Theresa Catharina de Góes Campos

 
De: REYNALDO FERREIRA [mailto:reydferreira@hotmail.com]
Enviada: qui 8/12/2005 12:19
Assunto: Iguarias de Brasília

 
Vejam, amigos, como as iguarias de Brasília estão alcançando sucesso em terras paulistas!...Aliás, na festa da revista Roteiro, realizada segunda-feira, no CCBB, vimos como o setor de culinária da Capital da República está com tudo e muito prosa. Foi um sucesso a premiação. Muita gente elogiando a promoção que a revista comandou com o cartão Visa. Parabéns ao Dom Adriano II, da Dinastia dos Oliveira, editor da Roteiro. E parabéns também à Rita da Sorbé, pelos seus sorvetes à base de frutas do cerrado, como o pequi, o murici, a cagaita, etc, etc. Será que ela tem também a guapeva, de grande destaque no romance "Cangalha", de José Humberto Henriques, do qual fiz resenha -  "Belíssima Cangalha" - outro dia? Extensivos os cumprimentos ao Daniel Briand, também elogiado na matéria, que ora lhes repasso. Abs, RDF
From: "Ana Flavia Rocha"
To:
Date: Wed, 16 Nov 2005 15:07:46 -0200
Subject: Iguarias de Brasília
 
Querida Rita,
Segue em anexo a matéria que te falei. Quem a me repassou foi um grande amigo  e também um ótimo gourmet que está louco para vir pra Brasilia experimentar seu sorvete.
Sucesso sempre!
Abraços
Ana Flávia
 
ENQUANTO O LOBO NÃO VEM...
 
Por Carlos Alberto Dória *
Fotos Beatriz Marques
Mercado Floresta, no Ibirapuera, apresentou produtos artesanais, com destaque para iguarias de Brasília
 
Para um dos expositores, o público não era o esperado: "A comunicação com a imprensa que conta para essas coisas foi falha, de última hora". Na minha opinião, a imprensa simplesmente comeu bola. Anda muito escarrapachada no conforto das redações, sem saber astuciar. Só correndo atrás depois que a história já passou. Mas é assim mesmo no começo.

Mercado Floresta, uma mostra de produção artesanal dita "sustentável" que ocorreu na Oca do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, entre os dias 5 e 8 de novembro, cumpriu bem o seu papel ao revelar grandes potencialidades, apesar do público miúdo.

Entre vários produtos de qualidade desigual e com matérias-primas muitas vezes inéditas, destacam-se alguns pelo design, evidenciando que a floresta pode mesmo ser um mercado e tanto — com um pouco de inteligência aplicada para direcioná-la para a modernidade. Claro, na maioria das vezes é aquela coisa simples, suplicando atenção técnica especializada, redesenho de embalagens, carente de appeal. Como se fosse o artesanato da Praça da República, em São Paulo, que transbordou e se disseminou pelo Brasil.

Também havia algumas ONGs poderosas, representações de alguns governos de estados do Norte, a Embrapa, o Ministério da Agricultura, o do Meio Ambiente, alguns índios – enfim, a "nomenklatura" da floresta.

O capítulo gastronômico merece destaque. Muita coisa ingênua, naïf, mas também muita coisa forte, com futuro. O mel é talvez o capítulo mais bem estruturado. Mel em profusão, vários sabores, cores, aromas, conforme as floradas locais e as abelhas. Mel de abelhas sem ferrão, poucos. Cerca de 3 mil das 30 mil espécies de abelhas existentes no mundo encontram-se na Amazônia.

E chega a dar dó ver o quanto exploram a abelha européia! Como se ela fosse a única operária do mundo. Assim mesmo elas dão o melhor de si, capricham na escolha das flores. Ainda que os homens, como os do Sebrae, teimem em massacrá-las, centrifugando e filtrando seus meles, elas triunfam! São meles que nada ficam a dever àqueles já devidamente certificados que se compram em lojas gourmets pela Europa afora. Haverá um dia que abrirão espaço para o vôo das abelhas nativas, sem ferrão. Abrirão espaço nos corações e mentes da nomenklatura da floresta. Por enquanto, só os índios acreditam nelas, a julgar pelo excelente mel que trouxeram para o Mercado Floresta.

Mas o melhor mesmo esteve com o trabalho de frutas nativas. Tanto em sorvetes quanto em bombons. E as 2 novidades – quem diria! – vieram de Brasília. Um trabalho limpo, bem feito, de 2 artesãos que certamente não estão nem aí com as CPIs.

Ninguém agüentava mais aqueles bombons horríveis de cupuaçu, vindos de Belém. Apurei que o francês Daniel Briand, pâtissier e chocolatier, há 10 anos em Brasília, tornou-se famoso pelos seus croissants. Ele mesmo faz a massa, enquanto outros padeiros preguiçosos usam um preparado industrializado, parecido com massa folhada. E agora faz bombons com frutas nativas! Também não devia agüentar mais os de cupuaçu que, transbordando de Belém, já haviam conquistado Brasília.

Briand apresentou uma coleção de 10 bombons: não vi nada parecido em outras plagas nacionais. Os sabores? Mel de abelha sem ferrão, nougat de castanha-do-pará e baru, maracujá selvagem, bacuri com chocolate branco, praliné de castanha-do-pará, royale de pequi, manga com pimenta, açaí com pimenta, graviola, cajá ou murici – este também com chocolate branco. O incrível é que o chocolate em si não é lá essas coisas, mas o resultado é muito bom! Como um bom açougueiro que faz um bom bife de um boi ruim. Equilibrado, sem ser muito doce, feito com técnica apurada. Diria que o de bacuri, o de manga com pimenta e o de mel de abelha sem ferrão merecem uma ida a Brasília ou um telefonema, encomendando bem um ½ quilo para comer num domingo de chuva e DVD.

Outro trabalho exemplar é da sorveteira Rita Medeiros. Não tem nada a ver com açúcar em pedaços, meu amor! Pouquíssimo açúcar, quase fruta pura, como tem que ser. Eu, que achava que a única sorveteria digna de ser visitada no Brasil era a Cairu, em Belém, agora acho que são 2: a Cairu e a Sorbê, em Brasília , tocada pela simpática mineira Rita. E se a Cairu não tomar jeito, diminuir o açúcar, só restará Rita.

As frutas da Rita? Cagaita, jenipapo, jambo, buriti, jatobá, cajá, murici, cajuzinho do cerrado, macaúba, araticum, bacuri, mangaba, pequi, e outros mais que não me recordo. O de pequi, de buriti e macaúba são surpreendentes. Inesquecíveis. E ela me jurou que resistirá ao clamor popular por mais açúcar! Uma heroína, essa Rita.

Parece mesmo que um dos resultados do Mercado Floresta foi reinventar Brasília, através de Daniel Briand e Rita Medeiros. Quem não foi ao Mercado Floresta que fique ligado, pois ano que vem deverá ter mais.

Sorbê (CLN 405, bloco C, loja 41, Brasília, tel. 0xx61/3447-4158)
Daniel Briand pâtissier & chocolatier (SCLN 104, bloco A, lj. 26, Brasília, tel. 0xx61/3326-1135)

*Carlos Alberto Dória é sociólogo e ensaísta, autor de "Ensaios Enveredados" e "Os Federais da Cultura", entre outros livros.
 
Ana Flávia Rocha
ABRANDH - Ação Brasileira pela Nutrição e Direitos Humanos
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Jornalismo com ética e solidariedade.