Theresa Catharina de Góes Campos

     

Reflexões Teológicas de Pe. Hughes para agosto 2016

Reflexões Homiléticas para 2016
Pe. Tomaz Hughes, SVD
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VIGÉSIMO SEGUNDO DOMINGO COMUM (28.08.16)

Lucas 14, 1.7-14

“Quem se eleva será humilhado e quem, se humilha será elevado”

O relato de hoje se situa no contexto de uma refeição na casa de um chefe dos fariseus, que permanece no anonimato. Lucas tem o cuidado de sublinhar que o evento aconteceu em dia de sábado e que os fariseus estavam observando Jesus para tentar pegá-lo em algum erro. Então, embora se trate de uma refeição, não era uma confraternização, mas muito antes um confronto, mesmo que camuflado.

Jesus aproveitou a oportunidade para nos deixar o seu ensinamento sobre dois assuntos importantes para a vida dos discípulos: a opção entre a humildade e o orgulho, e a gratuidade.

Como bom pedagogo, Jesus observa a vida ao seu redor e a usa para ensinar algo sobre Deus. Os fariseus eram muito bem vistos no meio do povo simples. É um erro nosso pensar que a palavra “fariseu” seja sinônima de “hipócrita”. Talvez essa ideia venha do Capítulo 23 de Mateus, que reflete a situação de antagonismo entre eles e os discípulos de Jesus no tempo do escrito - pelo ano 85 d.C., quando os fariseus estavam expulsando os cristãos “mateanos” das sinagogas - mais do que a realidade do tempo de Jesus. Os fariseus eram exímios observadores da Lei, mas muitas vezes caíam no perigo de se sentirem superiores às massas que não podiam ou não conseguiam viver a Lei em seus pormenores. Confiando na sua observância como garantia de salvação, na prática dispensaram a gratuidade de Deus.

Vendo como os convidados buscaram os primeiros lugares na refeição, Jesus nos dá a lição sobre buscar os últimos lugares na festa de casamento. À primeira vista, parece que Jesus está nos ensinando a ser falsos ou hipócritas; mas, a verdade é outra. O banquete desta história simboliza a nossa vida. Diante da vida, podemos optar - buscar uma vida de prestígio, aos olhos do mundo, com todos os privilégios que isso acarreta, ou buscar o serviço aos irmãos - nos “humilhando”, pois quem servia era considerado menor do que quem era servido (como geralmente ainda hoje é!). De novo Jesus nos coloca diante do seu próprio exemplo - Ele que veio “não para ser servido, mas para servir, e dar a sua vida em favor de muitos” (Mc 10, 46).

Como é atual esse ensinamento! O nosso mundo é um mundo classista, onde “quem pode mais, chora menos”, até nas Igrejas - como gostamos de títulos, honras, prestígio! Em vão buscaremos nos Evangelhos títulos de honra como “Eminência”, “Santidade”, “Reverendo, “Reverendíssimo”! Sem que notássemos, o mundo entrou nas nossas comunidades com as suas falsas categorias! Como é empolgante ouvir o Papa Francisco advertir contra esta busca de prestígio falso nas Igrejas, especialmente quando acontece entre ministros ordenados, religiosos/as e seminaristas. Como ele disse durante uma homília “a vida religiosa e/ou sacerdotal não é para carreiristas ou alpinistas sociais”. O mesmo é verdade para os ministérios leigos. Nada mais fez do que fazer eco ao ensinamento de Jesus.

O centro da questão está em versículo 11: “de fato, quem se eleva será humilhado, e quem se humilha, será elevado”. Não é uma recomendação sádica para que procuremos ser humilhados, como muitas vezes se pregava na formação da Vida Religiosa e na espiritualidade, antigamente. Pelo contrário, é uma orientação para que não ponhamos o nosso valor nos títulos e honrarias vãs que a sociedade tanto aprecia, mas no serviço humilde aos irmãos e irmãs, unindo-nos à luta pelos oprimidos, que são humilhados pela sociedade de consumismo e opulência.

