Theresa Catharina de Góes Campos

     
De: Lmaikol
Data: 3 de março de 2015 
Assunto: Livro: Ministros da Eucaristia: como surgiram?
 
 Livro relata sobre o surgimento dos Ministros Extraordinários da Comunhão Eucarística a partir do Brasil para o mundo. Uma iniciativa Vicentina.

Solicite o livro: MINISTROS EXTRAORDINÁRIOS: COMO SURGIRAM?

PERSONAGENS – FOTOS – ENTREVISTAS – DOCUMENTOS

Formato: 14 X 21  -  146 páginas

Pedidos, informações:

vicenbat@com4.com.br

ou telefone (16) 3761-3753

- - -

Ministros da Eucaristia: uma iniciativa Vicentina

 

Matéria publicada no Jornal mensal “O VICENTINO”, de Batatais-SP, em agosto de 1999, nº 124, ano XIII, páginas 6-8. Matéria republicada no Jornal “O VICENTINO”, em junho de 2000, nº 132, ano XIV, página 6. Matéria republicada no Jornal “O VICENTINO”, em agosto de 2010, nº 132, ano XXIV, páginas 6-7. Agora virou livro devido às ínúmeras solicitações.

 

“Passei a noite quase toda atendendo confissão. O senhor sabe que sou doente, agora de manhã, fui visitar os enfermos, levar a comunhão, já quase meio dia, não tomei nada, cansado! Será que o Concílio que está de portas abertas para a renovação da Igreja: será que o Papa, os Bispos, Cardeais, não dariam a permissão para um leigo distribuir a comunhão? Me ajudar aqui?”

Pergunta o então Pároco de Bambuí-MG, o Missionário Vicentino Pe. José Nunes Coelho, CM, no final de 1965, em carta dirigida ao seu Bispo, o também vicentino D. Belchior Joaquim da Silva Neto, CM, na época o titular da Diocese de Luz-MG, que se encontrava em Roma participando do Concílio Vaticano II.

Nascia naquele momento a ideia da instituição do MINISTRO EXTRAORDINÁRIO DA EUCARISTIA, hoje adotada nas Paróquias do mundo todo e que tanto contribui para o trabalho pastoral do Padre.

D. Belchior apresenta a sugestão, foi um espanto! Claro que as barreiras surgiram, e ele ainda ouviu de vários colegas:

“O senhor está louco! O senhor vai expor o SS. Sacramento à profanação”; “Para o pão consagrado, só mãos consagradas, senhor Bispo!”; - “Se o Papa permitir isso, daqui a pouco até mulheres estarão distribuindo a comunhão”; “Pelo amor de Deus, não espalhe isso, não! É um escândalo, onde já se viu isso! Colocar a hóstia consagrada na mão de leigos! Na minha Diocese isso não entra.”

Tudo isso D. Belchior ouviu pacientemente e finalmente em maio de 1966, veio a autorização de Roma, primeiro a três Irmãos, e em seguida a dez leigos. A partir de 1970 o Papa autorizava para todo o mundo.

Hoje (1999), D. Belchior é Bispo Emérito de Luz-MG, e um colaborador especial do jornal “O Vicentino”, de Batatais-SP. Em sua residência, ele narra à nossa reportagem, e pela primeira vez em nível nacional, todo o desenrolar do processo.

 

Ministros da Eucaristia: uma iniciativa Vicentina

 

Uma decisão importantíssima da Igreja Católica tomada no final da década de 1960, e que trouxe resultados marcantes para o bom desenvolvimento do trabalho paroquial, foi a instituição do Ministro Extraordinário da Eucaristia. Como é do conhecimento de todos, há uma carência de Sacerdotes em todo o mundo, principalmente num país-continente como o nosso, de uma enorme população católica e um número reduzido de Padres para atendê-la. A Igreja, através do saudoso Papa Paulo VI, concedeu em 1966, inicialmente no Brasil e depois em 1970 no mundo inteiro, que fosse criado o Ministro Extraordinário da Eucaristia, autorizando-o a distribuir a Sagrada Comunhão; fazer o Culto Dominical, na ausência do Padre; expor o SS. Sacramento; fazer a Encomendação dos defuntos, entre outras.

O mundo todo hoje reconhece o sucesso dessa iniciativa que veio auxiliar e muito, o Pároco, redimensionando o seu trabalho. No entanto, poucos sabem que ela surgiu de umbrasileiro, um vicentino na verdadeira acepção do termo, que segundo suas próprias palavras: “Sou um vicentino que tem orgulho de ter nascido na Conferência Vicentina. D. Belchior Joaquim da Silva Neto, CM - Bispo Emérito de Luz/MG.

