Canção do exílio
Minha terra é um cubo de amplidão
de profundidade, de espaço,
de distâncias sem limites.
Tem muitas frutas, como o cupuaçu,
o açaí e o bacuri. Os sorvetes da minha terra
são gostosos e podem ser encontrados
na Estação das Docas em frente à baía do Guajará.
Os pássaros que cantam na minha terra
são o casal de canarinho de meu pai.
O macaco que pula na minha terra
é o Chico que morreu de gordo.
Os jabutis da minha terra
são os que conheci no quintal de minha infância.
As jabotas da minha terra são
as que almocei na casa da Pitó.
Os sucos de fruta da minha terra
são os que tomei na casa da Nila.
Lá na minha terra a gente podia dormir,
mesmo com os carapanãs.
Podia dormir porque alguém cuidava deste sono
organizando-nos os mosquiteiros.
Os sururus da minha terra ainda estão hoje lá
no Porto de Santa Bárbara, em Benevides.
Minha terra não me sufoca.
Nela não corro o risco de me afogar
porque cedo aprendi a nadar
com o Minossauro do Bené
que me dizia: “Embaixo d´água?
Meu Deus, quantas coisas existem!
O que me dizem dos peixes?
Das plantas? Das corredeiras e correntezas?
O que me dizem dos remansos?
Das águas vivas, das águas escuras,
das águas claras, cristalinas e barrentas?
Já viram o sol, alumiar todas as águas?
Já viram o vento trocar o tamanho e a cor de um
lago
só de um golpe? Já viram o limo? Já viram o limo
verde
de manhã quando o sol nasce?"
Ai quem me dera tomar um açaí agora,
almoçar um pirarucu cozido e lanchar
uma unha de caranguejo na Abelhuda.
Maria do Carmo Pereira Coelho
Brasília 22 de maio de 2007
Sobre a escritora e professora universitária
Maria do Carmo Pereira Coelho,
ler também:
http://www.theresacatharinacampos.com/comp6975.htm
http://theresacatharinacampos.com/comp6958.htm
http://www.theresacatharinacampos.com/comp6992.htm
Em 22 de outubro de 2017, Theresa Catharina
de Goes Campos escreveu:
Estimada Maria do Carmo:
Sua Canção do Exílio é muito autêntica nas
descrições, além de original.
(...)
Theresa Catharina de Góes Campos
De: Agnes M. Altmann
Data: 30 de outubro de 2017
No meu torrão amazônico temos mesmo muitas
frutas nativas, hoje mais produto de exportação
para outros estados do Brasil e do mundo, que em
nossas próprias cidades amazônidas...
Agnes Altmann
de Santarém - Tapajós-
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