Ato contínuo, Jesus nos orienta sobre a gratuidade. Recomendando ao fariseu que ele não convide os que possam retribuir com outros convites, ele nos põe diante do exemplo do próprio Deus que é gratuidade absoluta. Novamente, os marginalizados servem como exemplo para o exercício de gratuidade. Temos muitas indicações na literatura daquele tempo que tanto a sociedade judaica como a greco-romana rejeitava este pessoal sofrido. Um documento dos Essênios de Qumrã elenca as categorias que serão proibidas de entrar no banquete escatológico: “os que têm problema na pele, com as mãos ou os pés esmagados, os aleijados, os cegos, os surdos, os mudos, os que têm defeito na vista ou que sofrem de senilidade...” A lista lucana adiciona a categoria “os pobres”. Sabemos que na literatura judaica “os pobres” era muitas vezes a designação usada para Israel e especialmente para os eleitos dentro de Israel. Então Lucas está usando de ironia - mostrando que os verdadeiros eleitos não são os que a sociedade assim considera, mas os realmente pobres, marginalizados e sofredores!

O discípulo, “convidando-os”, ou seja, relacionando-se com eles como igual para igual, não receberá deles a retribuição. Eles não terão com o que retribuir, e assim seremos como Deus, que nos ama sem esperar algo em retorno. Assim, estaremos colocando a nossa confiança na gratuidade de Deus e não agindo de um modo calculista, como tanto se prega hoje: “é dando que se recebe”, como dizem os politiqueiros cínicos, como também alguns pregadores cristãos, interessados no acúmulo de dinheiro.

A imagem do banquete é simplesmente um símbolo. A história nos desafia para que examinemos as nossas motivações mais profundas, para que busquemos o serviço aos irmãos, e para que aprendamos de Deus, que é o Amor Gratuito por excelência.

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FESTA DA ASSUNÇÃO (21.08.16)

Lc 1, 39-56

“Você é bendita entre as mulheres”

O evangelho da festa de hoje tem duas partes bem distintas: o encontro entre Maria (grávida de Jesus) e Isabel (grávida de João), e o Canto do Magnificat.

Para entender o objetivo de Lucas em relatar os eventos ligados à concepção e nascimento de Jesus, é essencial conhecer algo da sua visão teológica. Para ele, o importante é acentuar o grande contraste, e ao mesmo tempo a continuidade, entre a Antiga e a Nova Aliança. A primeira está retratada nos eventos ligados ao nascimento de João, e tem os seus representantes em Isabel, Zacarias e João; a segunda está nos relatos do nascimento de Jesus, com as figuras de Maria, José e Jesus. Para Lucas, a Antiga Aliança está esgotada, deu tudo que podia dar - os seus símbolos são Isabel, estéril e idosa, Zacarias, sacerdote que não acredita no anúncio do anjo, e o nenê que será um profeta, figura típica do Antigo Testamento. Em contraste, a Nova Aliança tem como símbolos a virgem jovem de Nazaré que acredita e cujo filho será o próprio Filho de Deus. Mais adiante, Lucas enfatiza este contraste nas figuras de Ana e Simeão, no Templo (Lc 2, 25-38), especialmente quando Simeão reza: “Agora, Senhor, conforme a Tua promessa, podes deixar o teu servo partir em paz. Porque meus olhos viram a tua salvação” (2, 29)

Por isso, não devemos reduzir a história de hoje a um relato que pretende mostrar a caridade de Maria em cuidar da sua parenta idosa e grávida. Se a finalidade de Lucas fosse somente mostrar Maria como modelo de caridade, não teria colocado o versículo 56, que mostra ela voltando para a sua casa antes do nascimento de João. Também não é verossímil que uma moça judia de mais ou menos quatorze anos enfrentasse uma viagem tão perigosa como a da Galiléia à Judéia! A intenção de Lucas é literária e teológica. Ele coloca juntas as duas gestantes, para que ambas possam louvar a Deus pela sua ação nas suas vidas e para que fique claro que o filho de Isabel é o precursor do filho de Maria. Por isso, Lucas tira Maria de cena antes do nascimento de João, para que cada relato tenha somente as suas personagens principais: de um lado, Isabel, Zacarias e João; do outro lado, Maria, José e Jesus.