 

Através do casal amigo: Cfr. Geraldo da Silva Dias e Aparecida Célia Dias, de Sto. Antônio do Monte/MG (ele, Presidente do Conselho Central da SSVP e nosso representante naquela cidade), chegou ao conhecimento deste jornal “O VICENTINO”, este fato. Com intuito de bem informar nossos leitores, fomos constatar com o próprio D. Belchior, hoje nosso Colaborador Especial -, em sua residência em Luz-MG. Ali carinhosamente recepcionados por ele, o querido irmão vicentino nos concedeu esta entrevista:

 

O Vicentino: D. Belchior, como surgiu a ideia da criação do Ministro Extraordinário da Eucaristia?

 

D. Belchior: Estávamos em 1965, terminando o Concílio Ecumênico Vaticano II em Roma. Eu era Bispo novo, tinha meus 42 anos, e desde o começo frequentei todas as reuniões e como Bispo novo a gente é sempre acanhado, pensei, não vou entrar no meio desses maiorais, para manifestar as minhas ideias. Mas, acontece que na última fase do Concílio, mês de setembro ou outubro, já “preparando as malas para vir embora para o Brasil, chega uma carta do Pe. José Nunes Coelho, CM, vigário de Bambui-MG, (foto abaixo) meu colega de seminário. Dizia ele: “Senhor Bispo, passei a noite quase toda atendendo confissão. O senhor sabe que sou doente, agora de manhã, fui visitar os enfermos, levar a comunhão, já quase meio-dia, não tomei nada, cansado! Será que o Concílio que está de portas abertas para a renovação da Igreja; será que o Papa, os Bispos, Cardeais, não dariam a permissão para um leigo distribuir a comunhão? Me ajudar aqui?

Uma carta longa! Eu pensei, pensei... não vou consultar a ninguém, porque aqui estamos entre duas alas: os Bispos conservadores, como D. Alexandre, D. Castro Maia, e tantos outros e os Bispos mais atualizados com a Igreja. Pensei, não vou consultar que vai dar confusão. Vou à Cúria Romana, vou mostrar a carta e falar com eles. Abram esse caminho para a Igreja! O Padre sozinho, se matando numa paróquia! Fui à Cúria Romana, Sagrada Congregação dos Sacramentos; os quatro Monsenhores me receberam, atenciosos, mas quando toquei neste assunto, eles me disseram: “Senhor Bispo, vai desculpar, o senhor está entrando num assunto delicadíssimo, expondo o Santíssimo Sacramento à profanação! Entenda, para hóstias consagradas, só mãos consagradas senhor Bispo!” Eu disse: mas, essa carta aqui, olhem, o Padre trabalhou tanto tempo! Eles responderam: “É, mas se permitir isso, o senhor vai expor o Santíssimo Sacramento à profanação.” E um deles ainda disse assim: “Se o Papa permitir isso, daqui a pouco até mulheres estarão distribuindo a comunhão!”

Imaginem o que havia naquele tempo! Eu logo vi, tenho que andar devagar. Disse-lhes: senhores Monsenhores, vão me desculpar, mas o Papa Pio XII em uma determinada época, permitiu religiosos levar a comunhão aos doentes. De modos que, quem sabe... Eles retrucaram: “Isso é coisa do Papa, coisa passada, mas hoje não se permite isso.” Saí dali triste, decepcionado. Mas, um daqueles Monsenhores, me acompanhou até a portaria, e disse-me: “Senhor Bispo, o senhor tem facilidade em escrever em latim?” Disse-lhe: sou professor de latim no Seminário. “Escreva uma carta em latim, conte tudo isso, as dificuldades que os padres têm na sua Diocese, são poucos, e se matam no Apostolado da Eucaristia. E quem sabe, o senhor vai diretamente ao Papa, mande uma carta em latim ao Papa. O secretário do Papa, Monsenhor Samoré (ele não era Cardeal ainda), se compraz em dizer que entende bem a língua portuguesa, mande uma carta em português a ele, para ele levar em mãos ao Papa.” Falei, está bom. Agradeci muito a ele, fui ao Domus Mariae, onde estávamos hospedados, escrevi a carta em latim, outra em português, e fui diretamente à Secretaria de Estado. Cheguei lá, o Monsenhor Samoré estava muito gripado, não pode me atender. Mas o secretário dele, quando lhe contei que levava uma carta em latim e o motivo desta carta, e que ele poderia levá-la ao Papa, ele me disse: “O senhor escreveu em português? Ele vai delirar! Porque ele se compraz em dizer que entende bem o português”. Entreguei lá e vim embora.

 

O Vicentino: Em que data foi autorizado o primeiro Ministro?

