Theresa Catharina de Góes Campos

     
Revista Nikkei Bungaku #65
 
Date: qua., 27 de jan. de 2021 
Subject: [Kigo-BR] Revista Nikkei Bungaku #65

 

Haicaístas:

 

Está à venda o número 65 da revista bilíngue Brasil Nikkei Bungaku, publicada pela Associação Cultural e Literária Nikkei Bungaku do Brasil, com os haicais em português enviados por colaboradores de todo o país.

 

Em 2020, excepcionalmente, apenas dois números foram publicados em consequência das restrições decorrentes da pandemia do COVID-19.

 

A revista Brasil Nikkei Bungaku é uma publicação quadrimestral que originalmente divulgava a produção literária em língua japonesa da comunidade nipo-brasileira. Tem seções de contos, ensaios, crônicas, tanca, haicai, senryu e poesia livre, além de traduções de literatura brasileira para o japonês.

 

Hoje a revista também divulga trabalhos em língua portuguesa (haicai, conto, poesia e crônica), num espaço aberto à participação de todos os interessados.

 

A edição 65 tem 79 páginas em língua portuguesa. O editor da seção de língua portuguesa é o escritor André Kondo.

 

A editora da seção de língua japonesa é Michiyo Nakata.

 

Para adquirir um número, solicite pelo e-mail secretaria@nikkeibungaku.org.br

 

Nesta edição, foram selecionados e publicados 97 haicais de 25 autores, com temas de outono, selecionados por Edson Kenji Iura, que seguem abaixo.

 

 

***

 

beiral em silêncio –

a borboleta de outono

num gesto de asas

 

estrela cadente –

em minha terra natal

quem a terá visto?

 

noite na fazenda –

com o inseto cantador

inspiro e expiro

 

ainda no cais

aves e homens de pesca –

noite enluarada

 

diante da igreja

mais lento o sinal da cruz –

dia de outono

 

Alexander Pasqual

São José dos Campos, SP

 

***

 

Passa a correnteza –

O reflexo da libélula

o rio não leva

 

Na encosta do muro

o abacateiro estremece –

Um ploct no chão

 

Noite de luar –

Sob o teto de vidro

a cama arrumada

 

Domingo de sol –

A capivara caminha

no parque vazio

 

Um som de apito –

O vigia segue a lua

noite adentro

 

Alvaro Posselt

Curitiba, PR

 

***

 

 

Tempo de quaresma –

As imagens na Matriz

cobertas de roxo.

 

Silêncio na rua –

Só, sentado na varanda,

contemplo o luar.

 

Ao cair da tarde,

um bando de periquitos

pousado na antena.

 

À beira do córrego,

filhotes de capivara

no banho de sol.

 

Vigília Pascal.

A luz do círio, enfim,

rompe a escuridão.

 

Antônio Seixas

Magé, RJ

 

***

 

Domingo outonal –

Fecho os olhos para ouvir

barulho da chuva.

 

Friozinho de outono.

O barulho da goteira

atravessa a noite.

 

Um ventinho fresco

balança toalhas no varal –

folhas amarelas.

 

A chuva de vento

feito ondas no telhado...

noitinha de outono.

 

Barulho de lata

rolando pelo quintal –

Rajada de outono.

 

Benedita Azevedo

Magé, RJ

 

***

 

Ninguém mais nas ruas,

Em plena noite de sexta –

Outono avançado.

 

Céu azul profundo –

Apenas algumas aves

Ao longe esvoaçam.

 

Na trilha, após horas,

O alívio dos mochileiros –

Água transparente.

 

Logo ao despertar,

Brilho nos olhos da filha –

Ah, ovos de Páscoa.

 

Em toda a cidade,

Lembranças vivas da infância –

Flores-da-quaresma.

 

Carlos Alberto Bittar Filho

São Paulo, SP

 

***

 

Noite estrelada

Enfim, o Cruzeiro do Sul

no céu da metrópole

 

Cheiro de queimado

e ela de celular na mão

Arroz com quiabo

 

Também curvada

a minha mãe no jardim

Chuva-de-ouro

 

Para lá, para cá...

Aponta o bico indeciso

o beija-flor

 

Caqui marrento

A idosa discretamente

faz uma careta

 

Carlos Martins

São Paulo, SP

 

***

 

imensa tristeza

pela capoeira seca

vaga a cutia

 

maritacas passam

numa grande gritaria

o dia nublado

 

manhã de surpresa

flutuam nas poças d’água

flores da paineira

 

invade meus olhos

a lua cheia de outono

solidão imensa

 

casal de idosos

debruçados sobre a janela

tarde de outono

 

Carlos Viegas

Brasília, DF

 

***

 

Noite alongada...

Nostálgicas lembranças

dos que já se foram.

 

Enorme no céu...

Sob um profundo silêncio

Lua-desta-noite.

 

Janela entreaberta –

A iluminar os meus sonhos

a noite estrelada.

 

Estrela cadente!

Penso no que gostaria

e ela já se foi.

 

Acompanho outra

despedida de andorinhas.

Ah, voltem logo...

 

Cristiane Cardoso

São Paulo, SP

 

***

 

na casa do vizinho

o hino do time rival –

canto do papagaio

 

Domingo de Ramos –

vovó assiste à missa

pelo celular

 

porções de pinhão –

entre um assunto e outro

os potes vazios

 

a criança pergunta

o nome da árvore –

folhas amareladas

 

retorno do treino –

no meio do abacate

um pouco de mel

 

Daniel Morine

Santos, SP

 

***

 

Ilumina a noite,

Lua cheia no outono.