O fato que a criança “se agitou” no ventre de Isabel faz recordar algo semelhante na história de Rebeca, quando Esaú e Jacó “pulavam” no seu ventre, na tradução da Septuaginta de Gn 25, 22. O contexto, especialmente versículo 43, salienta que João reconhece que Jesus é o seu Senhor. Iluminada pelo Espírito Santo, Isabel pode interpretar a “agitação” de João no seu ventre - é porque Maria está carregando o Senhor.

As palavras referentes a Maria: “Você é bendita entre as mulheres, e bendito é o fruto do seu ventre” (v. 42) fazem lembrar mais duas mulheres que ajudaram na libertação do seu povo, no Antigo Testamento: Jael (Jz 5, 24) e Judite (Jt 13,18). Aqui Isabel louva a Maria que traz no seu ventre o libertador definitivo do seu povo.

Vale destacar o motivo pelo qual Isabel chama Maria de “bem-aventurada” (v. 45): “Bem-aventurada aquela que acreditou”. Maria é bendita em primeiro lugar, não por sua maternidade, mas, pela fé - em contraste com Zacarias, que não acreditou. Assim, Lucas apresenta Maria principalmente como modelo de fé. Já no relato da Anunciação, Maria expressou essa fé quando disse “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (v. 38). Assim, ela aceita não somente ser a mãe do Senhor, mas a protagonista da construção de uma sociedade de solidariedade e justiça, tão almejada por Deus. Por isso, Lucas faz uma releitura do Canto de Ana (1Sm 2, 1-10) e coloca nos lábios de Maria o canto do Magnificat, em sintonia com a espiritualidade secular dos Pobres de Javé, que, desprovidos de qualquer poder, põem a sua esperança em Deus, que “dispersa os soberbos de coração, derruba do trono os poderosos e eleva os humildes; aos famintos enche de bens, e despede os ricos de mãos vazias” (vv. 51-53). Longe de ser uma figura passiva, a Maria deste capítulo é modelo para todos que assumem a luta em favor de uma sociedade alternativa, de partilha, solidariedade e fraternidade, o projeto de Deus.

Podemos também acrescentar que neste capítulo primeiro nós encontramos as frases da primeira parte da oração da “Ave Maria”: “Ave Maria” (Lc 1, 28), “Cheia de graça” (Lc 1, 28), “O Senhor é convosco”(Lc 1, 28), “Bendita sois vós entre as mulheres” (Lc 1, 42), “Bendito o fruto do vosso ventre” (Lc 1, 42), que demonstra que, quando tratada com fundamento bíblico, a figura de Maria não é empecilho para uma caminhada ecumênica, pois, a Escritura a aponta como modelo de fé para todos nós!

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VIGÉSIMO DOMINGO COMUM (14.08.16)

Lucas 12,49-53

“Eu vim para lançar fogo sobre a terra”

A Bíblia diz que Deus criou o homem e a mulher em sua imagem e semelhança (Gn 1, 26) - mas na verdade, somos nós que muitas vezes criamos um Deus em nossa imagem e semelhança. Projetamos sobre Deus os nossos desejos, projetos e características, para que Ele não nos incomode. Algo semelhante se dá com Jesus. Muitas vezes projetamos uma imagem de um Jesus inócuo, que não incomoda, para que Ele não nos amole, não nos desinstale!

Estes versículos desafiam a ideia comum de um Jesus calmo, passivo e sem projeto transformador. Ele mesmo diz: “Eu vim para lançar fogo sobre a terra” (v. 49). “Vocês pensam que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu lhes digo, vim trazer divisão”(v. 51). Com certeza estas não são declarações de um Jesus quase efeminado - o de tantas estampas e imagens! O que Ele queria dizer com estas palavras?