 

D. Belchior: Quando foi o ano seguinte, em 1966, recebi isso aqui - carta com a devida autorização, com data de 7 de maio de 1966 (Veja pág. 8 - “no final desta reportagem”). Primeiro eu pedi para três religiosos, um irmão da Congregação de São Gabriel, professor Necci que está aqui ainda; para um outro irmão da Congregação da Divina Providência, Ir. Eugênio; e o terceiro para um irmão dos Padres Sacramentinos, Frei Pio, Diretor da Obra da Boa-Imprensa. Foi a primeira resposta que recebi. Depois eu pedi a licença para os leigos também. Veio a licença para esses três Irmãos, e depois veio uma carta da Secretaria de Estado: “O Papa pede para fazer a experiência com dez leigos: homens experimentados, de piedade comprovada, e que mereçam toda a confiança, que façam um curso, uma preparação, e tenham uma veste especial, para caracterizá-los, um distintivo especial para mostrar que eles estão encarregados de uma missão muito importante.” É justamente o que usam os Ministros hoje.

 

O Vicentino: D. Belchior, esta sugestão já tinha sido apresentada ao Chefe Supremo da Igreja antes ou ela é pioneira em todo o mundo?

 

D. Belchior: Não, nada consta. Foi uma novidade. Em 1965, o Concílio estava terminando, eles disseram uma coisa que eu não disse aqui: “Olha uma coisa dessas, senhor Bispo, deveria ser tratado quando nós preparamos a Constituição Apostólica sobre o “Sacrosanctum Concilium”. O senhor deixou passar, agora não há mais tempo para tratar disso, já estamos no fim do Concílio.”

 

O Vicentino: E hoje, esta prática é adotada universalmente?

 

D. Belchior: Desde 1970, fiquei sabendo que o Papa permitiu para o mundo todo. Agora quanto às mulheres, os Padres mesmo foram facilitando. Por quê a discriminação? Mas lá na Sagrada Congregação eles falaram comigo: “Se o Papa permitir isso, daqui a pouco até mulheres estarão dando comunhão!” Já pensaram?

 

O Vicentino: Então, da Diocese de Luz/MG, saíram os primeiros Ministros da Eucaristia do mundo?

 

D. Belchior: Sim, podem levar as cópias desses documentos para publicarem, que vieram de Roma.

 

O Vicentino: Quais os primeiros leigos que se tornaram Ministros?

 

D. Belchior: Quando recebi a resposta autorizando fazer uma experiência com dez leigos, imediatamente fui a Bambuí falar com o Pe. José Nunes. Visitamos alguns candidatos de reconhecida idoneidade moral e piedade comprovada, mas nenhum deles aceitou o convite, talvez por medo de ser considerados clericais ou eclesiásticos. Nem o Fão, de Bambuí, o Manuel Soares, de Tapiraí, o José Namitala, de Medeiros. (Na foto ao lado os primeiros Ministros; hoje, falta escanear a foto).

De volta, eu estava com um Padre novo, meu amigo, e eu lhe disse: que nome daremos a esses distribuidores da comunhão? O que você acha? Ele pensou, e disse-me: “Acólitos”. Eu disse: Acólito é um nome difícil de falar, depois acrescentei: eles são Ministros, e para ministrar. Aí ele disse, “que tal Ministro da Eucaristia”? Eu lhe disse: É muito pomposo esse nome, Ministro da Eucaristia é o Padre, então poderemos dizer “Ministro Extraordinário da Eucaristia”, que é o nome correto.

Escrevi a Roma dizendo que fizera experiência com dez homens de piedade comprovada, conhecidos na Diocese, a maioria confrades vicentinos, e estão distribuindo a comunhão aos doentes, ajudando o vigário na Paróquia, e comungando com as suas próprias mãos. Recebi a resposta imediatamente: “Faça experiência com mais dez e nos conte como eles estão procedendo.” Fiz igualzinho em 1967 ou 68, não me lembro bem.

 

O Vicentino: Qual foi a receptividade dos Bispos Brasileiros sobre a questão?

 

D. Belchior: Aqui no Brasil, teve muitos Bispos que não aceitaram de jeito nenhum, não aprovaram. Teve um, de uma Diocese do Norte de Minas, que veio aqui estar comigo. “Senhor Bispo, pelo amor de Deus, não espalhe isso não! É um escândalo, onde já se viu isso! Colocar a hóstia consagrada nas mãos de leigos! Na minha Diocese isso não entra.” Eu lhe respondi: “Já está feito, o que vamos fazer agora? É tocar para frente, eu acho que isso vai fazer muito bem à Igreja.” Ele já morreu. Hoje tem outro Bispo lá, e recentemente eu estive com ele e ouvi dele: “Foi a maior bênção na nossa Diocese. Todas as Paróquias já têm Ministros.” Estão vendo? Pelo menos essa alegria eu levarei para junto de Deus. Encontrei muitas dificuldades no começo, me chamaram até de louco, “Isso é loucura, senhor Bispo!”

