Theresa Catharina de Góes Campos

 
De: "Notícias da ABN AGENCIA BRASILEIRA DE NOTICIAS"
Para: theresacatharina@terra.com.br
Data: 2 Dec 2005 02:29:07 -0000
Assunto: Imprensa/Judiciario: Presidente do STJ afirma: Precisamos estabelecer o diálogo com os meios de comunicação
Presidente do STJ afirma: Precisamos estabelecer o diálogo com os meios de comunicação

RIO DE JANEIRO - O Poder Judiciário precisa estabelecer um diálogo com os meios de comunicação. A proposta foi apresentada pelo presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Edson Vidigal, no seminário "O Poder Judiciário e a Mídia", promovido pela Escola da Magistratura Regional Federal da 2ª Região, nessa cidade. De acordo com o ministro, o Judiciário deve estabelecer parceria com as empresas de comunicação para que possa fazer chegar à sociedade as decisões dos juízes.

Por sua vez, o presidente do STJ explicou que os magistrados devem ter em mente que a Constituição Federal prevê que os processos devem ser públicos no sentido mais amplo. Ou seja, deve haver mudança da cultura de que "o juiz só fala nos autos". Para o ministro, devem ser mantidos em segredo de justiça apenas questões que sejam de natureza de família ou de relevante interesse público.

"Temos que tirar da cabeça a idéia de que o que está no processo só pertence às partes", disse o ministro Vidigal.

Judiciário e a Mídia

O seminário "O Poder Judiciário e a Mídia" foi aberto pelo presidente do Tribunal Regional Federal (TRF) da 2ª Região, desembargador federal Frederico Gueiros, que destacou a importância da iniciativa da Escola da Magistratura. O ministro Vidigal iniciou a palestra informando que trouxe para a magistratura a experiência das redações de jornais e revistas, onde trabalhou antes de se formar em Direito pela Universidade de Brasília (UnB).

Para o presidente do STJ, tal fato lhe permitiu transportar aos relatórios e votos dos processos um texto de melhor entendimento por parte das pessoas. Ele acha que esse exemplo deveria ser seguido pelos juízes, ou seja, que tenham uma redação que se assemelha aos textos jornalísticos. "O jornalista trabalha com prazo para fechar suas matérias", afirmou.

O ministro Vidigal disse que o Poder Judiciário, atualmente, é aquele que se mantém mais distante da mídia e, como conseqüência, as suas decisões são repassadas para a população com mais dificuldade. O presidente do STJ explicou que, enquanto isso, o Legislativo e o Executivo "estão mais próximos dos holofotes".

O presidente Vidigal informou também do período em que trabalhou na sucursal do Jornal do Brasil, em Brasília, na cobertura dos tribunais superiores, quando decidiu cursar Direito. Ele argumentou que, como jornalista, acompanhava o desempenho do jurista Heleno Fragoso, em julgamentos no Superior Tribunal Militar (STM).

Segundo o ministro, a relação entre juízes e jornalistas nos dias atuais é de desconfiança recíproca e que, por esse motivo, avalia que os magistrados devem estabelecer "uma relação de confiança", trazendo os jornalistas para os respectivos gabinetes. Nesse instante, o ministro Vidigal se valeu da Constituição Federal para ilustrar a importância da transparência do Poder Judiciário.

"É importante compreender que o contribuinte tem o direito de ser bem informado", afirmou. Segundo o ministro, "o bem informado" deve ser entendido de forma mais ampla. Para ele, não adianta apenas abrir as portas das salas de julgamento para que o público tenha acesso. O presidente do STJ citou como exemplo as missas que eram celebradas no idioma latim. As pessoas entravam nas igrejas e não entendiam aquilo que os padres estavam dizendo.

"Esse seminário é um indicativo positivo. Temos que ensinar o magistrado a escrever como os jornalistas", assinalou.

O ministro sugeriu que as escolas de magistratura ofereçam cursos de redação. Como contrapartida, defendeu que os jornalistas acompanhem mais de perto as atividades dos tribunais. O presidente do STJ pensa em permitir que os profissionais de comunicação façam uma espécie de estágio no STJ nos meses de janeiro e julho, seguindo o mesmo modelo dos estudantes dos cursos de Direito.

Frente da cidadania

Ainda na palestra, o ministro explicou que algumas empresas de comunicação não publicam a verdade dos fatos. Ele mostrou para a platéia uma página da edição de hoje (1º) do jornal Folha de S. Paulo, onde empresas e o governo do Estado do Paraná questionam a veracidade de reportagem publicada numa revista especializada em economia. Segundo o ministro Vidigal, questionar a credibilidade da publicação é uma forma de atacar um dos maiores patrimônios da empresa.

"Nós precisamos fazer uma frente da cidadania para combater a leviandade em alguns meios de comunicação" defendeu o ministro.

O presidente do STJ questionou a iniciativa de um procurador da República de tentar quebrar o sigilo telefônico de jornalistas brasileiros para identificar as fontes de matérias publicadas na mídia. Segundo ele, é importante que se esteja atento para aquilo que diz o artigo 5º da Constituição Federal.

O ministro Vidigal lembrou que meses atrás, num artigo de sua autoria publicado no jornal Folha de S. Paulo, com o título Viva o Brasil!, ele lembrava que não havia jornalista preso e sequer existia indicativo de intervenção do Estado em empresas de comunicação. Naquela ocasião, o foco era a prisão de uma jornalista do New York Times, que não revelou a identidade da fonte para uma matéria publicada por outro jornalista.

De lá para cá, segundo explicou, um juiz em Teresina (PI), fechou o site Portal AZ e sentenciou a prisão do proprietário José Arimatéia de Azevedo. E, neste momento, há essa mobilização do Ministério Público para a identificação de fontes dos jornalistas brasileiros. Para o presidente, tal situação não ajuda em nada.
02/12/2005 - Sexta - 00:29:07 - Editoria: Imprensa/Judiciario
 
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