O fogo que Ele trouxe sobre a terra era o fogo do Reino. O Reino é algo tão novo, tão inovador, que só pode queimar os preconceitos e projetos contrários a Ele. Também ele faz arder o coração de quem o assume, queima por dentro, como Jeremias dizia da Palavra de Deus. Quem encontra este Reino não pode fugir das suas consequências. Como reza o canto “O Profeta”: “Como escapar de ti, como não falar, se a tua voz arde em meu peito? Como escapar de ti, como não falar se a tua voz me queima dentro?”

A chegada do Reino não traz acomodação, mas, é a manifestação da crise mais aguda da história humana. Diante d’Ele não é possível ficar neutro. Todos e todas terão que optar - ou a nossa vida e os nossos projetos serão coerentes com o Reino de Deus e o projeto de Deus revelado na história e na Bíblia, ou serão contrários. Por isso, a carta aos Hebreus diz claramente que: “A palavra de Deus é viva, eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes; ela penetra até o ponto onde a alma e o espírito se encontram, e até onde as juntas e medulas se encontram” (Hb 5, 12)

Jesus tem clareza que a sua dedicação ao Reino vai encontrar a oposição dos grupos privilegiados, os donos do poder, seja ele o poder político, o poder econômico ou, tantas vezes, o poder religioso. Por isso, prediz que teria que passar por um “batismo” - não o da água, mas do fogo, do sofrimento, que purifica como o ouro é purificado no crisol. O mesmo acontece com os e as profetas de hoje – é só olhar a oposição enfrentada pelo Papa Francisco da parte de setores ultraconservadores da Igreja, infelizmente incluindo muitos jovens padres e seminaristas, e por tantos líderes populares, que pagam até com a vida as suas posições em favor dos explorados.

Como reconciliar o Jesus da paz com a frase que diz que Ele não veio trazer a paz, mas, a espada? De novo nós esbarramos com o problema das línguas. Pois Jesus falava em aramaico, Lucas escreveu em grego, e nós lemos o Evangelho em português! A palavra “paz” é muito ambígua! Cada um a entende como quer. Por isso, no auge das ditaduras, tanto da direita como da esquerda, falava-se em “paz”, pois a repressão impedia qualquer manifestação de dissidência! Para outros, “paz” somente significa a ausência de briga! Nestes conceitos, o lugar mais pacífico de uma cidade seria o cemitério municipal, pois os defuntos não brigam!!

Mas, não foi esta a paz que Jesus veio trazer. Ele trouxe o “Shalom” - a paz que só Deus pode dar. A paz que nasce na medida em que se vive a justiça do Reino. Pois, sem justiça, a paz aparente não passa de engano e falsidade. O shalom, a paz de Deus não é somente ausência de briga, mas existe na medida em que todos gozem de tudo que é necessário para uma vida digna. Frequentemente é o contrário à exploração institucionalizada, que gosta de se apresentar como “paz”, “ordem” e “progresso”.

Para enfatizar a crise que o Reino acarreta, Jesus fala que as próprias famílias ficarão divididas, pois ninguém escapa da decisão. Realmente, isso logo aconteceria com os cristãos judaicos, quando foram expulsos da sinagoga, e as famílias se racharam por causa da adesão ou não à pessoa e ao projeto de Jesus. Pode bem acontecer que nós também tenhamos que perder amizades, relacionamentos, prestígio, sem falar de negócios e poder, se nós optarmos pelo seguimento de Jesus! Lucas quer nos animar nestes momentos, pois fazem parte da aceitação do Reino. O discípulo não é maior do que o mestre, e se Jesus teve que passar por este batismo, que custou muito, nós, os seus seguidores, podemos esperar que possamos ter a mesma experiência!