 

O Vicentino: D. Belchior, o senhor nunca publicou este fato tão importante para a Igreja?

 

D. Belchior: Eu só publiquei isso aqui no nosso “Jornal de Luz”, porque D. João Resende Costa, e D. Serafim, de Belo Horizonte me disseram: “D. Belchior, o senhor nunca escreveu nada sobre isso?” Disse-lhes: “Não escrevi e não vou escrever, porque isso fica parecendo vaidade. Porque é algo que tomou vulto maior do que eu poderia pensar, e eu não vou entrar nessa não.” D. João Resende Costa, que me sagrou Bispo disse-me: “D. Belchior, em consciência, o senhor é obrigado a contar como aconteceu isso, sobretudo os vexames que o senhor passou.”

 

O Vicentino: O “Jornal de Luz” publicou em maio/97 com o título “Como nasceram os Ministros da Eucaristia”, matéria (diga-se de passagem muito bem elaborada) onde o senhor narra todo este acontecimento. Agora, em nível nacional é a primeira vez que isso é levado ao conhecimento público?

 

D. Belchior: Sim, eu só falei antes em 97 ao nosso jornal aqui da cidade.

 

Quem é D. Belchior?

 

Nasceu em Araújos, Minas Gerais, próximo a Bom Despacho, Centro-Oeste Mineiro, aos 7 de novembro de 1918. Primeiro filho do casal Belchior Joaquim da Silva Zico (1895-1978) e de Anita Maria da Silva (1898-1959). Fez o curso primário em Luz, para onde seus pais mudaram-se em 1922. Aos 13 anos de idade, foi estudar no Colégio do Caraça, da Congregação da Missão (fundada em Paris/França, por São Vicente de Paulo em 1625), onde cursou o 1° e 2° graus, e posteriormente ingressou no Seminário Maior de Petrópolis-RJ. Ordenou-se Sacerdote pelas mãos de D. João Cavatti, CM - Bispo de Caratinga-MG, em 8 de dezembro de 1945 em Petrópolis, tornando-se Missionário Lazarista Vicentino. Seu primeiro trabalho foi como professor no Seminário de Diamantina-MG e depois Reitor dos Seminários Menor e Maior, permanecendo ali sete anos. Por determinação dos Superiores, transferiu-se para o Seminário S. Vicente de Paulo de Fortaleza-CE, para a Escola Apostólica, ficando lá três anos, pregando nas capitais da região. No fim de 1955, faleceu o Superior de Diamantina, Pe. José Pires, e ele veio substituí-lo por um ano. Retorna a Fortaleza, para assumir o maior Seminário do Nordeste, o Seminário de Prainha, onde estudaram D. Hélder, D. Eugênio, grandes Bispos Arcebispos e Cardeais. No dia 24 de abril de 1960, na Matriz de São José do Calafate, em Belo Horizonte-MG, D. João Resende Costa o sagrou Bispo da Diocese de Luz, nomeado pelo Papa João XXIII. E onde ficou até completar os 75 anos de idade, quando, de acordo com o Código do Direito Canônico pediu um substituto. Em 18 de maio de 1994, passou o báculo a Dom Eurico dos Santos Veloso, que dirige a Diocese.

 

O Sacerdote de Cristo

 

Minha vocação é até curiosa: Eu nunca tinha pensado em ser Padre. Meu pai vendeu a fazenda e montou um estabelecimento comercial em Perdigão. Ele ficou cego de uma vista e o médico o aconselhara a mudar-se para a cidade. Lá ficou sabendo que existia um lugar chamado Aterrado (hoje Luz), onde o dinheiro corre; é o “Império do Café”, como dizia antigamente. Me lembro, viemos a cavalo, eu tinha quatro anos, Pe. Tobias tinha dois, minha irmãzinha Maria do Carmo estava ainda nos braços e viemos para cá. Somos oito irmãos: quatro casados, quatro consagrados a Deus.

Uma Freira, um Padre, um Bispo e um Arcebispo que é o Arcebispo de Belém do Pará, D. Vicente Joaquim Zico. Os outros irmãos casaram-se muito bem, graças a Deus, são pais de muitos filhos.

