Theresa Catharina de Góes Campos

 


MANIFESTO EM FAVOR DA ALMA

Tereza Halliday – Artesã de Textos


Considerando que (a) passei a maior parte da vida fazendo o que tem de ser feito e o que outros gostariam que eu fizesse; (b) faltei com a consideração e o respeito à minha alma, por motivos maiores, que não combinam com ela; (c) ela tem sido tolerante com meus abusos em nome do amor a terceiros, cortesia e obrigações funcionais e (d) não poderei agradá-la sempre...

Disponho-me, doravante, a ouvi-la mais vezes e respeitar-lhe os momentos, harmonizando-me com ela. Assim, convites, propostas, envolvimentos, convocações, ambientes festivos ou contemplativos só serão aceitos se minha alma estiver a fim. Não devem, pois, causar espanto nem melindre meus aceites e recusas. Vai depender da minha alma. Agora é a vez dela, antes que se aparte de mim, sem que eu lhe tenha sido pelo menos tão fiel quanto tenho sido a minhas obrigações e afeições.

Estava eu para assinar este manifesto, quando uma realidade supra chegou de mala e cuia: tive de abandonar um smartphone defasado por um novo, muito sabido, mas já suplantado por sua versão mais recente. Luto para aprender a deslizar competentemente o dedo sobre a telinha do “dispositivo”, equipado para ser escritório, secretária, mordomo, fotógrafo, radio, TV, moço de recados e até mesmo telefone; gasto tempo para achar seus caminhos operacionais e depois não consigo voltar aonde estive. Devo apurar-me na coreografia do dedo, que nunca foi bailarino. Necessário virar-me para ser tecnologicamente atualizada, ou me terão por morta-viva. Alminha, aguenta o tranco!

Diário de Pernambuco, 15/12/2014
 

 

Jornalismo com ética e solidariedade.