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DÉCIMO NONO DOMINGO COMUM (07.08.16)

Lucas 12, 32-48

“Onde está o seu tesouro, aí estará também o seu coração”

Esse trecho do capítulo doze retoma em grande parte o tema do domingo anterior - a questão do relacionamento do cristão e da comunidade com os bens materiais. A comunidade cristã é caracterizada como “pequeno rebanho” - certamente pequena diante da força e enormidade do sistema do Império Romano. Aqui não é tão importante a sua pequenez em termos numéricos, mas em termos da sua importância e força dentro da sociedade - a fraqueza dela é gritante, e devia ter provocado insegurança e medo em muitos dos seus membros. Por isso, as palavras de encorajamento: “Não tenha medo, pequeno rebanho, porque o Pai de vocês tem prazer em dar-lhes o Reino” (v. 32).

O rebanho não tem muitos bens materiais, mas terá os bens mais importantes - os do Reino. Esta ideia nasce do versículo anterior a este trecho: “Busquem o Reino d’Ele e Deus dará a vocês essas coisas em acréscimo” (v. 31). Estes bens virão na medida em que a comunidade vive a partilha, ou seja, se coloca na contramão de uma sociedade de ganância e exploração, repartindo o que tem. Retomando o tema do último domingo, Jesus adverte: “De fato, onde está o seu tesouro, aí estará também o seu coração” (v. 34).

Esse último versículo nos desafia a fazermos uma meditação mais profunda sobre os valores da nossa vida. Onde - realmente, e não teoricamente - está o meu tesouro? Em que eu de fato ponho a minha confiança? Sobre o que estou baseando a minha vida? Qual é a minha experiência prática de partilha? Quais são os verdadeiros tesouros da minha vida?

Em seguida, Lucas nos coloca diante das exigências de vigilância e responsabilidade. Embora muitas vezes se interprete este trecho sobre a vinda do Senhor em termos do “fim do mundo”, ou referindo-se ao momento da nossa morte, realmente esses versículos têm uma abrangência muito maior. A ênfase não está no fim, mas na atitude que nós devemos ter sempre em nossa caminhada. Sempre devemos estar alertas, para não perdermos o momento de Jesus passar em nossa vida. Ele chega para nós, não somente na hora da nossa morte, muito menos no fim do mundo, mas todos os dias, nas pessoas, nos acontecimentos da nossa realidade, na comunidade em que vivemos. Jesus aqui exige uma atitude de busca permanente do Reino, através de uma vida de serviço fraterno. Como diz o teólogo José Pagola no seu livro sobre Lucas, “é surpreendente a insistência com que Jesus fala da vigilância. Pode-se dizer que Ele entende a fé como uma atitude vigilante que nos liberta do absurdo que domina muitos homens e mulheres, que andam pela vida sem meta nem objetivo nenhum” (Pagola “O caminho aberto por Jesus” Vozes p. 213)  Os versículos 41-46, e o fato que a pergunta é feita por Pedro, porta-voz dos líderes da comunidade em Lucas, indicam que a mensagem aqui é dirigida em primeiro lugar aos que têm a função de dirigente na comunidade. Os dirigentes cristãos não têm estes ofícios para exercer um poder, para dominar, mas muito pelo contrário, para melhor servir. Somos alertados para que não deixemos a corrupção do poder tomar conta da nossa vida. Como os dirigentes das comunidades têm consciência dos seus deveres, muito mais ainda é a sua responsabilidade: “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido” (v. 48).

Aqui o trecho alarga a sua visão para incluir não somente uma possível corrupção do projeto cristão através do apego aos bens materiais, mas também através do apego ao poder, quando este é usado não como serviço, mas como dominação e projeção pessoal por parte dos dirigentes cristãos. Talvez, não haja corrupção mais sutil do que a do poder, manifestada em carreirismo, autoritarismo e auto-projeção dentro das Igrejas. Vale a advertência já feita no século XIX pelo historiador católico inglês, Lord Acton: “Todo o poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente!”

Lucas convida a todos, especialmente os dirigentes, à vigilância, para que o nosso verdadeiro tesouro seja o serviço fraterno, como concretização do projeto de Jesus, e não a ganância, o poder, a dominação.

 

Jornalismo com ética e solidariedade.