Papai abriu um comércio aqui e se deu maravilhosamente. Do comércio, ele passou a trabalhar em Banco. Foi gerente do Banco Minas Gerais, correspondente do Banco da Lavoura, e do Banco Hipotecário. Meu pai saiu-se bem em tudo o que mexia. Foi convidado para entrar para a política, ele disse: “Isso eu não entro não”. “Não é política, o senhor vai ser o nosso Prefeito”, disseram. Primeiro Getúlio Vargas, estava escolhendo os Intendentes Municipais: papai foi o escolhido. Mais tarde concorreu em eleição com a maior figura daqui, o Dr. Josafá Macedo e venceu com uma maioria de votos tremenda. Tínhamos naquela época cerca de 3.500 votos, só não votaram nele 400 eleitores... Eu sempre fui um menino muito levado, gostava de jogar bola e um dia estava numa ‘pelada’ como se diz, em frente à nossa casa, numa poeira danada, quando entrou um menino que não era dos nossos, um ex-seminarista, que chegava do Caraça. Ele dirigiu-se a mim dizendo: “É verdade que você vai estudar no Colégio?” Respondi: estou com as malas prontas, vou para o Colégio São Geraldo de Pará de Minas. Aí ele disse-me: “Por que você não vai estudar no Caraça?” Eu falei: “O que e isso?” “Olha, o Caraça é o maior Colégio de Minas Gerais, agora estão mudando de Colégio para Seminário, mas vá lá para estudar. Se servir para Padre, bem, se não servir não tem importância, dali você pode entrar para uma Faculdade e abraçar qualquer profissão diferente.” E confidenciou-me: “Mas, para você ser feliz, você tem que dizer que quer ser Padre. Aí você já entra com um bom cartaz.” Pensei, então vou começar agora. Acabou o jogo. Cheguei em casa. Minha mãe e minha avó estavam lá. “As suas malas estão prontas, seu pai vai levá-lo na próxima semana para o Colégio em Pará de Minas.” Falei: mamãe, eu vou dizer uma coisa: não quero ir para lá não. “Mas, o que é isso? Você já falou com seu pai. está tudo combinado, o enxoval pronto.” É que agora eu resolvi: quero ser Padre. Elas riram! “Ser Padre? Você nunca falou isso! Não tem Padre na nossa família; por quê ser Padre?” A senhora nem queria saber o Dezico, o rapaz que falou comigo, disse que lá no Caraça é bom demais. Tem muita laranja, frutas em quantidade. Futebol? Tem dois campos. Nadar? Tem dois tanques (não se falava piscina); e um rio passa em frente ao Colégio. Agora eu quero é ser Padre mesmo. Mamãe: “Então é para isso que você quer ser Padre? Não fale isso a seu pai.”

Meu pai era um Vicentino desses firmes, positivo! Era o pobre e Deus, Deus e o pobre. Não venha com falcatruas que ele não aceitava. Mamãe continuou: “Não vai dizer ao seu pai que você vai por causa das laranjas, futebol; ele não deixa. De mais a mais, o enxoval está pronto.”

Então como faço? Vovó disse-me: “Se seu pai perguntar o motivo, diz que é por causa de Deus e salvação das almas”. Falei, Nossa Senhora que trem difícil de falar! Nisso papai entra. “Como é que é, está tudo pronto? se referia ao almoço. Vovó não resistiu: “Sabe o que o Belchiorzinho está falando? Está querendo ser Padre!” Ele me perguntou: “Por quê você quer ser Padre?” Eu disse-lhe: “Papai, a vovó que sabe... Mas eu quero.” Antes de ele morrer, ainda me disse brincando: “No começo você nem sabia porquê queria ser Padre.”

Veja que coincidência, minha família vicentina, eu não sabia que São Vicente tinha fundado uma Congregação, e fui ser Padre Missionário desta Congregação. Depois foram meus irmãos: Pe. Tobias, Luiz, e o mais novo, Vicente, atual Arcebispo de Belém do Pará. Luiz não continuou, ficou doente, depois casou-se muito bem, mora em Belo Horizonte.

O fato é que venci os estudos com certa facilidade, graças a Deus. Nunca repeti ano. Nas vésperas de ser Padre, fiz os votos de castidade, pobreza e obediência na Congregação. É claro que a gente que é homem, vem logo o ponto de vista de castidade e, na véspera do subdiaconato me lembro que era uma hora da madrugada, vi a luz acesa do quarto do reitor. Estava de pijama e fui lá. Ele me disse: “Que é que houve?” Eu disse: “Não vou continuar, não sirvo para Padre. Padre tem que fazer votos de castidade, e muito difícil; não sei se dou conta.” Ele disse-me: “Você veio me avisar que vai embora, ou veio pedir uma palavra minha, um conselho?” Claro que a sua palavra é importante. O senhor é o meu diretor; era o Pe. Antônio Mourão. “Então venha aqui no fim do ano (era mais ou menos outubro ou novembro); no fim do ano você vai dizer a sua palavra decisiva”. Resumindo, até hoje não voltei. Pensei, se é sacrifício, o maior sacrifício que eu posso fazer a Deus e entregar a minha vida, e Ele vai tomar conta de mim. Se Ele me criou à sua imagem e semelhança, se Ele me criou para uma missão para cumprir, e ela está aqui na minha frente, eu vou me afastar, vou renegar a este chamado? Agora, não esperava ser Bispo.

