Theresa Catharina de Góes Campos

     

“ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA”

Este é o título do artigo da jornalista Cida Barbosa no Correio Braziliense de hoje, 13 de julho. Cida é uma lutadora pelo direito das crianças serem felizes e, portanto, uma incansável ativista contra os abusos e a violência sexual infantil. Seu artigo de hoje é de uma imensa lucidez e se os pais deste país o lessem com atenção, estariam mais preparados para lutarem pelo amadurecimento e felicidade de seus filhos. Não os deixando passar por experiências ignóbeis e totalmente destrutivas para seu amadurecimento como pessoa.

Cida analisa o mais recente caso de abuso e violência infantil. Cada vez mais frequentes no DF: o do catequista e treinador de futebol, sem emprego, vivendo às custas da mulher, que há 26 anos abusava de crianças. A começar as da família. E, depois, as da Igreja e dos times de futebol. Todo mundo estranhava sua convivência frequente com aos meninos, mas se deixavam impressionar pelas aparências. Além disto, ele abordava as crianças afirmando que o que fazia era brincadeira. As maiores poderiam desconfiar de que algo estava errado. Porém as menores não tinham noção de que eram abusadas. Embora pudessem sentir desconforto.

Os pais precisam reconhecer quando estão diante destas situações. Que incluem, parentes, professores ligados ao esporte e babás, entre outros. Ninguém deve estar excluído de uma investigação, antes de serem incluídos no círculo de cuidados das crianças. Quem é esta pessoa, quem pode atestar sua capacidade e honestidade profissional, sua experiência. Quem é sua família? É bem constituída ou apresenta problemas sérios?
Cida explica com objetividade que os pais devem estar atentos aos sinais que as crianças podem apresentar e que, muitas vezes, podem ser confundidos com birra, manha ou manipulação. Elas, mesmo as menores, sentem que algo não está bem. São estimuladas sem seu pequeno corpo estar preparado. E de uma forma abjeta. E serem convencidos de que se trata de uma brincadeira. Que não deve ser dita aos pais e responsáveis. Estejam atentos, portanto, não se omitam por ignorância ou arrogância. Crianças abusadas ficam agressivas, têm reações incontroláveis de frustração, podem roer unhas de ansiedade, mostram-se tímidas, sofrerem de insônia ou falta de apetite. Se alguém mais próximo as aborda para saber alguma coisa, elas podem negar. Controladas pela figura que as abusa com ameaças veladas sobre as “brincadeirinhas”.

Cida alerta para o fato de que os pais têm de manter diálogo com suas crianças. Para orientá-las na prevenção ou na descoberta das violações. ”Pais ou responsáveis devem explicar para elas, por exemplo, quais as partes do corpo que podem ou não ser tocadas por outras pessoas e questionar se alguém as trata de forma inadequada. Tem de ser conversas frequentes, mas cautelosas, é claro. ” No trato com os pequenos ninguém é confiável, até prova em contrário. E é nossa obrigação identificar as origens e o comportamento de quem cuida ou transita ao lado de nossos filhos.

É importante lembrar que uma criança feliz não rói unhas, não tem crises violentas de frustração. Ela é calma, tranquila, afável, desinibida, respondendo com naturalidade as perguntas que são feitas, dorme bem e mantém um apetite relativamente estável. Claro que isto não significa um mar de rosas. Ela vai ter seus momentos de testar limites, de se revoltar, de brigar pelo que quer. A depender de seu temperamento. Mas isto é saudável! Faz parte de seu amadurecimento. É diferente de sentir o tipo de tristeza, frustração e raiva dos pequenos, quando expostos a situações de estresse e abuso.

Cida faz um trabalho excelente! Principalmente porque, além de sua capacidade profissional, tem um espírito profundamente sensível ao sofrimento infantil. E não quer sucumbir à desesperança. Acredita que a sociedade considere prioridade absoluta o olhar e cuidar de suas crianças. E que pais se tornem cada vez mais responsáveis pelo desenvolvimento de seus filhos, atentos aos sinais de sofrimento, raiva, frustração e medo. Ignorar estes sinais é prejudicar seus filhos por toda a vida.
Lembrando, por fim, que a última vítima do pedófilo deste caso tinha quatro anos. Mas há relatos de abusos de bebês. Justamente pelos que estão próximos. Portanto, trata-se de uma guerra, na qual devemos descerrar nossos olhos da ignorância, da boa-fé excessiva. E despertarmos uma atenção infinda para nossos pequenos.

07/2019/ LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO

 

Jornalismo com ética e solidariedade.