Vastidão do céu.

 

Danielle Ferreira Czmyr

Curitiba, PR

 

***

 

a casca se rompe:

aromas da mexerica

perfumam as mãos

 

Eduardo Hernandes

Brasília, DF

 

***

 

Surgem no horizonte

sob a luz da lua nova –

Tropeiros na estrada

 

Galhos a vergar

Cheios de café maduro –

Debulha está próxima

 

Praia abarrotada

em pleno meio da tarde –

Dia do Trabalho

 

Cheia de presentes

família chega de longe –

Sexta-feira Santa

 

Papagaio late

pra perturbar os cachorros –

Termina o silêncio

 

George Goldberg

Londres, Inglaterra

 

***

 

Renques de espatódeas,

cálices de boas-vindas –

Portal da fazenda

 

Robalo no espeto!

Alegres participantes –

"novelas" de pesca.

 

Uma linha móvel –

sombra no espelho marinho!

Aves de arribação.

 

Manacá-da-serra

em três cambiantes cores –

Perfumosas flores!

 

Vetusta paineira –

espinhos mil, flores raras!

O tempo esvaece...

 

Irene Fuke

São Paulo, SP

 

***

 

Lua de outono

no tronco da velha árvore

Nossas iniciais

 

Neste outono

o branco em meus cabelos

Nem percebi

 

Outro outono

na imagem do espelho

Vejo minha mãe

 

Lento entardecer

réstias do sol de outono

Nos pelos do cãozinho

 

Tardinha de outono

meus pés já quase sem ritmo

Seguem a trilha

 

Jô Marcondes

Irati, PR

 

***

 

Ruela esquecida

(ladra o cão, luar outonal)

alçapão às vezes

 

Lúcio Kume

São Paulo, SP

 

***

 

A chuva outonal

sobre a campa dos meus pais –

Também as lágrimas.

 

Subida da serra –

Somente os faróis dos carros

no denso nevoeiro.

 

Madrugada afora –

O cricrilar do grilo

e o ronco do avô.

 

Jardim abandonado –

No cântaro quebrado

flores de bonina.

 

Varanda do asilo –

Afaga as faces enrugadas

o vento de outono.

 

Mahelen Madureira

Santos, SP

 

***

 

Na varanda,

o descanso da leitura –

Última lua cheia.

 

No fundo da gaveta,

a receita da vovó –

Bolinhos de milho.

 

Aurora na praia –

Cortina balança ao sopro

do vento de outono.

 

As rugas da face

dourada por um instante –

Pôr do sol de outono.

 

Cai uma lágrima,

no álbum de fotografias –

Chuva outonal.

 

Maria Cristina Chinen Robertson

Santos, SP

 

***

 

Lago de outono...

no reflexo das nuvens

Casal de marrecos

 

Outro outono –

Na imensidão do campo

somente bois brancos

 

Sol de outono –

brilha sobre a pedreira

filete d’água

 

À porta da casa

a borboleta de outono –

discreta entre as flores

 

Manhã de outono,

desalinha os penteados

O forte vento

 

Matusalém Dias de Moura

Iúna, ES

 

***

 

Banco no quintal:

meu avô treme de frio

sob o sol do outono.

 

Maurício Cavalheiro

Pindamonhangaba, SP

 

***

 

Céu azul profundo –

Assobia sem querer

o velho ranzinza...

 

Reluz a manhã –

O som do sanhaço arisco

tão breve, tão claro...

 

Folhas amareladas –

O homem varre a calçada,

Pensamento longe...

 

Em torno das árvores,

a leveza das libélulas –

Nasce a manhã.

 

Cachepô antigo

na entrada do casebre –

Branca flor-de-maio...

 

Mônica Monnerat

Santos, SP

 

***

 

Olhos rasos d’água

procurando o filho ausente –

Dia das Mães no asilo.

 

Frio leve de outono –

Aquecimento mais forte

antes da corrida.

 

Paulo Cezar Tórtora

Rio de Janeiro, RJ

 

***

 

Canoa no mar –

Na rede do pescador

o brilho da Lua

 

Noite de outono –

Da cadeira na calçada

olhar de saudade

 

Colheita de arroz –

A canção dos camponeses

ecoa na aldeia

 

Noite de insônia –

No silêncio da varanda

o canto do grilo

 

Barraca na feira –

O maço de soja em rama

para o tira gosto

 

Regina Alonso

Santos, SP

 

***

 

De seu helicóptero,

fazendeiro sobrevoa

arrozal de outono.

 

Renata Paccola

São Paulo, SP

 

***

 

Sob o céu de outono

na superfície do lago

ocaso dourado

 

Início de outono

a natureza agradece

um caqui no chão

 

Vento leva as folhas

que enfeitam o jardim

lembranças do outono

 

Solange Firmino de Souza

Rio de Janeiro, RJ

 

***

 

A folha amarela

no meio de tantas outras –

belo envelhecer.

 

As cores do outono

Alegram o entardecer –

Hora de devaneio.

 

Sonia Rodrigues

Santos, SP

 

***

 

Abraços,

---

Edson Kenji Iura

kakinet@gmail.com

www.kakinet.com

 

 

Jornalismo com ética e solidariedade.