 

SSVP na sua vida

 

Meu pai desde rapazinho frequentava a Conferência Vicentina de Perdigão, porque não existia em Araújos. Quando começou a aparecer o povoado, meu pai juntou-se ao “preto”, um antigo escravo da fazenda, que era carne e osso com o papai, e disse: “Agora vamos a Araújos.” “Mas lá não tem Conferência”, disse o escravo. “Então nos vamos fundar uma lá.” É a Conferência de São Sebastião, até hoje funcionando.

Mudando para o Aterrado, que se tornou a cidade de Luz, meu pai também fundou Conferências. Participava de tudo e fazia questão de me levar, ainda menino, para a Conferência. Ele fundou a Conferência de São Luiz para nós: eu, o Tobias, o Vicente, as meninas; nós íamos com o meu pai. De modos que nasci na Conferência Vicentina.

Me considero um vicentino, me orgulho de ser Vicentino, tenho a minha Conferência aqui, que é a Nossa Senhora Aparecida. Com a minha doença não tenho podido frequentá-la, mas sempre depois da Missa nós nos reuníamos. Sou membro desta Conferência. Não apenas me considero vicentino, mas tenho uma admiração louca pelos vicentinos.

 

O Vicentino: D. Belchior muito obrigado pela carinhosa acolhida, pela entrevista e pelas suas colaborações que honram e enriquecem este jornal. Esperamos continuar merecendo-as.

 

D. Belchior: Eu é que tenho que agradecer muito. Vocês sabem, sou vicentino de coração, entrei no Ministério de Deus, pela Congregação de São Vicente de Paulo. Nunca pensava que pelo fato de ser um humilde vicentino, ser chamado com os meus irmãos, para uma Congregação fundada por São Vicente de Paulo!

Agradeço muito a vocês, uma visita dessas, é uma visita de um representante de São Vicente de Paulo. Muito obrigado.

 

NUNCIATURA APOSTÓLICA DO BRASIL

Prot. Nº 985/66

 

1. a) Se se tratar de administrar a Sagrada Comunhão nas Igrejas ou oratórios públicos, a pessoa idônea deverá ser designada tendo em consideração a seguinte ordem e condição: clérigo “in sacris” ou, quando o sujeito tenha uma certa maturidade; clérigo com ordens menores, ou tonsurado, ou religiosos com votos, ou catequista, ou, enfim, um simples fiel. Neste último caso, o fiel deve ser de idade madura, do sexo masculino, distinguir-se pela vida cristã, fé e moralidade, além de ter uma instrução condizente com tão nobre ofício, e deverá receber o mandato com algum ritual solene. A pessoa idônea poderá administrar a Sagrada Comunhão aos fieis de ambos os sexos, nas Igrejas e oratórios e levá-la também aos doentes.

b) Se se tratar de administrar a Sagrada Comunhão nos oratórios das Comunidades Religiosas masculinas ou femininas, em orfanatos, hospitais, colégios, institutos dirigidos por Religiosos ou Religiosas, os citados Pastores poderão obter a faculdade de permitir ao Superior ou a Superiora a administração da Sagrada Comunhão aos respectivos religiosos e a todos os presentes em tais lugares.

2. A pessoa idônea, o Superior, a Superiora, constituídos como acima, antes de administrar a Sagrada Comunhão, lavar-se-ão as mãos, recitarão em seguida junto com os presentes o “Confiteor”, o “Domine non sum dignus” (omitindo “Tibi Pater” e “Te Pater”) e dizendo “Corpus Christi”; terminado o rito, em vaso adaptado purificarão os dedos. As mesmas pessoas poderão elas próprias dar-se a Santíssima Eucaristia. A pessoa idônea e o Superior Religioso, administrando a Sagrada Comunhão, vestirão o hábito talar com cota; a Superiora vestirá o próprio hábito.

3. Recomenda-se que na aplicação deste extraordinário remédio concedido justamente em via de todo excepcional, seja afastado todo perigo de irreverência para com o Santíssimo Sacramento, não só, mas se proceda com grande cautela e circunspecção. Tenha-se, além disso, presente que para qualquer dúvida os Sagrados Pastores deverão recorrer a esta Sagrada Congregação, à qual farão, pelo menos cada ano, uma relação a respeito.

