Theresa Catharina de Góes Campos

     
O horror da corrupção institucionalizada

Todos os caminhos levam a Roma. Caminhos da corrupção, perpassando as entranhas da prática parlamentar brasileira, através de três níveis de atuação. No primeiro, o mais alto, são cobradas propinas para a elaboração ou mudanças em leis, que irão satisfazer os interesses de poderosos grupos econômicos. Incluindo também a ingerência direta no Executivo e nos recursos públicos, através da famosa ocupação de cargos de direção em ministérios e estatais. Relegando ao ostracismo os votos dos eleitores. No segundo plano, paralelamente, a partir da estrutura institucional, criam- se quantos benefícios e mordomias forem possíveis: verba indenizatória, emendas, auxílios diversos para moradia, comunicação, viagens e tantos outros. No terceiro nível, o inferior, especificamente relacionado ao gabinete de cada parlamentar, empregam-se cabos eleitorais sem limites quantitativos e racham-se os salários para maior ganho do chefe.

Todos os caminhos levam a Roma sim. Sem limites, sem fiscalização, sem transparência, verdadeiro escoadouro de recursos públicos. Em um país de Políticas Públicas que perderam sua eficácia e eficiência ao longo do tempo, transformando o cidadão em um pária. Cujo sistema educacional e de saúde é uma vergonha. E, em muitos lugares, o sistema de segurança mata mais do que os bandidos. Ao mesmo tempo que cresce a desigualdade social, aumentando os níveis de pobreza e o abismo entre o maior e o menor salário no Brasil.

Como é possível se conviver com um caso como o da Assembleia do Rio de Janeiro, a famosa ALERJ? Recentemente apresentado pela imprensa investigativa. Não nos causa indignação o fato de que havia mais de seis mil funcionários? Muito mais do que em uma grande empresa ou uma prefeitura? E funcionários sem o menor controle institucional, incluindo pessoas que nunca haviam trabalhado, residiam até fora do país e gozavam períodos ininterruptos de férias? Direito desconhecido na Legislação trabalhista? Como aguentarmos calados as desculpas vergonhosas de que se tratava de uma legislação antiga? Vergonhosa como a declaração de futuramente, talvez, instalar um sistema de ponto eletrônico? Como é possível indicarmos para uma Assembleia Legislativa pessoas de tal nível de caráter? Como conseguimos banalizar práticas tão desonrosas? E considerá-las coisas comuns?

A ALERJ talvez seja o exemplo do que acontece no resto do país. E uma pergunta não quer calar: quem controla o Legislativo? Independência dos poderes não deveria estar a serviço da corrupção. Do desvio incomensurável de recursos públicos, enquanto o povo mendiga. Não há sistema democrático que resista a este nível de comprometimento institucional, sem abalar estruturas ou provocar, mais cedo ou mais tarde, a revolta popular. Isto talvez explique, entre outros motivos, as recentes manifestações populares em alguns países vizinhos e alhures. Não podemos continuar vivendo no tempo das capitanias hereditárias. O Parlamento não está a serviço do enriquecimento ilícito dos políticos.

E, então, chegamos ao ponto crucial. Um povo iletrado, inculto e preso às velhas armadilhas da troca de favores com os políticos, escolherá mal seus representantes. Assim como os ligados aos interesses de grupos: religiosos, crime organizado, grandes empresas, sindicatos, etc. Ou seja, um Parlamento na fase oral de vida, voltado exclusivamente para seus interesses imediatos, corporativistas. Sem o senso maior de dignidade e trabalho pela coletividade. É disto que fala o caso da ALERJ. Deste canibalismo institucional, a extorquir recursos públicos com um discurso roto das desculpas desavergonhadas. (dez/2019)

LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO

 

Jornalismo com ética e solidariedade.