente hostil, sufoca a sua dignidade de indivíduos. Este traço, aliás, caracteriza de modo especial essa idade; para os jovens, o principal problema é afirmarem-se individualmente, independentes de quaisquer outros fatores que não sejam a sua própria capacidade e esforço pessoal.

Essa afirmação, esse vencer na vida, quando se realiza, beneficia profundamente toda a humanidade. Nós todos, de certo modo, não nos pertencemos inteiramente. Qualquer ato nosso, por insignificante que pareça, recai sempre em mais alguém. O mal, mesmo praticado por uns poucos, alastra-se e atinge a todos. A prova disso foi o problema cruciante do após-guerra, que viu surgir, das ruínas de cidades destruídas por ataques inimigos, crianças traumatizadas pela dor, sem pais, o horror estampado nas faces marcadas pela fome. Verdadeiras vítimas da guerra, elas cresceram e formaram então o que foi denominado de “geração de após-guerra”: revoltada, fazendo apenas o que desejava, indiferente a tudo o mais. O resultado foi que a Humanidade sofreu outra grande crise. Ficou fraca porque fraca estava também a juventude. Os jovens, como não acreditavam num amanhã, esbanjavam o seu presente, davam vazão a todos os seus impulsos e não se preocupavam em formar sua consciência para orientá-los em seus atos e lhes dar a noção de suas responsabilidades. O motivo de toda essa confusão de sentimentos, desse desencanto em relação à grandeza da vida, era uma tentativa consciente para esquecer o drama do que pensavam ser a falta de um amanhã. Enquanto a juventude não voltou a si desse choque, enquanto não compreendeu que cabia a ela edificar o seu futuro, recobrando a energia e a vontade de trabalhar, visando a um melhoramento contínuo, o mundo permaneceu “doente”, sofrendo as consequências por não ter uma mocidade sadia. Associações de moços formaram-se, então, em todos os países, e foram auxiliadas materialmente pelos governos que contribuíram, assim, para dar um verdadeiro sentido à idéia de Humanidade.

O impulso de espíritos jovens é que reergueu as nações arrasadas pela guerra, industrializando-as, valorizando suas moedas. Sabendo de tudo isso, jovem que estuda, continue a cumprir com seus deveres. Você que trabalha, sinta orgulho dó papel que desempenha e jamais se negue, por falta de persistência, de força de vontade, a ocupar o lugar que lhe pertence. Ó jovens, nunca deixem de apregoar, com o seu exemplo, sua importância na sociedade. Pelo mundo afora, se compenetrem de que são, realmente, os artífices do amanhã.

THERESA CATHARINA DE GÓES CAMPOS
(Aos 15 anos, aluna do 1º Ano Clássico do Colégio de São José, das Religiosas Dorotéias)

Publicado no jornal "O FAROL".
Recife - PE, 1960.
1º prêmio feminino no Concurso de Oratória do I Festival de Estudantes Secundários de Recife.
 
 

Jornalismo com ética e solidariedade.