(Carimbo da Nunciatura Apostólica do Brasil)

Roma, 7 de maio de 1966

 

CARTA COLETIVA

 

(De D. Belchior Joaquim da Silva Neto, CM, aos Padres da Diocese de Luz em 7 de novembro de 1967)

 

Caríssimos Padres, L. J. C.

 

Esta missiva é um apêndice ou anexo necessário ao “BOLETIM DO CLERO”; sobre o Ministro da Eucaristia em nossa Diocese, concedido, graciosamente pelo Santo Padre, em vista da promoção do Leigo ao serviço da Igreja.

O Documento vem datado de 20 do corrente, ou antes de outubro findo (prot. 1951/66- 15246), autorizando os leigos a exercerem o ministério da Eucaristia em favor do povo de Deus. Podemos, portanto, assim definir-lhes as faculdades:

 

1ª - receberem a S. Comunhão das próprias mãos ou darem-se pessoalmente a comunhão.

2ª - levarem a S. Comunhão aos enfermos.

3ª - ajudarem a distribuir a S. Comunhão na Igreja, caso esteja o vigário ocupado ou seja, grande acúmulo de fiéis.

4ª - fazerem o Culto dominical, em ausência do vigário, explicarem as sagradas leituras, ao alcance dos fiéis, ajudarem a administração dos Sacramentos.

5ª - Exporem o SS. Sacramento para adorações e Horas Santas.

6ª - proporcionarem a Bênção do SS. Sacramento, com exposição e reclusão das S. Espécies.

7ª - fazerem e Encomendação dos defuntos com as orações do Ritual.

 

Atenção: pedimos aos RR. vigários fazerem a apresentação dos candidatos.

1° - que sejam cristãos exemplares na Paróquia ou nas Capelas onde vão exercer o ministério da Eucaristia.

2º - que, mesmos casados, não sejam gananciosos ou interesseiros, visando qualquer lucro, pois será um ofício inteiramente gracioso, sem remuneração, baseado na caridade, no que esta virtude tem de mais sublime, que é o ministério Eucarístico.

3º - que não sejam políticos ou militantes ostensivamente em facções políticas, pois seria trazer odiosidade para serviço tão santo e grandioso.

4° - que tenham certa cultura, podendo ler os livros santos, Epístolas, Evangelhos, para uma conveniente explicação aos fiéis, no Culto Dominical.

Com o exercício do ministério, daremos, depois, outros esclarecimentos.

Humilde servo em Cristo N. Senhor

D. Belchior - Bispo Diocesano de Luz

 

- - -

A Família Vicentina Brasileira está de luto, faleceu Dom Belchior

Matéria publicada no Jornal “O VICENTINO”, em junho de 2000, nº 132, ano XIV, páginas 1 e 3:

 

Nosso querido “colaborador Especial” partiu rumo à Casa do Pai, deixando um enorme vazio entre nós. Por outro lado, fica a certeza de termos mais um grande intercessor junto a Deus pelos pobres, a quem amava e por todos os seus amigos, que são inúmeros por todo o Brasil.

 

O pobre que na terra socorremos é quem, um dia, nós encontraremos correndo a abrir-nos os portões do Céu!”

 

Que estas palavras de São Vicente de Paulo, contidas no último soneto de autoria de Dom Belchior, enviado a este jornal para publicação, ainda escrito a mão, possa servir de introdução da triste nota de falecimento deste nosso amigo, irmão vicentino, colaborador e incentivador, Sua Excelência Revma. Dom Belchior Joaquim da Silva Neto, CM - Bispo Emérito de Luz/MG.

D. Belchior, que tinha 81anos de idade, foi vítima de um derrame cerebral, levado a Belo Horizonte, lá veio a falecer na noite do dia 24 de maio de 2000. Seu corpo foi transladado para sua cidade na manhã do dia 25, perma­necendo na majestosa Cate­dral de Nossa Senhora da Luz, sendo sepul­tado ali mesmo no dia seguinte. Durante todo o velório se fizeram presentes a popu­lação de Luz, representantes de toda a região, principal­mente seus confrades e consócias da SSVP, pois D. Belchior era também um confrade da Conferência Nossa Senhora Aparecida, desta cidade. Os pobres, a quem ele tinha um carinho especial também vieram se despedir do seu protetor e amigo; cenas emocionantes de gente simples, alguns atédeficientes amparados por outros, choravam em volta daquele corpo, outrora ágil, entusiástico, vibrante, brin­calhão e que agora repou­sava inerte numa urna mortuária.

