O Aviador - retrato de um investidor apaixonado
Theresa Catharina de Góes Campos

"O Aviador" (The Aviator - EUA, 2004 - scope - dolby digital - 170 minutos - de Martin Scorsese) retrata, com algumas licenças de criação artística, um investidor apaixonado pelas indústrias do cinema e da aviação: o magnata Howard Hughes (1905-1976), inquieto e torturado por suas ambições.

"...parece uma criança solta entre adultos, com o que a imagem traz de positivo e de negativo. Uma certa inconseqüência, por exemplo, o leva a contrariar o bom senso, desafiar regras de dois cartéis (o da indústria cinematográfica e o da aviação)" (Sérgio Rizzo). Sua determinação incontrolável faz com que Hughes enfrente o presidente da Pan Am e um senador corrupto.

Seu pai, inventor texano, deixou-lhe a herança que o transformou em milionário com apenas 18 anos.

Esta cinebiografia recebeu 11 (onze) indicações ao Oscar, dentre elas, nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (o protagonista Leonardo DiCaprio) e Melhor Atriz Coadjuvante (Cate Blanchett, que interpreta Katherine Hepburn).

O elenco tem atores experientes, como John C. Reilly, Alan Alda e Alec Baldwin.

Os destaques são: produção, direção, interpretação, roteiro; fotografia aérea e noturna,reconstituição de época, locações externas, pesquisa, trilha sonora, efeitos especiais, montagem, direção de arte, cenografia, figurinos, penteados, adereços, maquiagem, o trabalho dos dublês.

Logo depois da morte do pai, o jovem Howard Hughes mudou-se para Los Angeles, onde se interessou pela indústria do cinema (inclusive pelos filmes musicais), como investidor e produtor. Além de promover a carreira de Jean Harlow e outros artistas, também atuou em filmes de grande sucesso, como "Hell´s Angels", do qual foi diretor.

A paixão pela aviação se desenvolveu paralelamente a seu trabalho no cinema. E a seu envolvimento amoroso com as atrizes Katherine Hepburn e Ava Gardner, que depois tomaram a iniciativa de romper o relacionamento com ele. Personagens e situações documentam uma era em que havia muita experimentação técnica e busca do progresso tecnológico, impulsionadas pela inspiração artística.

Drama psicológico e de ação, realista e romântico, vai revelando a insanidade do visionário, vivendo uma loucura que realiza os seus sonhos. Uma insanidade que não abandona os seus sonhos e, projetando metas, desenvolve idéias e faz acontecer, apesar dos grandes e inúmeros obstáculos que se repetem no percurso de sua vida. Como se essas dificuldades fossem a moldura natural para as suas decisões. Desejo e volúpia que não se escondem. E são concomitantes à visão do grandioso. O humor de algumas cenas não disfarça a tragédia implícita na vida de Howard Hughes, figura pública e, contraditoriamente, solitária.

Na primeira cena de "O Aviador" estaria uma explicação para a mania de limpeza do milionário excêntrico. Que idealizou e transformou em realidade o avião de transporte" Hércules "; o avião-espião X - F11, em 1946; o avião "Constellation" e muitas outras novidades tecnológicas.

O mesmo homem que sofreu por amor...embora tenha manifestado desdém, ao dizer:

"Você é uma estrela de cinema, nada mais." (...) "Atriz é o que não falta na cidade."


E que também ouviu muitas vezes:

"Eu não estou à venda."

A surdez que o incomodava, o descontrole que o afastava das pessoas " normais ". As maluquices, as idiossincrasias. As alucinações rotineiras. As fobias reveladas com a exposição da personalidade do empresário. Ferido gravamente em acidente aéreo, com queimaduras em 78 por cento de seu corpo, e muitos outros ferimentos graves. A tudo isso se somavam as notícias ruins, como:

"A Força Aérea cancelou a encomenda do Hércules...Dizem que a guerra acabou e não precisam mais desse tipo de transporte." (...)

"Mas algo desse tamanho é capaz de voar?"

A narrativa retrata, igualmente, os interesses político-financeiros, a perseguição dos oponentes, a permanente exposição como assunto para a imprensa. As chantagens de que era vítima, no ambiente de corrupção política.

"O avião a jato - o caminho para o futuro. O caminho para o futuro." Palavras que Howard Hughes repete, com fisionomia transtornada ( na cena final ), mas demonstrando aquela convicção de quem somente a si mesmo se explica ou dá satisfação.