Os confrades Leandrini e Olímpio, representando O Vicentino, do qual D. Belchior era colaborador, estiveram presentes na tarde/noite do dia 25, às derradeiras homenagens ao ilustre prelado da Igreja Católica, aquele que sugeriu ao Papa a instituição dos “Ministros da Eucaristia”; o Cardeal D. Serafim Fernandes, presidiu a celebração da última Missa, às 9 h do dia 26, concele­brada por inúmeros Bispos, Arcebispos, Padres da área diocesana e vários dos seus coirmãos, entre eles, o Superior Provincial, Pe. Eli Chaves dos Santos, CM. Logo depois, seu corpo baixou sepultura naquela mesma Igreja onde sua voz inflama­da, entusiasmada e poética ecoou durante 34 anos!

Do comunicado oficial da PBCM (Província Brasi­leira da Congregação da Missão), destaca-se:

“Irmão, amigo e pastor, três palavras que podem sintetizar a longa e fecunda caminhada de Dom Belchior, um homem de uma rica e original personalidade e que, totalmente apaixonado pela causa de Jesus Cristo e seu Evangelho, desenvol­veu uma intensa, ardorosa e diversificada ação pasto­ral. Como bispo, animou a Diocese mais com o coração do que com grandes e sofisticados planos pastorais. Bastante simples e de uma joviali­dade contagiante, procurava fazer-se presente às pes­soas e nos mais diversos lugares, possuía um cari­nho muito grande pelos pobres e com todas as pessoas se relacionava com incrível amabilidade. Com palavras e gestos, irradiava alegria, entu­siasmo e ardor apostólico.”

 

Poeta, Romancista, Escri­tor, deixa inúmeras obras publicadas muitas delas em várias edições. Mas, o que realmente D. Belchior deixa mesmo, e todos que tiveram a ventura de conhecê-lo hão de concordar, é uma saudade imensa que jamais se apagará na memória daqueles que desfrutaram da sua amizade, do seu convívio.

Adeus, Dom Belchior, não esqueça de nós porque o senhor nunca será esque­cido. Até um dia!

 

- - -

Ministros Extraordinários da Eucaristia

Domingo, 6 de maio de 2012

 

O Concílio Vaticano II esclareceu que a Igreja, toda ela, em todos seus segmentos, é servidora. Os padres não são os únicos ministros. Notar bem que ministério significa serviço!
O Ministro Extraordinário da Eucaristia é, na Igreja Católica, um leigo a quem é dada permissão, de forma temporária ou permanente, de distribuir a comunhão aos fiéis, na missa ou noutras circunstâncias, quando não há um ministro ordenado (
bispopresbítero ou diácono) que o possa fazer.
Como o número de sacerdotes, geralmente e em muitos lugares, é insuficiente para atender todas as tarefas que lhe competem, foi instituído o Ministério Extraordinário da Eucaristia, ou da Comunhão, como preferem alguns.
Na Celebração da Eucaristia, os Ministros da Eucaristia ajudam o padre na distribuição da Comunhão. Eles podem também atender os doentes, levando para eles, em suas casas ou nos hospitais, a santa Comunhão.
O trabalho pode ser exercido pelos Ministros da Eucaristia é “extraordinário”, isto é, não é verdadeiramente próprio. O sacerdote é o ministro extraordinário da Eucaristia. Por causa do grande volume de afazeres, e por causa de existir um número insuficiente de padres e diáconos, foi instituído o “Ministério Extraordinário”.
O mandato para exercer o Ministério Extraordinário da Eucaristia não é permanente. Essa função é temporária. O tempo do mandato deve ser estabelecido pelo bispo. Pode ser renovado, conforme as circunstâncias. Mas, é bom que haja alternância de ministros para que ninguém se sinta melhor que os outros. A responsabilidade é muito grande e o ministro deve ser uma pessoa, homem ou mulher, de vida exemplar.
Nos lugares onde não há habitualmente um sacerdote, os ministros podem presidir a Celebração da Palavra. Nessas celebrações, feitas geralmente aos sábados à noite e aos domingos, os ministros distribuem a comunhão. Logicamente, as hóstias devem ser aquelas que foram consagradas previamente, quando um sacerdote rezou Missa na comunidade.

Fonte: http://oleigocatolico.blogspot.com.br/

- - -

Solicite o livro: MINISTROS EXTRAORDINÁRIOS: COMO SURGIRAM?

Formato: 14 X 21  -  146 páginas

Pedidos, informações:

vicenbat@com4.com.br

ou telefone (16) 3761-3753

 

Jornalismo com ética e solidariedade.